A (In)sustentabilidade do Teletrabalho. Ordem dos Psicólogos identifica as vantagens mas também os riscos

O teletrabalho é uma realidade com a qual quase todos os trabalhadores têm de lidar actualmente. Qual a melhor forma de encarar esta situação? Quais as vantagens e as desvantagens desta forma de trabalhar? Existem modelos sustentáveis de teletrabalho? Para responder a estas questões, e no âmbito do Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho que hoje se assinala, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) apresenta o documento «A (In)sustentabilidade do Teletrabalho».

 

O documento está dividido em cinco tópicos principais. Apresenta, por um lado, os benefícios do teletrabalho e, por outro, os seus desafios e dificuldades. Também pretende analisar modelos sustentáveis de (tele)trabalho e refere os riscos psicossociais associados. Por fim, compila as estratégias para a sustentabilidade do teletrabalho.

 

Benefícios
De acordo com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, a maioria dos trabalhadores sentiu-se satisfeito com o regime de teletrabalho e gostaria de manter como possibilidade mesmo depois da pandemia, sobretudo porque constatou um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Além de não se perder tempo com viagens e haver menos distrações (OCDE, 2020), um em cada três gestores reportou um aumento da produtividade em teletrabalho (Ozimek, 2020). Outra vantagem é a libertação de espaço e redução de custos para os empregadores.

 

Desafios e dificuldades
O inquérito do Barómetro COVID-19 demonstrou que 59% trabalha mais horas do que o habitual e 42% sente dificuldades em desligar-se do trabalho. Para muitos trabalhadores, o afastamento físico dos colegas trouxe sensação de isolamento e diminuição de criatividade, e também houve quem tivesse mais dificuldade em liderar equipas à distância.

 

Modelo sustentável
Será expectável que se adopte um modelo de trabalho híbrido equilibrando, por exemplo, dois dias de teletrabalho com três dias presenciais no escritório. Empresas como a Google, Salesforce e Facebook já partilharam que vão adoptar este modelo.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses refere que para incluir este tipo de modelo é necessário ultrapassar alguns desafios como reforçar as competências tecnológicas dos trabalhadores, evitar horários excessivos, facilitar a criação de espaços de trabalho em casa, promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores, desenvolver capacidades de liderança, promover a autonomia, defender uma politica de tolerância zero a comportamentos discriminatórios, encorajar relações significativas, garantir o trabalho presencial e o teletrabalho, garantir igualdade entre homens e mulheres e tornar a saúde psicológica um dos objectivo da organização.

 

Riscos psicossociais
Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses, em regime de teletrabalho os riscos psicossociais são semelhantes ou até acentuados face aos riscos associados ao trabalho presencial. Alguns desses riscos são a organização do trabalho, a própria estrutura da organização ou o stress.

Para combater estes riscos são necessárias estratégias de construção de organizações promotoras de saúde psicológica, bem-estar e resiliência. Num Local de Teletrabalho Saudável, por exemplo, deve haver preocupações como a carga de trabalho corresponder às competências e experiência dos trabalhadores, os trabalhadores serem envolvidos no planeamento da sua carga de trabalho, ser realizada uma avaliação regular dos riscos psicossociais, existir uma política de comunicação interna, aberta e transparente, entre outras.

 

Estratégias para sustentabilidade do teletrabalho
Compete às empresas implementar estratégias que assegurem a sustentabilidade do teletrabalho com todas as medidas já mencionadas no modelo sustentável. «Simultaneamente é necessário desenvolver mais investigação, que permita compreender melhor as características e o funcionamento do teletrabalho, bem como os fatores que influenciam a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores em teletrabalho – durante e após a pandemia COVID-19», refere o documento.

Em resumo, o teletrabalho difundiu-se e acelerou a transformação da organização do trabalho. Está a mudar a produtividade das empresas e a provocar alterações na relação entre empregadores e trabalhadores e na gestão do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. «Neste contexto, a avaliação, intervenção e prevenção dos riscos psicossociais é, cada vez mais, premente», conclui o documento.

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