
A arte de escutar: o que separa líderes comuns de líderes memoráveis
Por Catarina Quintela, director of Corporate Solutions na Porto Business School
Para quem ainda tem dúvidas, é importante reforçar esta mensagem de que a humildade, nomeadamente para escutar, é um superpoder na liderança.
Já sabemos que vivemos tempos de aceleração constante e em que somos levados a tomar decisões rápidas, fortemente pressionados por resultados de curto prazo. Neste cenário, a liderança pode ser tentada a responder com controlo e assertividade. Mas, paradoxalmente, é na humildade, característica tantas vezes confundida com fraqueza, que reside um dos maiores superpoderes dos líderes que verdadeiramente inspiram e que são seguidos.
Ser humilde não é não ter opinião, é ter espaço para acolher a dos outros, sem se defender. É saber que liderar não é ter todas as respostas, mas a coragem de fazer boas perguntas. E, sobretudo, é acreditar que, ao escutar verdadeiramente as pessoas, se consegue mais do que o simples cumprimento de metas: consegue-se o brilho nos olhos de quem sente que contribui com sentido.
A escuta humilde é transformadora, pois só ouvindo se pode alinhar o que a organização espera com aquilo que os colaboradores desejam. As pessoas não se comprometem com um PowerPoint ou com uma estratégia bem desenhada, comprometem-se quando sentem que o seu papel faz sentido nesse caminho. E esse alinhamento só se constrói com escuta. Sem isso, líderes e equipas correm o risco de caminhar em direções diferentes, ainda que debaixo do mesmo teto.
É aí que a escuta se torna um dos maiores ativos na retenção de talento. Num mundo onde o “quiet quitting” e a rotatividade aumentam, manter pessoas comprometidas passa por lhes dar voz e mostrar que essa voz conta. Como mostra o estudo da McKinsey “Great Attrition” (2022), uma das principais razões pelas quais as pessoas deixam as organizações não é o salário – é por se sentirem desvalorizadas ou não escutadas. Por isso, escutar é mais do que empatia; é estratégia. Os líderes que escutam são os que conhecem as motivações, aspirações e inquietações das suas equipas. São os que antecipam desconexões antes que elas se transformem em pedidos de saída.
E só quando alguém sente que é ouvido e valorizado é que está disposto a dar o tal “extra mile”, aquele esforço a mais que não vem de uma obrigação, mas de um compromisso emocional. Pedir dedicação sem escuta é como pedir frutos sem cuidar da raiz. A escuta promove um forte sentimento de pertença. E onde há pertença, há vontade de contribuir para além do esperado.
Escutar ativamente não é apenas estar calado enquanto o outro fala, é estar sem distrações nem julgamentos. É querer perceber o que move o outro e estar disponível para ajustar, rever, co-construir. É, no fundo, assumir que liderar também é aprender.
Os líderes mais admirados não são, muitas vezes, os mais brilhantes tecnicamente, mas os que fazem os outros brilhar. Os que criam espaço para que cada pessoa seja escutada e respeitada. Os que perguntam antes de decidir. Os que alinham, com humildade, pessoas e propósito.
No final, a humildade na liderança contribui para envolver verdadeiramente aqueles que geram resultados, quando trabalham com brilho nos olhos e vontade de ficar.