Ana Bernardes, Accenture: «Queremos desmistificar temas relacionados com a saúde mental»

Perante a realidade actual, a importância do bem-estar dos colaboradores ganhou relevância nas empresas. Na Accenture, o tema passou a ser alvo de uma atenção redobrada, sendo direccionado para temas de gestão da saúde mental, do balanço entre o desempenho das funções e a vida pessoal e também na motivação para o exercício físico.

 

A Accenture «centra a sua atenção nas pessoas. Ainda antes do contexto actual que vivemos, os colaboradores já eram a essência da empresa, mantendo-se como um dos seus principais pilares, a par da relação com os clientes», destaca Ana Bernardes, directora de Recursos Humanos da consultora. «A importância do bem- -estar colectivo tem sido uma preocupação desde sempre, mas claro que, neste momento difícil, em que temos a grande maioria dos nossos colaboradores em teletrabalho, tentamos garantir que o bem-estar tenha uma atenção redobrada para que todos nos sintamos o melhor possível na nossa rotina diária, onde o trabalho e a vida pessoal estão, mais do que nunca, misturados.»

Tal como na generalidade das organizações, também na Accenture foi preciso redefinir o conceito de bem-estar em função da pandemia que vivemos. E se antes já dedicava muitas actividades e benefícios associados a este tema, agora o foco é ainda mais direccionado para temas de gestão da saúde mental, do balanço entre o desempenho das funções e a vida pessoal e também na motivação para o exercício físico. A responsável considera que «é essencial garantir que os colaboradores se encontram bem, dentro das circunstâncias, e que sentem que, apesar da distância, continuam a fazer parte de uma equipa que se preocupa com cada um deles».

Antes da pandemia, a Accenture estava focada em «atrair, desenvolver e reter as suas pessoas, proporcionando- -lhes as melhores condições de trabalho possíveis, integrá-las nas equipas e assegurar que eram constantemente acompanhadas. O conceito de meritocracia – o reconhecimento e promoção de colaboradores em função do mérito –, o de igualdade de oportunidades e espaço para todos, o olhar para as capacidades, competências e potencial de cada um estavam no topo das preocupações da organização», partilha Ana Bernardes.

Perante uma nova realidade laboral, tentaram « tirar o melhor partido, criando, por exemplo, projectos de gamificação, nos quais incluímos os nossos colaboradores, de modo a potenciar momentos mais descontraídos no trabalho, ao mesmo tempo em que lhes proporcionávamos um momento didático para perceberem o funcionamento de toda a empresa», conta a directora de Recursos Humanos. «Neste momento, acrescentámos uma maior necessidade de garantir a estabilidade da saúde mental de cada um de nós, e de apoio ao teletrabalho, ao mesmo tempo em que se gerem vidas familiares.»

 

Diversas iniciativas 
No âmbito da saúde e bem-estar, a Accenture tem desenvolvidos vários programas globais, com sessões online, focados em várias necessidades. Por exemplo, a empresa considerou que, nesta fase, seria benéfico apostar no desenvolvimento de mindfulness, sessões que permitem lidar melhor com o stress negativo, criando estratégias de apoio à consolidação de resiliência mental que, no fundo, dessem aos colaboradores ferramentas para que o teletrabalho possa decorrer da melhor forma possível, de modo a não afectar o seu bem-estar mental e físico. «Recentemente, desenvolvemos ainda um conjunto de sessões para as nossas pessoas, que procuram ajudar a cuidar da saúde mental e que abrangem temas desde a gestão do stress, poupança e investimento, equilíbrio família-trabalho, entre outros», acrescenta Ana Bernardes.

Olhando especificamente para o teletrabalho, a responsável chama a atenção para o facto de haver situações distintas que é preciso considerar. «Por exemplo, temos colaboradores que vivem sozinhos e, nesse caso, existe uma grande preocupação em evitar o isolamento; depois há colaboradores que vivem em família e para quem o confinamento foi difícil pelos motivos já conhecidos, seja a gestão da vida familiar, das crianças ou de outros familiares a seu cargo», faz notar. «Neste momento, em que “o novo normal” já está mais incorporado e em que as escolas já reabriram, o objectivo é manter os níveis, não de produtividade, porque essa manteve-se sempre, mas de motivação elevados. E sabemos, e temos sempre em atenção, que existem muitas famílias com membros em confinamento, que necessariamente têm que dar apoio às suas crianças e idosos e a empresa mostra-se flexível para gerir cada caso, individualmente.»

Para quebrar o estigma associado ao bem-estar mental, Accenture criou o Thriving Mind – um programa de bem- -estar holístico, desenvolvido em parceria com a Stanford Medicine e a Thrive Global. Como esclarece Ana Bernardes, este é um dos programas que mais importância ganhou nesta altura, pois permite, de uma forma holística, compreender a ciência por trás da mente, fazendo perceber porque é que o cérebro responde com stress e quais as ferramentas que se podem usar para minimizar os seus efeitos. «Tem a ver com a resiliência mental, com gerar formas de trabalhá-la antes dos problemas mentais se revelarem, ir à raiz, a montante do problema. Esta parceria, com entidades altamente credenciadas, permite aos nossos colaboradores acederem a pequenos instrumentos, a que chamamos microsteps, que, bem geridos, fazem toda a diferença no dia-a-dia.»

 

O bem-estar encarado de forma holística 
Questionada sobre os temas que mais preocupam a empresa neste âmbito, a responsável reforça a preocupação com o bem-estar das suas pessoas, como um todo. Explica: «Pensemos na pirâmide de Maslow, para perceber que, em primeiro lugar, temos de garantir o bem-estar físico e mental dos colaboradores. Quando, em Março, tivemos os primeiros casos de COVID-19, a nossa preocupação foi garantir que todos estavam em casa, seguros, bem como as suas famílias e, acima de tudo, garantir que estavam todos bem. Agora que estamos em casa há alguns meses e, no nosso caso, a maioria não chegou a regressar ao escritório – a nível generalizado –, há que garantir que todos continuam bem e que não desmoralizaram nem estão desmotivados, continuando a investir no cuidado da saúde física e mental».

Ana Bernardes acredita que o facto de terem investido sempre na saúde física, emocional e mental dos seus colaboradores, fez com que a produtividade na Accenture nunca diminuísse. Os programas e webinares/workshops que desenvolve internamente com as suas pessoas, contribuem para que estas sintam que podem dar o seu melhor, tanto a nível pessoal, como profissional. Outras das medidas implementadas, têm a ver com a forma como as equipas procuram manter ligações relacionais, mesmo estando em casa. «Reforçámos a existência de dinâmicas entre equipas, ainda que virtuais, que podem ser reuniões ou convívios», exemplifica. «O objectivo é que não se percam as relações entre todos, muito pelo contrário, queremos que, mais do que nunca, as pessoas procurem saber umas das outras. É este o espírito que vamos incorporando desde o leadership para os outros níveis e que reforça esta proximidade, ainda que em teletrabalho.»

A Accenture sente que os seus colaboradores dão muita importância à participação em actividades que contribuam para o seu bem-estar, não só físico mas também relacionadas com o bem-estar psicológico. E é nisso que tem apostado. «Tivemos em Junho uma semana dedicada ao bem-estar das nossas pessoas, com workshops de comida saudável, como dormir melhor, gestão de stress, entre outros, e sentimos que os nossos colaboradores valorizaram muito este tipo de iniciativas, sentindo-se cuidados pela empresa, o que nos motiva também a melhorar a experiência que proporcionamos», sublinha.

 

Prioridades e tendências
Desde sempre foi intenção da Accenture criar um diálogo com os colaboradores, a todos os níveis. Com esta premissa em mente, a empresa está agora mais focada na questão do teletrabalho, pois, como reforça Ana Bernardes, é preciso «garantir que estamos juntos, que podemos contar uns com os outros, que nos sentimos apoiados, assim como as nossas famílias, e ainda que temos o apoio necessário para estarmos bem a nível profissional». Além do reforço da aposta na comunicação e diálogo entre equipas, uma das prioridades da Accenture consiste em promover um maior bem-estar e investir na saúde mental de cada uma das suas pessoas, e ainda prestar o apoio necessário ao teletrabalho, enquanto os seus colaboradores gerem as suas vidas familiares.

A curto e a médio prazo, a Accenture vai «continuar a trabalhar na experiência das suas pessoas, para que continuem a dar o seu melhor, mantendo os níveis de produtividade, e, acima de tudo, que continuem bem e seguras. «Queremos realçar a importância de programas como o já referido Thriving Mind e desmistificar temas relacionados com a saúde mental», reitera a directora de Recursos Humanos. «A verdade é que é normal que não estejamos a 100%, é normal que estejamos angustiados, preocupados, stressados com o trabalho, com o futuro, com o cuidar da família, dos filhos, de nós.» O objectivo da organização é, principalmente, assegurar que os seus colaboradores sintam que podem contar com a Accenture e que terão sempre o seu apoio, para que possam lidar melhor com os desafios diários que têm surgido.

«Esta pandemia permitiu-nos ter um olhar mais atento às questões relacionadas com a saúde mental dos colaboradores, a nós, e queremos acreditar, a todas as grandes empresas. É cada vez mais claro que a “experiência do colaborador”’ é muito importante para o sucesso das organizações», defende Ana Bernardes, sublinhando que programas de Wellness permitem reduzir o absentismo e atrair talento. «O stress laboral é um dos maiores problemas de saúde que os colaboradores enfrentam, e este momento constitui um ponto de viragem para muitas empresas», acredita. «Os programas de bem-estar indicam aos colaboradores que eles são prioritários para a organização com a qual colaboram. Portanto, implementar este tipo de iniciativas, que neste momento se tornam mais ágeis com a rápida digitalização que vivemos, pode representar uma grande oportunidade de mudança para os líderes de recursos humanos se centrarem, ainda mais, nas suas pessoas.»

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Bem-estar nas empresas”, publicado na edição de Novembro (n.º 119) da Human Resources, nas bancas.

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