Amanhã é o Dia Mundial do Sorriso. Se na sua empresa se sorri pouco, apresse-se a mudar isso. Este artigo ajuda

O sorriso é muito mais do que apenas uma mera manifestação de alegria. E é inegável o seu impacto também na vida profissional. Temos sido desafiados a gerar cada vez mais resultados e a ser cada vez mais competitivos. Encarar estes desafios de cara amuada não ajuda em nada.

 

Por Fábio Borges, especialista em Psicologia Positiva, Neurociências, PNL e Inteligência Emocional, palestrante e mentor na área da Saúde Mental e Emocional

 

Não existe uma manifestação de felicidade mais singela e, ao mesmo tempo, mais completa do que um sorriso. Se lhe pedir para fechar os olhos, respirar fundo e imaginar o sorriso da pessoa que mais ama na vida, jamais conseguirei adivinhar em quem você pensou, a não ser que seja a minha mãe que esteja a ler, pois tenho a certeza de que será o sorriso dos netos. Mas tenho uma certeza: ao lembrar-me do sorriso desta pessoa, um sorriso também nasceu no seu rosto.

O sorriso é universal na espécie humana e uma das coisas mais comuns que fazemos. Hoje então, está ainda mais presente na nossa comunicação. Pois quem nunca expressou o seu sorriso de forma virtual através de um emoji, aquele simpático rostinho amarelo presente nos nossos smartphones?

 

Dia Mundial do Sorriso
Para fazer vir à tona a importância de sorrir e de fazermos os outros sorrir, na primeira sexta-feira de Outubro é celebrado o Dia Mundial do Sorriso. Esta iniciativa foi criada pelo americano Harvey Ball. Provavelmente, pelo nome não saberá quem é, mas conhece certamente a sua maior e mais famosa criação: o Smile. Aquele simpático desenho, que se tornou o símbolo mundial de alegria e felicidade. Harvey era um artista freelancer que, em 1963, foi contratado por uma companhia de seguros no estado de Massachusetts, que queria fazer algo para combater o desânimo que sentiam nos seus colaboradores. A sua missão era produzir algo que pudesse melhorar o clima dentro da empresa.

Foi então que criou o famoso Smile, o círculo amarelo com dois pequenos olhos e um sorriso. A imagem foi então inserida nos crachás dos funcionários para que pudesse estimular o sorriso e o bem-estar de todos. Com certeza, Harvey não fazia ideia do impacto que isto iria gerar, pois não chegou a registar a marca, e o Smile ganhou vida própria. Mas o tempo foi passando, e Harvey Ball começou a ficar preocupado, pois o significado original começou a ser esquecido. Resolveu instituir um dia por ano para que todos nos pudéssemos dedicar a sorrir e a realizar actos gentis. A partir de 1999, as primeiras sextas-feiras de Outubro seriam celebradas como o Dia Mundial do Sorriso.

Com o falecimento de Harvey, em 2001, a Harvey Ball World Foundation foi criada para homenagear o seu nome e a sua memória, e hoje a fundação é a grande promotora desta data. E depois de tantos desafios nos últimos anos, acho que sorrir, mais do que importante, se torna fundamental!

 

O que é o sorriso?
O sorriso é algo fisiológico, uma resposta a um estímulo, que normalmente nos remete para a alegria. Mas às vezes está associado a outras emoções também positivas, como, por exemplo, ao sentirmos gratidão, ou com saudades de alguém querido.

Sorrimos muitas vezes por dia e em situações extraordinariamente diversas, mas nem percebemos, porque raramente dominamos conscientemente o nosso sorriso. O neurocientista Robert Provine conduziu um estudo em que observou 1200 conversações em locais públicos como centros comerciais, salas de aula, pastelarias, ruas, etc., e descobriu que 80% do nosso sorriso não tem nada que ver com humor. Robert concluiu que sorrimos essencialmente em situações sociais e geralmente em momentos de felicidade, prazer e brincadeira, mas sabemos que o sorriso é muito mais do que apenas uma mera manifestação de alegria. Também atenua hostilidade e agressão: repare como utilizamos o sorriso quando queremos atenuar uma típica tensão entre estranhos ou necessitamos de dizer que não a alguém.

Sorrimos frequentemente quando nos desculpamos. O sorriso é o instrumento mais poderoso para desarmar as pessoas, criar uma ponte entre elas e facilitar relacionamentos saudáveis.

E sabia que começamos a sorrir ainda dentro do ventre materno? Por mais surpreendente que possa ser, é durante a gravidez que o feto começa a sorrir, ou seja, é algo inato no ser humano. No entanto, é só entre o primeiro e o quarto mês após o nascimento que começamos a desenvolver os chamados sorrisos sociais, que permitem a interacção activa com os adultos (e derretem os corações dos pais e avós).

Mas, infelizmente, parece que, ao crescermos, vamos perdendo essa naturalidade de sorrir, pois alguns estudos sugerem que na primeira infância as crianças chegam a sorrir entre 200 e 300 vezes ao dia, enquanto nós, adultos, passamos a sorrir apenas umas 15 a 20 vezes ao longo de um dia. Sim, acho que isso quer dizer que vamos ficando “sem graça”.

Vamos falar sobre como podemos mudar esse cenário?

 

Sorriso = contágio?
O sorriso é contagiante! Sempre que cumprimentamos alguém com um sorriso no rosto é praticamente garantido que iremos receber um sorriso de volta (mesmo que um pouco amarelado). Mas porque é que o sorriso é contagiante? Isso é explicado pelos neurónios-espelho.

E o que é isso dos neurónios-espelho? São neurónios accionados quando realizamos e observamos uma acção, ou seja, eles espelham as acções que observamos e têm um importante papel na aprendizagem, pois espelhamos movimentos, acções e emoções. Há quem os apelide também de “neurónios da empatia” e os associe ao fenómeno de bocejarmos por contágio.

Tudo isto indica que o sorriso é um elemento importante na nossa biologia comportamental humana. Entender o sorriso significa compreender as nossas raízes sociais e biológicas e aprimorar as nossas relações sociais.

São inúmeros os benefícios do sorriso. Desde a parte fisiológica, ajudando no bom funcionamento dos sistemas respiratório, cardiovascular e imunitário, como também no aspecto socioemocional. Como? Sobretudo devido à acção das hormonas libertadas durante a expressão do sorriso, principalmente a serotonina, endorfina e oxitocina. Além de proporcionarem a sensação de bem-estar, regulando a acção do cortisol, reduzem o stress e a ansiedade. Estas hormonas são responsáveis por estreitar as relações sociais.

 

Trabalhar a sorrir?
Hoje, já não podemos pensar a vida pessoal e profissional de um indivíduo de formas estanques e separadas. Por isso, quando falamos de bem-estar, o trabalho ocupa um papel extremamente importante na nossa vida. Torna-se uma missão impossível falar em felicidade e sorrisos quando uma pessoa está insatisfeita com a vida profissional.

Quando falamos sobre ambientes de trabalho, ainda falamos muito de locais que prezam a formalidade e ainda consideram o humor uma distração que pode afectar o desempenho, a produtividade e, consequentemente, o lucro da empresa. Ou seja, o trabalho não é lugar de brincadeira. Será mesmo assim?!

 

Divertido não é o contrário de sério
Já são várias as provas científicas de que a felicidade e o bem-estar no trabalho impactam de maneira positiva a produtividade. De acordo com um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, um trabalhador feliz é, em média, 31% mais produtivo, três vezes mais criativo e vende 37% mais em comparação com outros.

Mas quando falamos em ambiente de trabalho leve e feliz, não estamos a falar só sobre fazer happy hours, ter mesas de matraquilhos, espectáculos de stand-up ou escritórios com escorregas. Um ambiente em que os colaboradores se possam sentir seguros emocionalmente, onde possam encontrar um propósito naquilo que fazem, onde se identifiquem com os valores da empresa e sintam que são reconhecidos e valorizados – isto sim, é fonte de bem-estar, é fonte de sorrisos.

Para desmistificar esse conceito de que uma “empresa feliz” é coisa de startup ou de gigantes como a Google, vamos pôr essa fonte de sorrisos a funcionar.

Partilho sete práticas para um ambiente gerador de sorrisos:

1. Olhar individualizado. Perceber os pontos fortes e interesses de cada um. Pois as pessoas sentem-se envolvidas quando têm desafios e fazem aquilo de que gostam;

2. Reconhecimento e valorização. Quando o esforço e o resultado alcançados são reconhecidos de maneira genuína, é claro que aumentamos a confiança da equipa;

3. Liberdade para novas ideias. Ao afastarmos o medo de julgamento, garantimos um espaço livre para a criação;

4. Investir no desenvolvimento pessoal. Quando percebem que estão a evoluir com a aquisição de novos conhecimentos, as pessoas sentem-se ouvidas, consideradas e mais realizadas;

5. Ambiente leve e divertido. A diversão, o lúdico, o brincar leva-nos ao encontro da nossa “criança interior”, promove muita criatividade e, principalmente, conexão entre as pessoas;

6. Promover mais relacionamentos. Momentos de proximidade entre as pessoas podem vir a gerar mais vínculos e aumentar um clima de maior cooperação e menos competitividade;

7. Empatia. Perceber que todos têm os seus desafios pessoais e que se podem sentir seguros para os partilhar no local de trabalho.

Sei o quão desafiador tem sido falar sobre sorriso, felicidade e bem-estar, principalmente em ambiente de trabalho. Temos sido desafiados a gerar cada vez mais resultados e a ser cada vez mais competitivos. E encarar estes desafios de cara amuada não ajuda em nada. Então, que possamos trazer mais leveza aos nossos dias. Afinal, divertido não é o oposto de sério, divertido é simplesmente oposto de chato.

Para colhermos sorrisos, eles precisam de ser semeados. E tal como Harvey percebeu a importância de termos um dia para comemorar o sorriso, gostaria de lançar um desafio: celebrarmos cada dia que passa com um sorriso.

 

Este artigo foi publicado na edição de Setembro (nº.141) da Human Resources, nas bancas.

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