O poder das comunidades no empreendedorismo
“It takes a village to raise an entrepreneur.” Esta expressão resume de forma perfeita o papel fundamental das comunidades na jornada empreendedora. Para além de ser muito difícil e solitário para um founder criar um negócio sozinho, a verdade é que a probabilidade de esse negócio falhar é bastante mais elevada sem o suporte dos pares. Mentores, incubadoras, aceleradoras, empresas e universidades – enfim, o ecossistema no geral – são ingredientes indispensáveis na construção de um modelo de negócio válido e escalável, e na orientação para a estratégia go to market, sendo, ainda, um apoio emocional importante.
Por Cíntia Costa, Communications manager na 351 Associação Portuguesa de Startups.
Fazer parte de uma comunidade permite ainda que os processos de tentativa e erro sejam mais céleres, principalmente se esta for constituída por outros actores do ecossistema que já passaram pelo mesmo. Também a nível de recursos é possível obter benefícios, como acesso a espaço físico, eventos, tecnologia, fundos e networking.
Considerando todos os desafios associados a uma jornada empreendedora, integrar uma comunidade é, por si só, incentivador. Sabemos que os amigos e familiares são, obviamente, um apoio fundamental, mas também sabemos que, muitas vezes, estes não compreendem totalmente aquilo que um empreendedor está a passar. Estar rodeado de pessoas que entendem a vontade de empreender e apoiam esse percurso, assim como conversar com quem já passou pelos mesmos desafios e assistir a exemplos de sucesso, pode ser determinante.
Existem muitos e bons exemplos de comunidades de apoio ao empreendedorismo, que ajudam a abrir portas e a desbloquear impasses quando se trata de criar uma startup ou passar à próxima fase de desenvolvimento. A nível internacional, o destaque vai para a Techstars, o investidor pre-seed mais activo do mundo, tendo já investido em mais de quatro mil startups. A Techstars acredita na construção de comunidades descentralizadas para potenciar o sucesso do ecossistema, motivo pelo qual criou uma rede de agentes locais que promovem o empreendedorismo, através da realização de eventos em vários países do mundo.
Contudo, as próprias comunidades também enfrentam obstáculos, como a dificuldade em alcançar a coesão e a democratização de acesso a recursos e pessoas, sendo algo para o qual os líderes devem trabalhar todos os dias. Depois, a auto-sustentabilidade também surge como um entrave ao seu funcionamento. Quando estes grupos organizados não têm fins lucrativos, pode ser difícil de rentabilizar esforços e recursos, pelo que muitos funcionam com base num modelo de voluntariado.
Outro desafio verifica-se quando as comunidades são muito dependentes do governo e de outras entidades externas. É por isso que alguns especialistas defendem que estas devem ser criadas por empreendedores para empreendedores, com intervenção limitada de organismos estatais e de outros players. Em alternativa, devem funcionar como feeders, ou seja, devem ser um suporte adicional e não um pilar.
Por fim, para serem bem-sucedidas, as comunidades devem ter uma estratégia e visão comum – a longo prazo – para o ecossistema, assim como garantir o compromisso dos seus líderes por um período de tempo que permita a formação de outros líderes e a “passagem da pasta”.
A inspiração e a colaboração são, de facto, ferramentas muito importantes, que não devem ser subestimadas. Quando estamos rodeados de pessoas que nos fascinam, inspiram e ajudam a fazer mais e melhor – os chamados role models – as ideias fluem e a motivação cresce. Influenciar a força política e promover um ambiente mais favorável ao empreendedorismo são poderes que estão nas mãos destas comunidades, principalmente quando estas se unem para apoiar a criação de leis reguladoras do ecossistema, por forma a construir um contexto favorável à inovação.
Na minha perspectiva, a chave passa mesmo pela cooperação e coordenação entre os vários players do ecossistema – como incubadoras, aceleradoras, universidades e empresas de grande dimensão – assim como acesso a talento e financiamento, através de VCs e Angel Investors, ou mesmo concursos governamentais ou europeus.
A verdade é que um empreendedor bem-sucedido pode tornar-se num orador motivacional, num mentor, num investidor, ou ainda contribuir de outra forma para as comunidades que facilitaram as ferramentas e os contactos certos para crescer o seu negócio. Isto, por sua vez, irá ajudar a gerar um ecossistema mais maduro e evoluído, contribuindo para que mais pessoas arrisquem na jornada do empreendedorismo, sabendo, à partida, que contam com uma rede de apoio para tornar mais fácil o seu caminho rumo ao sucesso.