A cola do trabalho de amanhã: a visão de um gestor do sector da saúde e da indústria farmacêutica

Depois de 2020 o mundo não será igual e, por arrasto, o mundo do trabalho não mais será o mesmo. Conceitos para alguns até hoje algo abstratos como transformação digital e trabalho remoto ou teletrabalho são agora uma realidade que veio para ficar. Mas qual será a força aglutinadora do trabalho de hoje e amanhã? Qual a cola que vai agregar os recursos humanos da empresa? A resposta a esta questão nunca será consensual mas sem dificuldade podemos convergir na conclusão de que, como em muitas coisas na vida, o equilíbrio ponderado entre ambas as opções poderá ser a chave.

Por Pedro Moura, managing director da Merck S.A – Portugal

 

Dificilmente as organizações vão voltar a estar exclusivamente e para todos os colaboradores num escritório físico, com um horário rígido. A pandemia obrigou ao teletrabalho e percebeu-se que não obstante todos os desafios e constrangimentos, este encerra também potenciais oportunidades.

O futuro far-se-á de uma cada vez maior e mais equilibrada ponderação ao nível orgânico e funcional de qual opção melhor responde a este blend de desafios e oportunidades.

As tarefas, responsabilidades individuais e colectivas, permanecerão no essencial inalteradas, sendo que a personalidade e motivação individual por um lado e a complexidade e necessidade de interação presencial por outro, determinarão se o melhor ‘escritório’ é a sede da empresa, a sua casa ou um outro qualquer local onde estejam asseguradas condições como segurança, privacidade e técnicas. O foco estará cada vez mais no conteúdo e não na forma.

Dito isto, e ainda que do ponto de vista exclusivamente técnico seja possível eliminar totalmente a presença física, diria que para uma imensa maioria de funções essa nunca será uma solução a privilegiar. Por um lado, porque a habitação transformada em local permanente de trabalho encerra um conjunto significativo de ameaças que só uma sólida disciplina que estanque a vida pessoal da profissional pode mitigar. A que acrescem como é óbvio os potenciais constrangimentos decorrentes da partilha de espaço com quem, em lazer ou também a trabalhar, ‘compete’ por recursos comuns. Por outro lado, a socialização e proximidade física funcionam como moduladores de humor, fomentam muito da nossa actividade criativa, criam condições para que determinadas conversas se possam realizar, facilitam uma melhor leitura de emoções dos que connosco interagem e ajudam a disciplinar o tempo e ritmo a que nos entregamos à parte profissional.

A cola do trabalho de hoje e amanhã é assim o equilíbrio entre o mercado de trabalho mais tradicional e físico e o mercado online, mais confortável e com menos tempo gasto entre tarefas.

Claro que o segundo obriga os líderes e gestores de pessoas a adquirir e aprofundar todo um conjunto de competências que não necessariamente hoje dominam… Mas isso seria tema para uma outra reflexão.

 

 

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