Anabela Lobo de Carvalho, Grupo Luz Saúde: Atrair, desenvolver e reter pessoas excepcionais

Anabela Lobo de Carvalho assumiu a liderança de Recursos Humanos no Grupo Luz Saúde no mesmo mês em que o mundo se viu confrontado com a pandemia COVID-19. Gerir este contexto tem sido o principal desafio, mas foram-se adicionando outros.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

O mundo mudou e as pessoas também, nomeadamente na sua relação com o trabalho. Anabela Lobo de Carvalho está consciente de que, por mais que a realidade “normalize”, não volta a ser como antes. E isso traz desafios acrescidos à Gestão de Pessoas. «Cada vez mais empresas se deparam com a dificuldade em recrutar, o que é bem visível na quantidade de ofertas de trabalho que ficam por preencher e nas elevadas taxas de rotação», o que torna incontornável a necessidade de «conhecer melhor os colaboradores, para lhes proporcionar o que procuram e o que os satisfaz no mundo do trabalho». Num grupo como a Luz Saúde, que integra 27 unidades, entre hospitais e clínicas, onde estão empregadas cerca de 12500 pessoas, a complexidade aumenta.

 

Assumiu funções como diretora de Recursos Humanos no Grupo Luz Saúde em Março de 2020, no dia 2 foi detectado o primeiro caso de covid em Portugal e no dia 11 foi decretada pandemia. Como viveu este período? Um início de funções completamente atípico…

Olhando para trás, tenho aquela sensação estranha de ter vivido tantas coisas e de terem ocorrido tantos eventos desde esse dia e, ao mesmo tempo, já – e só! – se passaram dois anos. Vivi aqueles três primeiros meses com uma intensidade inexplicável. A incerteza, o medo, a quantidade de informação diária que era preciso analisar e estudar para se poderem adoptar medidas e comunicá-las. De facto, o contexto em que iniciei estas novas funções não poderia ter sido mais atípico nem mais desafiante!

 

Pode dizer-se que o dia-a-dia já está “normalizado” ou continuam a haver muitos constrangimentos resultantes da pandemia, no que à gestão de pessoa diz respeito?

Passados dois anos, os efeitos da pandemia continuam naturalmente a fazer-se sentir. Neste último mês, o elevado número de pessoas em isolamento tem sido um constrangimento importante, não só pelo impacto directo na assiduidade dos colaboradores, mas sobretudo porque sobrecarrega ainda mais os que se mantêm em funções, num contexto de já enorme desgaste e cansaço.

Todos ansiamos pelo fim desta pandemia, mas temos que incorporar na gestão das nossas pessoas que a realidade, por mais que “normalize”, não volta a ser como antes. Se já víamos nos comportamentos dos mais novos uma tendência para valorizar mais a vida pessoal e familiar, este sentimento é hoje mais notório na generalidade dos colaboradores. Claro que o trabalho continua a assumir uma grande importância na vida das pessoas, mas está mais presente o sentimento de que a vida não é eterna e de que o tempo tem que ser aproveitado da melhor maneira possível.

Temos, então, que encontrar novas formas para manter a motivação e a satisfação dos colaboradores, que passa não só pela flexibilização das formas de trabalho, mas também pela diversificação das suas funções, por mais rotineiras que possam parecer.

 

O que foi fundamental na gestão das vossas pessoas, no sector onde provavelmente ninguém quereria estar em tempo de pandemia? Ou o espírito de missão prevaleceu acabando até por reforçar o vosso propósito e o espírito de equipa, por exemplo?

Fundamental foi a comunicação e a segurança. Os canais de comunicação que se estabeleceram, num contexto em que a presença física estava dificultada, foram fundamentais. Os hospitais e clínicas do Grupo Luz Saúde estão dispersos de Norte a Sul do país, incluindo a Madeira. Apesar de estarmos a falar de profissionais de saúde, por isso “trabalhadores de serviços essenciais” a quem as restrições de mobilidade não eram aplicadas, na verdade, não era praticável estarmos a viajar a todo o momento.

Todos os dias – e muitas vezes mais do que uma vez por dia – havia um novo dado ou um novo procedimento para implementar e por isso tínhamos que “reunir” numa base diária. Valeu-nos a tecnologia, fundamental para assegurarmos a comunicação, que foi sem dúvida um factor decisivo.

Por outro lado, e apesar de os profissionais de saúde estarem preparados para contextos difíceis, não deixam de ser pessoas, e por isso também têm medos e anseios. Um receio generalizado era o de regressar a casa e poder contaminar as famílias. Assim, fizemos acordos com alguns hotéis para acomodarem colaboradores Luz Saúde, fizemos um enorme investimento na aquisição de equipamentos de protecção individual para aumentar as condições de segurança, alterámos os circuitos de funcionamento das nossas unidades, direccionámos o tratamento de determinadas patologias para unidades específicas, para manter o tratamento dos doentes COVID e não COVID em segurança.

Fizemos tudo isto sempre todos juntos. Sem dúvida que o espírito de equipa e de missão prevaleceu.

 

Há alguma história ou momento marcante, que recorde destes quase dois anos?

Em termos profissionais, o dia em que decidimos que o Grupo Luz Saúde não iria aderir às medidas de lay-off. Em termos pessoais, em Janeiro de 2021, quando eu e a minha família ficámos todos com COVID em casa.

 

A transformação digital já estava em curso e a evidenciar a necessidade de se adaptar competências. Por exemplo, vários sectores, nomeadamente o da Saúde, está a recorrer a assistentes virtuais… Que impacto isto tem? Acha que vão ser precisas menos pessoas? Ou pessoas com outras competências…?

A pandemia veio, naturalmente, tornar mais necessária uma resposta digital, também no sector da Saúde. O Grupo Luz Saúde, uns anos antes de tudo isto acontecer, tinha já feito um investimento nesta área, nomeadamente com a criação do Centro Clínico Digital, com disponibilização de videoconsultas em dezenas de especialidades. Assim, os nossos médicos já lidavam com esta ferramenta e os nossos clientes já a conheciam e confiavam nela.

Também tínhamos lançado a app MY LUZ, para marcação de consultas ou exames, ver resultados de análises, etc; e avançámos com a LUZ 24, uma linha telefónica de triagem e encaminhamento para cuidados urgentes e não urgentes na Rede Hospital da Luz.

São apenas três exemplos do investimento digital em que a Luz Saúde apostou. Muitos outros projectos estão em desenvolvimento – porque é esse o futuro imediato que todos os clientes e prestadores sabem ser incontornável. Mas a Saúde é provavelmente um dos poucos sectores onde o trabalho das pessoas nunca poderá ser substituído por máquinas, ainda que seja necessário ajustar tarefas e funções a esta nova realidade. Esse é o caminho que estamos todos a percorrer, neste momento.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Fevereiro (nº.134)  da Human Resources, nas bancas.

Caso prefira ler online, pode comprar a versão em papel ou a versão digital.

Ler Mais