Accenture. A diversidade como tema estratégico, pois não só é fonte de talento, como de maior lucro

A celebração anual do Dia da Mulher realizada pela Accenture pela 17.ª vez decorreu este ano numa sessão online, mas contando, como habitualmente, com personalidades com diferentes perfis e histórias de vida. Foi também apresentado um estudo que revela que, com a pandemia de COVID-19 a desigualdade acentuou-se, e a igualdade que devia ser atingida em 51 anos apresenta-se agora mais distante.

Por Sandra M. Pinto

 

A abertura coube a José Gonçalves, presidente da Accenture Portugal que começou por afirmar ser de extrema importância manter este  evento mesmo em tempo de pandemia. «Desde há 17 anos que temos o orgulho de fazer este evento sobre um tema tão essencial e estratégico para a Accenture», refere, «aconselho todos a lerem a declaração Internacional dos Direitos do Homem pois está lá tudo, é preciso é avançar e colocar em pratica o que lá vem escrito». Para além de este ser um tema de valores da sociedade, o tema da igualdade de género deve ser um valor corporativo de todas as organização, defende. «As empresa também têm de entregar valor às sociedades e às comunidades locais», afirma José Gonçalves, revelando os seis alicerces que ligam a Accenture ao tema da igualdade.
«Primeiro temos a criação de valor para o cliente, ao qual se segue a necessidade de ter as melhores pessoas e os melhores profissionais, de seguida nada faz sentido se não existir respeito pelos indivíduos, pois sabemos que as pessoas mais genuínas no trabalho trazem maior valor à empresa», enumera, acrescentado «o deixar valor acrescentado à empresa quando dela saímos, a integridade e o sermos capazes de trabalhar como uma empresa global».
Na visão de José Gonçalves «há ainda um caminho a percorrer, apesar de termos métricas a seguir há ainda muito a fazer». Estando a Accenture na lista das 200 empresas do mundo mais éticas, verdade é que dos 3200 colaboradores em Portugal apenas 43% são mulheres, revela o responsável. «Ao nível do recrutamento 40% são mulheres pelo que precisamos de ter mais mulheres na tecnologia», refere, revelando que «no comité executivo da empresa temos hoje cinco mulheres e sete homens». O presidente da Accenture Portugal defende que além da igualdade de género, deve-se implementar a igualdade genérica, «pois queremos que as pessoas se sintam integradas, o que leva a uma maior motivação e envolvimento com  a organização, logo a uma maior produtividade», concluindo que «na Accenture estamos muito orgulhosos do nosso trajecto no que este temas diz respeito».

 

“If not now, when?: A roadmap towards a more gender-equitable economic recovery”

Seguiu-se a apresentação do estudo: “If not now, when?: A roadmap towards a more gender-equitable economic recovery” por Carla Baltazar, Managing Director & Gender Lead da Accenture Portugal.
Este estudo realça as diferenças de género nas várias áreas, desde a saúde, educação, inclusão digital, inclusão financeira, trabalho e igualdade salarial entre géneros ou empreendedorismo, mostrando o agravamento da desigualdade de género após o início da pandemia.
Com a pandemia Covid-19 a desigualdade acentuou-se, e a igualdade que devia ser atingida em 51 anos apresenta-se agora mais distante, pelo que «para cumprir em 2061 as metas estabelecidas, tem de se tomar agora medidas que acelerem a resolução desta desigualdade em 110 anos», revela Carla Baltazar. Ou seja, o impacto desproporcional da propagação da Covid-19 sobre as mulheres pode ter acrescentado 51 anos ao tempo que se levará para alcançar a igualdade de género, isto se não forem adotadas medidas imediatas. «O compromisso inicial, assumido pelos líderes do G20 falava da obtenção da paridade de género 2120, um prazo que, segundo a Accenture, deverá ser adiado para 2171 tendo em conta o agravamento das desigualdades após o início da pandemia», avança Carla Baltazar.
As mulheres foram as mais atingidas com a pandemia pois viram-se a trabalhar mais horas sem remuneração, ao mesmo tempo que 16,5% recebe menos salário. «A desigualdade foi exacerbada com a pandemia sendo que as mulheres viram os seus rendimentos a diminuir de uma forma mais rápida que os homens», refere  Carla Baltazar.
Outro aspecto muito importante referido no estudo diz respeito à inclusão digital. «97 milhões de mulheres podiam ter trabalho remunerado se tivessem a cesso a computador a internet», refere o estudo, mas tal não acontece, «apenas 48% está em trabalho remoto».
«De facto, a pandemia fez aumentar a importância da inclusão digital», reforça Carla Baltazar, chamando a atenção para a necessidade de se usar esta oportunidade para acelerar a igualdade. «E isto pode ser feito através da inclusão no universo corporativo da igualdade de género como uma prioridade, mas também definindo objectivos ambiciosos a todos os níveis, reconhecendo o trabalho não remunerado e favorecendo a maternidade», explica, acrescentado a necessidade de se reduzir a tendência da descriminação e a implementação de uma verdadeira inclusão digital, «com a construção de infraestruturas tecnológicas, com a incentivação da participação das mulheres no universo da tecnologia, com a implementação da literacia digital e com a inclusão de componentes éticas na tecnologia».

 

A importância da igualdade de género como defesa dos direitos das mulheres 

O evento contou ainda com um debate onde participaram Helen Duphorn, CEO da IKEA, José Avillez, chef e empresário, Ana Torres, MS Europe Cluster RD da Pfizer, Frederico Canto e Castro, orador motivacional, e Sofia Marta, Vice-Presidente da Accenture Portugal.

Frederico Canto e Castro não esconde que a pandemia afectou as suas diferentes actividades mas «como a culpa não é nossa temos sim a responsabilidade de dar a “volta” e arranjar alternativas e soluções». Para ajudar à saúde mental, o orador motivacional incentiva todos a praticar desporto, «não há melhor forma para quebrara a rotina», acrescentado a necessidade de se master as relações, «pois são elas que ajudam a que tenhamos a melhor saúde mental possível no meio de uma situação extrema como a que vivemos».

 

«A casa tornou-se no espaço mais importante para todos», refere Helen Duphorn. Na IKEA «houve a necessidade de uma adaptação ao teletrabalho algo que foi feito internamente sem grandes dificuldades, sendo que depois da pandemia queremos que os nossos colaboradores passem a trabalhar metade do tempo desde casa. Sabemos que toda esta situação é mais difícil para as mulheres do que para os homens, pois elas trabalham muito mais do que eles», acredita a responsável. «É preciso encorajar a igualdade em casa, daí na IKEA termos vindo a implementar acções que incentivem a igualdade na própria casa dos nossos colaboradores, pois temos a perfeita noção de que isso é importante para o sucesso da organização.»

Outro ponto importante, na perspectiva de Helen Duphorn, é a igualdade de salários. «Este é um aspecto que está nas mãos das empresa, pelo que é importante que os lideres tenham a noção do seu papel na sociedade resolvendo e mantendo internamente resolvida a questão da desigualdade salarial entre os seus colaboradores».

 

José Avillez: «A pandemia veio dar um banho de humildade a todos».

O chefe que revela estar a preparar as equipas para o desconfinamento, confessa estar desejoso para voltar aos activo. «Estou louco para que venham os loucos anos 20.»

Um dos nomes maiores da alta gastronomia nacional, perante a evidência de que a cozinha enquanto profissão continua a ser um território de homens, opina que cada vez mais a situação está a mudar. «Começamos a ter mais mulheres nas cozinhas e temos mais mulheres com estrela Michelin», constata. «O início da alta cozinha era quase como que um regime militar, tudo era feito com um enorme rigor, com uma exigência física muito grande desde logo porque para manter os pratos quentes as cozinhas estavam sempre climatizadas com elevadas temperaturas.»

Hoje já não é assim, «mas apesar de termos mais mulheres nas equipas há um factor que muitas vezes acaba por afastá-las, a maternidade». Avillez conta que muitas mulheres acabam por desistir quando estão grávidas ou pretender estar. «Este é um trabalho muito duro, com um regime muito intenso, pelo que é difícil conciliar muitas das características desta profissão com a gravidez.»

Para o chef, «quanto mais rica for a sua equipa em diversidade mais se aprende».E aprender a ouvir a equipa é fundamental. «A liderança no meio do grupo é o mais importante, desde que estejamos com eles na cozinha. Lutamos pela igualdade de direitos, mas não para sermos iguais, pois homens e mulheres são diferentes e essa diferença é importante. Somos todos diferentes e a diversidade é muito importante pois é isso que nos enriquece e nos faz ser melhores».

 

Sofia Marta, defende a inclusão de mulheres nas tecnologias referindo que a Accenture tem sido uma das empresas que mais tem vindo a incentivar a inclusão de perfis femininos na tecnologia. Dá como exemplo ao nível da politica interna de igualdade de género o programa Women’s Voice através do qual a organização dá voz às mulheres. «É importante que as organizações pensem que programas podem ter que facilitem a vidas das mulheres de modo a que elas possam ter uma carreira de sucesso» sublinha a vice-presidente da Accenture Portugal. «Ao mesmo, é preciso que cada um de nós conheça o seu limite de modo a definir o seu ponto de equilíbrio entre a vida profissional e familiar.»

Sofia Marta refere três princípios bases para se alcançar a igualdade. «É preciso que a igualdade de género seja estratégica na empresa», começa por assinalar, acrescentando «a necessidade de partilharmos resultados e a urgência de se implementar uma boa comunicação interna para que os colaboradores saibam exactamente aquilo que a empresa está a fazer relativamente a este assunto».

 

«As barreiras da entrada das mulheres nas tecnologias existem na própria sociedade e dentro das próprias mulheres», alerta Ana Torres. Para a profissional há dois momentos em que acontece uma desigualdade evidente, «apesar de na entrada acontecer 50% de homens para 50% das mulheres, no momento da progressão para managers essa percentagem acaba pois muitas das mulheres ficam pelos caminhos. Muitas das vezes acontece devido a licenças de maternidade, algo que eu vejo como uma oportunidade».

Na visão da responsável, a licença de maternidade funciona como um curso rápido relativamente à obtenção de competências. «Por outro lado, há a hipótese de outra pessoa se mostrar na empresa desenvolvendo ela própria novas competências durante o tempo que substitui a colega em licença de maternidade.» O outro momento onde acontece desigualdade é na passagem das profissionais a C Level. «As competências técnicas estão lá, pelo que importa agora incrementar as soft skills», defende, dando como exemplo a necessidade de networking. «Nestes momentos as mulheres conseguem identificar-se, mostram o seu valor e partilham experiências.»

«É preciso que os homens entendam que a diversidade influencia directamente o lucro e o sucesso das empresas», conclui.

 

O encerramento do evento coube a Ana Bernardes, directora de Recursos Humanos da Accenture Portugal. 

«A Accenture assumiu o compromisso público da igualdade até 2025, pelo que foi importante a partilha que hoje, neste evento se fez», realça, reconhecendo no entanto que ainda há muito caminho a percorrer. É essencial ter sempre em mente três pontos: «O compromisso e a responsabilidade das lideranças,  implementar de forma efectiva politicas de acção que levem à igualdade de género com base na meritocracia comum e criar ambientes propícios ao desenvolvimento efectivo de uma politica de inclusão.»

E termina: «Inspirar pela liderança é fundamental para que todos possamos atingir a igualdade de género

 

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