A saúde precisa também (sempre, e hoje mais do que nunca) de talento tecnológico

Quando pensamos em Saúde, são médicos, enfermeiros ou auxiliares que surgem imediatamente no pensamento. No entanto, a fronteira entre as profissões tradicionalmente associadas à prestação de cuidados e as restantes, nomeadamente no campo tecnológico, são cada vez mais ténues.

Por Eduardo Freire Rodrigues, CEO e fundador da UpHill

 

Dentro dos hospitais, a tecnologia está presente em praticamente todo o percurso da pessoa: a marcação de consultas é feita via software, bem como o armazenamento de dados – o perfil e registos dos doentes -, facilitando a gestão e a partilha de informação intra e inter-hospitalar. Para os profissionais no terreno, a tecnologia demonstra como diagnosticar com certeza, que intervenções efetivas implementar e como personalizar os melhores tratamentos. Fora dos hospitais, a tecnologia revoluciona também o que pode ser alcançado à distância e 2020 foi um ano paradigmático neste sentido.

Com as atenções focadas em mitigar os efeitos do novo coronavírus, nunca antes se falou tanto na potencialidade da tecnologia para ajudar a conter doenças infecciosas, rastrear doentes, desenhar modelos de previsão de disseminação de um vírus, desenvolver fármacos em tempo recorde, prestar cuidados remotamente, ou entregar medicamentos ao domicílio. A propósito, em Março deste ano, Alain Labrique, director da Universidade Johns Hopkins, referiu, em entrevista à Time, que a conetividade de que dispomos atualmente é uma das principais vantagens no combate à pandemia.

A Saúde já não se faz apenas dentro dos hospitais, e mesmo dentro destas estruturas já colaboram áreas de inovação tecnológica com áreas tipicamente associadas à prestação de cuidados . A biotecnologia, a inteligência artificical, a big data ou o desenvolvimento de softwares e dispositivos médicos – para numerar apenas alguns exemplos – têm um impacto crescente no setor e no quotidiano hospitalar.

Aliás, o investimento em digital health corrobora isso mesmo. Nos primeiros seis meses de 2020, os negócios digitais da área da saúde conseguiram angariar 5,4 mil milhões de dólares em capital de risco, num recorde semestral cujo trajeto antecipava já o melhor ano de sempre, segundo dados do Rock Health, um fundo americano de capital de risco especializado no setor. Não foi preciso ver o ano chegar ao fim para as previsões serem cumpridas: no terceiro trimestre, foram investidos mais 4 mil milhões de doláres em digital health startups norte-americanas, valor suficiente para bater todos os recordes de investimento registados até então.

A Saúde precisa sempre de talento tecnológico. O desafio é conseguir encontrar, adquirir, motivar e reter esse talento.
É um facto consumado que existe uma dificuldade acrescida em contratar talentos para a área das tecnologias da informação, uma franja da economia que está em claro contraciclo: em termos globais a oferta de emprego em aumenta 38% a cada semestre.

Em ano de pandemia e de recessão económica, enquanto o desemprego atingiu cerca de 748 mil portugueses, segundo dados divulgados em Setembro, entre Maio e Agosto foram contabilizadas mais de 32 mil vagas de emprego abertas no sector tecnológico, onde claramente quem lidera o mercado é o candidato ao invés das empresas. Uma realidade que contraria a tendência europeia: segundo os dados do Atomico State of Tech o número de vagas consideradas “difíceis de preencher” no setor tecnológico diminuiu, a partir de outubro, 23% excepto em Portugal, Alemanha e Bélgica.

Atrair e reter talentos são os nossos principais desafios e o problema não é novo: já em 2014, um relatório da Comissão Europeia estimava que, este ano, ficassem por preencher 15 mil vagas de emprego, em Portugal, nas TIC. Em 2012, ficaram 3.900. Há vagas, há vontade de contratar, mas uma dificuldade em encontrar os perfis com as competências certas para a exigência das funções. Áreas de desenvolvimento aplicacional, gestão técnica de projetos e plataformas, suporte, administração de bases de dados, usabilidade, programação, desenvolvimento de software e muitas outras posicionam-se entre as mais dinâmicas nas contratações num sector onde os salários se mantém acima da média do mercado.

Não haverá um fórmula certa para resolver este quebra-cabeças, mas o último relatório da Robert Walters, líder multinacional especializada em recrutamento profissional, deixa algumas pistas:
• Apostar em candidatos passivos, ou seja, aqueles que não estão ativamente à procura de novos desafios;
• Reduzir a duração do processo de recrutamento;
• Ir ao encontro de expectativas de desenvolvimento profissional e apostar na cultura da empresa;
• Alinhar o propósito da empresa com o propósito profissional dos candidatos.

Num ano marcado por uma crise pandémica, por um lockdown generalizado e pelo início de uma crise económica cujas dimensões ainda são difíceis de prever, o Deloitte Millennial Survey 2020 revela que as gerações mais novas – Millennials e Geração Z – veem este momento como oportunidade para construir um futuro melhor. A capacidade de gerar impacto continua a ser uma das principais motivações na hora de escolher e aceitar uma oportunidade de trabalho e não há outro setor que consiga conjugar estas dimensões de forma tão preponderante como a Saúde.

Trabalhar na UpHill é sinónimo de todos os dias fazer da qualidade em saúde uma prioridade. Ajudar quem cuida da saúde dos outros, suportar decisões clínicas em evidência científica e melhorar os resultados finais para os doentes. É para isto que precisamos de talento tecnológico. E se isto não é ter impacto, então não sei o que será.

Ler Mais