A liderança da imperfeição: entre a autenticidade e a exigência do eleitorado

Por Alexandra Barosa, directora executiva do Curso de Coaching Executivo da Nova SBE e Managing partner da ABP Corporate Coaching

Nos tempos que correm, a exigência de perfeição na liderança política não é apenas uma expectativa cultural, mas uma pressão amplificada pelo escrutínio constante das redes sociais e pela efemeridade dos ciclos noticiosos. Os líderes vivem sob uma lupa que amplifica erros e, ao mesmo tempo, exige autenticidade. O dilema é evidente: ser genuíno e vulnerável pode humanizar, mas também fragilizar; projectar uma imagem de infalibilidade pode conferir autoridade, mas também alienar. O que é que o eleitorado realmente valoriza?

Nos últimos anos, assistimos a uma erosão da confiança nas instituições e nos seus representantes. Os escândalos políticos, a percepção de desconexão entre governantes e governados e a ascensão de discursos populistas evidenciam a crise de liderança. O desafio passa por resgatar essa confiança, e a transparência tem sido apontada como um dos caminhos. Mas até que ponto os eleitores estão dispostos a aceitar líderes que admitem falhas?

Um exemplo paradigmático é Jacinda Ardern, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, que soube equilibrar empatia e firmeza, admitindo erros sem perder autoridade. No entanto, a sua decisão de abandonar o cargo, justificando-se com cansaço e limitações pessoais, gerou tanto admiração quanto críticas. Se, por um lado, a sua honestidade foi valorizada, por outro, levantou questões sobre a capacidade de resistência esperada de um líder.

Em Portugal, a política atravessa um momento decisivo. O recente desgaste de figuras institucionais e o cepticismo crescente do eleitorado exigem um reposicionamento da liderança política. Os portugueses estão prontos para aceitar dirigentes que assumem falhas e corrigem rumos? Ou a exposição da vulnerabilidade será apenas mais uma arma nas mãos dos adversários?

A coragem de ser imperfeito não é apenas um traço pessoal, mas uma estratégia de liderança. No entanto, essa estratégia requer equilíbrio: admitir erros sem cair na fragilidade excessiva, demonstrar empatia sem comprometer a capacidade de decisão. Numa era onde a autenticidade é uma moeda valiosa, mas a percepção de fraqueza pode ser fatal, a liderança da imperfeição continua a ser um desafio em aberto.

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