O ginásio da empatia: onde o “peso” é leve, mas o impacto é gigante

O ginásio das relações humanas está sempre aberto, e o melhor exercício é ouvir e compreender. Vamos treinar o músculo mais importante: o da empatia.

Por Sandrina Salvado, head of Human Capital na Bee Engineering

 

Na era digital, em que a tecnologia transforma o ambiente de trabalho e as relações humanas, a empatia tornou-se um desafio cada vez mais relevante para líderes e organizações. O distanciamento físico causado pelo trabalho remoto, a comunicação digital e a constante pressão por resultados têm aumentado os níveis de stress e exaustão entre colaboradores, o que, por sua vez, se reflecte num aumento significativo de problemas de saúde mental.

Este cenário torna-se ainda mais complexo quando consideramos que um em cada cinco portugueses sofre de problemas de saúde mental (dados OCDE). Neste contexto, torna-se imperativo que as empresas cultivem activamente a empatia como um valor fundamental.

Mas afinal, o que significa empatia? É comum definir a empatia como sendo “a capacidade de se colocar no lugar do outro”, mas sempre considerei esta afirmação pouco fiel à realidade. A verdadeira empatia não consiste em tentar ocupar o lugar da outra pessoa, mas sim, posicionarmo-nos ao seu lado para nos sentirmos em sintonia com as suas emoções e acedermos à compreensão do seu funcionamento.

Completando com a abordagem de Daniel Goleman, a empatia pode ser dividida em três componentes essenciais: empatia cognitiva, que envolve a capacidade de compreender as perspectivas e pensamentos dos outros; empatia emocional, que consiste em partilhar e sentir as emoções alheias; e empatia compassiva, que vai além de sentir e entender, impulsionando a acção para ajudar a resolver as necessidades do outro.

Outro ponto crucial é saber diferenciar empatia de simpatia. Com efeito, é comum, tanto na escrita como oralmente, as pessoas utilizarem ora “empatia” ora “simpatia”, mas as duas palavras não têm o mesmo significado. Enquanto a simpatia é um sentimento que reflecte o desejo de estar na presença de outra pessoa e de lhe agradar, a empatia é uma competência que surge da vontade de compreender genuinamente o que a outra pessoa está a vivenciar.

No contexto profissional, colaborar com pessoas de diferentes origens, gerações, com distintas experiências, competências e personalidades pode, frequentemente, afigurar-se um desafio. Para que uma equipa funcione de forma eficaz, inovadora e produtiva, e para que os colaboradores se sintam seguros, valorizados e motivados, a empatia deve ser o pilar que fortalece a conexão entre todos. Sem a prática da empatia, é fácil incorrer no erro de julgar e rotular os outros, o que pode criar barreiras ao entendimento e à colaboração.

Assim, o papel das lideranças é, por todas estas razões, absolutamente fundamental. Líderes empáticos são uma necessidade e cada vez mais um requisito por parte das equipas. Segundo o Empathy Index, citado pela Harvard Business Review, a empatia nas organizações tem uma correlação directa com o crescimento do negócio, produtividade, remunerações mais elevadas e melhoria dos índices de retenção.

Quando as pessoas se sentem compreendidas, tendem a ser mais abertas, empenhadas, comprometidas e produtivas. Não somos bons líderes se não conhecemos quem lideramos – e não se conhece apenas olhando – é preciso ir ao encontro das pessoas, de verdade, com vontade e curiosidade.

Na Bee Engineering, realizamos diversas iniciativas para reforçar o nosso compromisso com o bem-estar dos colaboradores e promover um ambiente empático. Entre as acções, destacam-se: o acesso a apoio psicológico, flexibilidade no trabalho, programas dedicados à inclusão e diversidade, actividades de voluntariado e uma vasta gama de actividades direccionadas para o bem-estar.

Recentemente, promovemos um torneio de futebol solidário entre a Bee Engineering e a Social Innovation Sports, que se revelou uma experiência verdadeiramente inspiradora e transformadora. Acreditamos que, além de fomentar a empatia e o espírito de equipa dentro da empresa, também criamos um impacto positivo na comunidade envolvente.

Quando valorizamos a empatia e o cuidado nas nossas interacções, não melhoramos apenas os nossos resultados, mas contribuímos também para um futuro mais justo, inclusivo e diverso.

A empatia não é uma opção. É uma necessidade estratégica para qualquer empresa que queira prosperar no século XXI. A ideia de que todos nós podemos ser “Chief Empathy Officers” é poderosa. Independentemente do cargo ou da responsabilidade, o impacto que a empatia e a compreensão têm no ambiente de trabalho é transformador.

Tal como no ginásio, o progresso pode ser gradual, mas os resultados fazem uma diferença imensa no bem-estar de todos à nossa volta. Vamos treinar?

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