Ângela Santos, Abaco: «A gestão estratégica de RH é hoje o sistema circulatório e linfático da organização»

Perante um ano de incerteza, a Abaco tenciona continuar a recrutar e a crescer internacionalmente, abrindo o caminho às suas pessoas para fazerem o que fazem melhor, complementando os vários talentos numa equipa com foco num propósito comum.

 

Por Sandra M. Pinto

 

Em 2004, nascia no Porto a Abaco. Na sua génese, a vontade de seis consultores de adequar o Software SAP, até então sempre associado a grandes empresas, às pequenas e médias empresas (PME). Quase duas décadas depois, a empresa marca presença em três países, além de Portugal – Brasil, Reino Unido e Suíça –, contando com 230 colaboradores, 140 dos quais em território nacional. Assume como missão oferecer as melhores soluções verticais aos seus clientes em diferentes áreas, nomeadamente engenharia e construção, confecção, calçado e têxtil, sectores alimentar e automóvel.

Ângela Santos, chief Human Resources officer (CHRO) da empresa, faz notar que «a Abaco Consulting tem um posicionamento diferenciado assente em três vectores: posicionamento vertical de mercado, inovação tecnológica e capital humano». Explica: «Posicionamento vertical porque a nossa oferta é focada em quatro sectores de negócio onde temos conhecimento profundo de processos de negócio, conseguindo diminuir a distância de conhecimento entre o cliente final e a empresa implementadora, traduzindo-se numa redução de risco, relevante para ambas as partes; inovação tecnológica, estando sempre um passo à frente na utilização das ferramentas SAP; e no capital humano, a diferenciação reside na cultura da organização, nos seus valores e na forma como interage com os seus clientes, colaboradores e parceiros.»

É aqui, nas pessoas, que reside a causa principal do sucesso da Abaco. «Sem as nossas pessoas, não conseguiríamos responder aos desafios de um mercado, cada vez mais competitivo, motivo pelo qual apostamos desde sempre na valorização contínua e na contratação dos melhores talentos para os nossos projectos, sendo as nossas equipas compostas por profissionais altamente qualificados e com uma vasta experiência no mercado», garante.

A pandemia não pôs em causa estes objectivos e, apesar da elevada incerteza, a Abaco continua com os processos de recrutamento. A CHRO revela que pretendem contratar 40 novos talentos ao longo ano, para as diferentes geografias em que a empresa opera, em áreas como Human Capital Development & Management; Controller de Gestão operacional, Architect & Business Analytics Solution Designer, bem como para as diferentes áreas de consultoria. E sabe que não será tarefa fácil. «Continuamos deficitários de profissionais qualificados no sector das tecnologias de informação, quer em Portugal, quer a nível mundial. Também por isso continuaremos a reforçar o nosso investimento na Abaco Academy, com o objectivo de formar novos consultores, quer para integrar os nossos quadros, quer para o mercado em geral.»

Valorizam nos seus profissionais «o “drive”, paixão e a motivação com que as pessoas se movem, tal como o conhecimento e experiência. Simultaneamente, valorizamos também a assertividade, o pragmatismo, a rapidez de acção, o gosto pela transmissão de conhecimento e aprendizagem contínua com outros, a capacidade de análise de negócio e desenho de soluções, assim como a resiliência e a valorização do trabalho em equipa», continua Ângela Santos.

 

Do longe, fazer perto
Se gerir pessoas nunca foi uma tarefa fácil, perante o contexto actual de pandemia ainda mais difícil se tornou. A responsável não esconde que foram vários os desafios ao longo dos últimos 10 meses e que se prolongarão em 2021. «Mantermo-nos fiéis aos nossos valores e princípios, sobretudo o do desenvolvimento de relações; sermos capazes de, no meio da incerteza, apontar o caminho mantendo a tranquilidade e passando confiança; recolher informação e procurar partilhar com outras pessoas e outros sectores dados, pontos de vista, ideias e acções, pondo-as em prática com as nossas pessoas», enumera Ângela Santos.

Manter o contacto regular é também algo que está no mindset da organização. «O teletrabalho obrigou-nos a estar mais perto das nossas equipas e a descobrir que, mesmo longe fisicamente, conseguimos lidar com situações inesperadas e urgentes, mas também a encontrar dentro de nós a força positiva que nos orienta e que nos permitiu – e continua a permitir – reforçar a nossa cultura organizacional», sublinha a CHRO. E não tem dúvidas de que «as empresas com uma cultura forte são as que mais confiam nos seus talentos e lhes dão autonomia para improvisarem e, assim, se adaptarem mais facilmente».

Acrescenta: «É fundamental ligar e aproximar os colaboradores em torno de discussões relevantes e partilhar informações críticas sobre a organização, nunca esquecendo que cada pessoa é única, tem experiências e expectativas distintas e pode contribuir de formas diferentes, pelo que é necessário conhecê-las bem para poder liderá-las. Um bom gestor de Recursos Humanos articula as suas pessoas, abrindo-lhes o caminho para aquilo que elas fazem melhor, complementando os vários talentos numa equipa com foco num propósito comum.

Essas premissas serão tão mais importantes quando se têm equipas dispersas internacionalmente. E a internacionalização é uma parte importante do futuro da Abaco, a médio e longo prazo. «Os investimentos que temos vindo a realizar para abrir escritórios fora de Portugal permitem reforçar a nossa capacidade de expansão nos mercados mundiais e, ao mesmo tempo, contactar com as melhores práticas internacionais», partilha Ângela Santos. Por outro lado, permite «reforçar a liderança e a capacidade da Abaco de conseguir implementar, não só a nível nacional, como também internacional, soluções fundamentais para o desenvolvimento mais eficiente de uma organização».

Para além de consolidar a presença nas geografias onde está, a Abaco pretende também avaliar novas. «Essa escolha estará sempre ligada à apreciação das condições de abertura ao investimento estrangeiro, em geral, e a dois aspectos específicos, fiscal e laboral, para além da prospecção de oportunidades de negócio e parcerias locais», esclarece, partilhando ainda: «A estratégia da Abaco assentará sempre na exploração dos sectores verticais onde é mais forte e na conquista de clientes internacionais para o seu centro de suporte, em Portugal. Por outro lado, a nossa aposta na excelência das soluções e das implementações que temos vindo a desenvolver é o melhor cartão-de-visita que temos, para além da satisfação manifestada pelos clientes internacionais.»

Cada país onde a Abaco abre escritórios apresenta um desafio adicional ao nível da Gestão de Pessoas, desde logo pelas diferenças culturais. «Para que tudo corra bem, é preciso sabermos como nos adaptar à cultura e às tradições de cada país, mas acima de tudo conhecer o que cada cultura tem de mais positivo e capitalizar como um contributo generalizado para a cultura do grupo. Não obstante, os valores em que a Abaco alicerça a sua cultura são universais, tornando, portanto, o processo de adopção da cultura muito mais simples», faz notar a CHRO.

Longe ou perto, o fundamental é assegurar uma liderança próxima, confiante e transparente. «A proximidade sempre foi nosso apanágio, e isso consegue-se com algumas rotinas e envolvendo as pessoas», afirma Ângela Santos, que reconhece que a comunicação é agora um desafio maior. «É necessário passar mais informação, dar mais contexto, ser mais claro.»

A responsável acredita que «a gestão estratégica de Recursos Humanos passou a outro patamar, é hoje o sistema circulatório e linfático da organização. A eficiência, a produtividade e a gestão de competências técnicas são fundamentais, mas fazem parte do patamar mais básico da gestão e da liderança. Se queremos uma empresa mais saudável, mais rápida, mais forte e mais capaz de se adaptar rapidamente às mudanças, precisamos de uma cultura forte e das pessoas certas que, além de comprometidas, vejam na organização uma extensão de si mesmas e da sua vida.

 

Desafios do futuro
Relativamente a 2021 e aos desafios que se colocam à actividade da Abaco, Ângela Santos afirma estar confiante de que «o próximo ano será globalmente positivo para o mercado das tecnologias de informação, e também para os sistemas de gestão, que terão de se adaptar para responderem aos novos desafios de negócio das empresas, mais flexíveis, móveis e imediatos. Neste contexto, os objectivos da empresa centram-se em três aspectos fulcrais: manter a evolução positiva registada nos últimos anos e consolidar a sua presença internacional, em particular no Brasil; reforçar a aposta em nearshore services, que ganhou maior preponderância em contexto de trabalho remoto; e apostar no reforço das competências que dão corpo à estratégia de especialização em Manufacturing & Operations da Abaco.»

A CHRO completa: «Queremos desenvolver novas oportunidades para explorarmos, seja em termos verticais, seja em termos de geografias. Acreditamos que vamos conseguir aumentar o volume de negócios em Portugal, mas especialmente no Brasil, onde ambicionamos crescer dois dígitos. Seja qual for o mercado, iremos continuar a apostar na diferenciação pela especialização vertical dos mercados e pela capacidade de implementar soluções tecnológicas inovadoras, nas quais somos pioneiros, como no SAP S/4HANA e outras soluções assentes em tecnologias cloud e mobilidade».

 

Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro (nº.122) da Human Resources, nas bancas.

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