«Somos orgulhosos embaixadores da Bayer»
Maria João de Deus Lourenço, directora de RH da Bayer, conta a história da empresa que tem 102 anos de presença em território nacional, onde emprega 300 colaboradores e apenas 12 são contratados a termo.
Por TitiAna Amorim Barroso
A Bayer faz parte das empresas com melhor reputação no mercado e os inquéritos internos registam índices elevados de comprometimento. «Este círculo virtuoso traz uma responsabilidade acrescida a todos os que trabalhamos nos RH e procuramos desenvolver, cada vez mais, o talento dos nossos colaboradores», quem o diz é Maria João de Deus Lourenço, DRH da Bayer.
«O objectivo é assegurar estabilidade a todos os que trabalham na Bayer, por essa razão 96% dos colaboradores têm um vínculo permanente», acrescenta a DRH, que nos faz o retrato da Bayer. Salienta, também, «o ambiente que se vive na Bayer Portugal, a forma como os líderes comunicam e gerem as equipas, a autonomia que é dada a cada colaborador, a tolerância face ao erro ou as hipóteses de progressão dentro da organização. E é, sobretudo, aí que os RH e o Management da Bayer desenvolvem a sua missão», sublinha.
A Bayer desenvolve a sua actuação em três áreas: Saúde, Alimentação e Protecção de Culturas, e Materiais de Alta Tecnologia. Em Portugal, no ano de 2010, as vendas da Bayer foram de 174 milhões de euros, contribuindo o segmento da saúde com uma parcela generosa de 60%. No mercado farmacêutico, concorrencial e pulverizado, dispõem de uma quota de mercado de 3%, que ainda assim a coloca no top 10 da indústria farmacêutica, sendo a Bayer líder incontestada na área saúde da mulher. Alcançaram também a liderança em diversas áreas ligadas à protecção das culturas, sendo a Bayer CropScience líder no sector da vinha.
HR: A Bayer estabeleceu-se em Portugal, em 1909. Hoje emprega 300 colaboradores no País e apenas 12 são contratados a termo. No ano passado e este ano, registaram-se quantas admissões e turnovers de saída?
Maria João de Deus Lourenço: A Bayer prima por garantir estabilidade a todos quantos trabalham na empresa, por essa razão 96% dos colaboradores têm um vínculo permanente connosco. O ano passado foram admitidos sete novos colaboradores e apenas um saiu antes do final de 2010. Por regra, a retenção dos nossos quadros é elevadíssima, rondando mesmo os 100%. Este ano e para reforçar a equipa do departamento Médico, acabámos de recrutar duas assessoras científicas que nos ajudarão a solidificar a nossa missão –“Science For a Better Life”.
HR: Como decorrem os processos de recrutamento?
Maria João de Deus Lourenço: Por uma feliz sucessão de licenças de maternidade estamos agora a terminar o recrutamento de técnicos regulamentares que substituam, transitoriamente, as jovens mães. Os processos de recrutamento são momentos essenciais para nós, pois são o primeiro passo para dar continuidade ao nosso sucesso a médio e longo prazo. Os recrutamentos têm sempre a participação dos RH e do manager que lidera o departamento que está a recrutar. Além das habituais entrevistas que estendemos às referências disponibilizadas pelos candidatos, procuramos, muitas vezes, desafiá-los através de um role play. Neste exercício podemos observar as suas competências num contexto próximo à função que desenvolverão, aumentando as nossas hipóteses de encontrar o candidato que melhor fit tem com a posição, com a equipa e com os valores da empresa. Depois de seleccionado o candidato, temos um programa de acolhimento intensivo que terá as suas especificidades consoante as responsabilidades e a formação necessária ao exercício da função. O plano contemplará uma conversa livre com o nosso director-geral, [NR: João Barroca], que faz sempre questão de participar activamente no acolhimento dos novos colaboradores, uma viagem pelas áreas transversais à Bayer e uma formação obrigatória sobre a política de compliance da empresa.
HR: Qual o perfil dos colaboradores?
Maria João de Deus Lourenço: Qualquer que seja o departamento em que se integram ou as funções que têm a cargo, os colaboradores da Bayer buscam a excelência no trabalho que desenvolvem. Esta excelência é fruto não só da qualidade e do rigor técnico do seu trabalho, mas também da atitude que manifestam nas relações quotidianas com clientes e parceiros de negócio. Todos temos consciência da importância da nossa marca e todos somos orgulhosos embaixadores da Bayer. É por essa razão que ano após ano, em Portugal, a Bayer faz parte das empresas com melhor reputação no mercado e que os surveys internos registam índices elevadíssimos de comprometimento. Estamos alinhados com a nossa missão e os nossos valores e isso é percepcionado por todos os que entram em contacto connosco e, consequentemente, com a marca Bayer. Este círculo virtuoso traz uma responsabilidade acrescida a todos os que trabalhamos nos RH da Bayer e procuramos desenvolver, cada vez mais, o talento dos nossos colaboradores.
HR: Desenvolver pessoas é uma das grandes missões do gestor de RH. Como actuam nesta área?
Maria João de Deus Lourenço: Nessa construção, os RH têm presente que o desenvolvimento só se fará se os colaboradores estiverem comprometidos com a empresa e se sentirem, genuinamente, felizes com aquilo que estão a fazer. Partindo destes pressupostos, a Bayer dispõe de um programa de desenvolvimento integrado que contempla, entre outras áreas, a formação. Aí, durante 2010, a Bayer Portugal investiu em média 500 euros e 62 horas de formação por cada colaborador, abrangendo áreas tão distintas como o treino científico, técnico ou comportamental. Além do investimento financeiro – que é significativo face a um universo tão expressivo de colaboradores – o crescimento profissional das nossas equipas é um compromisso partilhado pelos RH e pelos managers da Bayer e que ultrapassa as fronteiras da formação. Recorremos, frequentemente, ao coaching, ao mentoring ou aos job assignments e há dois anos criámos o projecto “People For a Better LIFE”, onde promovemos o auto-conhecimento e, conjunto com as chefias directas, costumizamos planos de desenvolvimento para os colaboradores.
HR: Desta empresa já saiu um Prémio Nobel na área da Medicina, professor Gerhard Domagk, distinguido pelo seu trabalho de pesquisa sobre os efeitos anti-bacterianos das sulfamidas. Qual o valor alocado para Inovação & Desenvolvimento? O que preparam, de momento, nesta área?
Maria João de Deus Lourenço: O nosso posicionamento e propósito enquanto empresa é “Bayer: Science For a Better Life”. A inovação faz parte integrante do nosso ADN e os reconhecimentos de que temos sido alvo são, afinal, o resultado natural desse esforço para que a ciência melhore a vida das pessoas. Desta empresa também saiu outro Prémio Nobel na área da Química, Adolf Butenandt, em virtude do trabalho pioneiro desenvolvido no campo das hormonas sexuais. Mais recentemente, em 2010, o nosso produto anticoagulante, o Rivaroxabano recebeu também a distinção da comunidade científica, através do Prémio Galien International, na categoria de Best Pharmaceutical Agent, pelos avanços que permitiu na prevenção e no tratamento do tromboembolismo venoso. O ano de 2010 foi também para o Grupo Bayer um ano recorde em termos de investimento em Inovação e Desenvolvimento: investimos, pela primeira vez na nossa história, 3 mil milhões de euros na pesquisa de moléculas inovadoras. Em curso, na Bayer Healthcare, estão previstos lançamentos de medicamentos inovadores nas áreas da oncologia, hipertensão pulmonar e oftalmologia.
Apesar de em Portugal não existir uma unidade de pesquisa própria, a Bayer vem apostando de forma crescente na investigação clínica, com um investimento anual médio próximo a 1 milhão de euros. Além disso, desenvolvemos parcerias com o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET), no campo do estudo e produção de anticorpos terapêuticos. E promovemos ainda apoios simbólicos a outros Institutos de Pesquisa em Portugal, para premiar as melhores publicações ou para apoio à realização de pequenos workshops (como o IMM – Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, o IPATIMUP- Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto ou ainda o CICS – Centro de Investigação para as Ciências da Saúde, na Universidade da Beira Interior).
HR: A Bayer desenvolve a sua actuação em três grandes áreas: Saúde (Bayer HealthCare), Alimentação e Protecção de Culturas (Bayer CropScience) e Materiais de Alta Tecnologia (Bayer MaterialScience). Qual a quota de marcado de cada?
Maria João de Deus Lourenço: Em todos os segmentos onde opera, em Portugal e no mundo, a Bayer detém posições de destaque que, com toda a certeza, solidificará face aos lançamentos de produtos inovadores previstos para os próximos anos. Em Portugal, no ano de 2010, as vendas da Bayer foram de 174 milhões de Euros, contribuindo o segmento da saúde com uma parcela generosa de 60%. No mercado farmacêutico, muito concorrencial e pulverizado, dispomos de uma quota de mercado de 3% que ainda assim nos coloca no top 10 da indústria farmacêutica, sendo a Bayer líder incontestada na área saúde da mulher. Alcançamos também a liderança em diversas áreas ligadas à protecção das culturas, onde à Bayer CropScience é rainha no sector da vinha.
HR: A Aspirina soma mais de 100 anos e a pílula contraceptiva celebra este ano cinquenta. Ambas têm a chancela do grupo Bayer que cem anos depois de dar o primeiro passo em território nacional continua a nortear a sua expansão utilizando três matérias-primas: ciência, tecnologia e inovação. Quais os projectos delineados?
Maria João de Deus Lourenço: Para celebrar os primeiros 100 anos de presença em Portugal, a Bayer decidiu apoiar de forma significativa dois projectos relevantes para a nossa Sociedade: apoio ao projecto da Cruz Vermelha Portuguesa “Cuidados ao Domicílio”, projecto esse que poderá ser de uma enorme ajuda à qualidade de vida das pessoas idosas. E, em colaboração com a Delegação Nacional da UNESCO, vamos também promover um projecto para a valorização da ciência e tecnologia junto às camadas jovens, trabalhando em conjunto com as escolas, durante o ano lectivo 2011 – 2012.
HR: Qual a estratégia actual e futura em termos de gestão de RH?
Maria João de Deus Lourenço: A estratégia dos RH está intimamente ligada à estratégia do negócio. São, aliás, realidades indissociáveis: é preciso pensar e preparar, constantemente, o futuro da companhia e nós, nos RH, alinhamos essa visão com o contributo presente e futuro dos colaboradores. Na base de qualquer política de RH da Bayer está o feedback: saber onde estamos, para onde e como vamos.
Face ao ambiente de grande volatilidade do negócio em que vivemos, é imperioso trabalhar a capacidade de adaptação dos colaboradores, fazendo com que a mudança não seja percepcionada como uma ameaça, mas antes como um desafio ao espírito crítico de todos os colaboradores. O espírito crítico dos nossos colaboradores alimenta-se do feedback e confirma-se na meritocracia, que é sempre o ponto de partida e de chegada das políticas de Recursos Humanos Bayer.
HR: O actual momento económico afecta a moral dos trabalhadores. Como o contornam na Bayer?
Maria João de Deus Lourenço: Seria irrealista dizer que estamos imunes ao momento actual. A indústria farmacêutica sente também na pele, à semelhança de todos os outros sectores, o clima de retracção económica. Contudo, não deixamos que o pessimismo tome conta da nossa moral e nos deixe presos a ver o filme passar. Pelo contrário, conscientes do que se passa, apostamos no desenvolvimento e formação das pessoas, no feedback e no fortalecimento de uma cultura meritocrática. Em resumo, acreditamos e praticamos a filosofia de que as empresas que tiverem as pessoas com a atitude mais construtiva, serão também as que com maior facilidade terão sucesso e vencerão a crise.
HR: Como pode um director de RH gerir casos polémicos que envolvem a imagem pública da empresa e afectam internamente os colaboradores?
Maria João de Deus Lourenço: Voltamos a falar da moral das equipas e volto a reforçar que, numa eventual situação polémica, um DRH deverá estar, tal como todo os membros do Management Team, consciente do que efectivamente aconteceu. De seguida, os factos devem ser comunicados ao resto da empresa, nunca confundindo a árvore com a floresta e cultivando sempre uma atitude aberta e optimista perante a adversidade. No fundo, para ter e manter uma imagem pública sólida é preciso que, em primeiro lugar, essa solidez seja uma realidade dentro da própria organização.
HR: Ao nível das Compensações e Benefícios, quais as políticas utilizadas?
Maria João de Deus Lourenço: As compensações e benefícios são parte integrante da cultura da empresa e permitem-nos afiançar, com alguma solidez, o estilo e a maneira de ser dessa organização.
HR: Todavia, há uma parte “invisível”, pelo menos aos olhos de quem não faz parte de uma organização, que é decisiva na criação de um genuína satisfação por parte dos colaboradores. Desse lado menos visível das empresas e que as diferencia uma das outras destacaria o ambiente que se vive no quotidiano, a forma como os líderes comunicam e gerem as equipas, a autonomia que é dada a cada colaborador, a tolerância face ao erro ou as hipóteses de progressão dentro da organização. E é, sobretudo, aí que os Recursos Humanos e o Management da Bayer desenvolvem a sua missão. Acreditamos, profundamente, que é trabalhando estas áreas que geramos o compromisso e a verdadeira motivação dos nossos colaboradores. Claro está que não descuidamos as políticas de compensação e benefícios, cuja competitividade aferimos, anualmente, através de estudos do Hay Group e da Towers Watson. Garantimos também a todos os colaboradores que integram o quadro da Bayer um seguro de vida, um seguro de saúde que é extensível, a custo zero, ao seu agregado familiar.
Além disso, e aí com particular coragem porque seguimos em contra ciclo, temos um Plano de Complemento de Reforma que garante, na idade da reforma, uma segurança tremenda aos nossos colaboradores. Este Plano tem hoje um valor nominal superior a 2,5 milhões de euros, havendo o compromisso por parte de empresa de contribuir mensalmente para este plano com 2% do salário base de todos os colaboradores que estejam há pelo menos um ano a trabalhar connosco.
HR: Quais as tendências ao nível da gestão de RH?
Maria João de Deus Lourenço: Não lhes chamaria tendências, mas antes conceitos que vieram para ficar. Arrisco dizer que a primeira grande verdade é que a gestão de Recursos Humanos é uma disciplina partilhada. Os gestores de RH nada podem sem o apoio e sem o input que recebem dos gestores que estão, por assim dizer, mais próximos do negócio. A segunda ideia chave é que a gestão de RH é proactiva: faz-se no presente, mas perspectivando sempre o futuro. Caso contrário, os RH falhariam a sua missão de desenvolver e preparar os colaboradores para os desafios vindouros. Por último, e tal como agora está muito em voga dizer-se, os RH devem ter uma visão holística, completa das pessoas que integram uma organização. Só aceitando e desenvolvendo as pessoas por inteiro conseguiremos ter amanhã os melhores profissionais.