António Varela, Comité Olímpico de Portugal: «Para um desempenho de alto rendimento, talento não basta»

Quem vê de fora, poderá achar que a missão do Comité Olímpico de Portugal se concretiza apenas de quatro em quatro anos, e se esgota nos Jogos Olímpicos, mas não. O propósito maior de valorização social do desporto é um trabalho diário, e a comunicação tem aqui um papel importante.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

António Varela está no Comité Olímpico de Portugal desde 2017, e a liderar o departamento de Comunicação desde 2018. A sua função passa por assegurar que é dada visibilidade ao trabalho que é feito pelo COP – e, como destaca, é muito, em prol da valorização social do desporto – e que a comunicação é feita sempre de forma integrada, sem a existência de barreiras que comprometam a mensagem da organização.

 

Quais as particularidades de gerir Comunicação num organismo como o Comité Olímpico de Portugal?
A principal particularidade prende-se com a percepção que a audiência tem da missão do Comité Olímpico de Portugal, ligada à participação da Equipa Portugal nos Jogos Olímpicos. Na prática, julga-se que esse trabalho é feito de quatro em quatro anos e que pelo meio há um hiato durante o qual pouco ou nada acontece. Mas não é assim. Muito pelo contrário.

 

Que trabalho é feito, nesse “hiato”?
A face mais visível da missão do COP é a gestão do Programa de Preparação Olímpica, que culmina nos Jogos Olímpicos, ora de Verão, ora de Inverno, mas no campo desportivo e de organização de equipas representativas de Portugal, o COP intervém também nos Jogos Olímpicos da Juventude – Verão e Inverno –, Festival Olímpico da Juventude Europeia – Verão e Inverno –, Jogos Europeus, Jogos do Mediterrâneo, Jogos Mundiais, Jogos Mundiais de Praia e Jogos do Mediterrâneo de Praia, numa acção que mobiliza dezenas de atletas, treinadores e oficiais.

A organização destas missões exige um trabalho integrado, que começa muito mais atrás. Aventuro-me a dizer que tudo poderá iniciar-se na difusão dos valores olímpicos, que é feita através do Programa de Educação Olímpica do COP, nas escolas, onde os alunos aprendem que o desporto é excelência, é respeito e é amizade. Que continua na formação proporcionada através do programa “The Olympic Performance”, em áreas como a medicina desportiva, a nutrição e a psicologia, e também na área de Integridade, onde atletas e federações são habilitados a enfrentar, entre outros, os perigos da manipulação de competição. O desafio é mostrar que este é um trabalho de todos os dias e não acontece apenas quadrienalmente.

 

Assim, quando assumiu funções, o que definiu como acções prioritárias e que medidas têm sido implementadas para as concretizar?
Precisamente tornar presente em todas as agendas a mensagem do COP de valorização social do desporto. Em termos de comunicação, a organização dá visibilidade ao trabalho que referi, primeiro, no site institucional da organização, através de partilhas nas redes sociais, e também com a revista Olimpo. Depois, procura estar presente no noticiário da comunicação social tradicional.

No final de 2020, em parceria com a Repsol, o COP lançou um meio adicional, a app “Equipa Portugal”, que acompanha toda a actividade dos atletas integrados no Programa de Preparação Olímpica, tanto nos períodos de preparação, antes dos Jogos Olímpicos, como em contexto de Jogos Olímpicos, mostrando uma vez mais que o seu trabalho é diário.

 

Quais têm sido os principais desafios, desde que é responsável pela Comunicação do COP?
A direcção do departamento de Comunicação foi-me confiada em Outubro de 2018, e a prioridade foi comunicar de forma integrada, sem a existência de barreiras que pudessem comprometer a mensagem da organização. E sempre dentro dos tempos considerados mais adequados, respeitando a actualidade.

 

Da mesma maneira que uma empresa tem de atrair talentos, também neste âmbito é fundamental. Se calhar até mais, porque em termos olímpicos não chega ser bom, é preciso ser excepcional. Que análise faz do universo das modalidades do nosso país?
Também aqui, como na economia, há estádios de desenvolvimento diferenciados. Há modalidades mais desenvolvidas do que outras, sendo os resultados desportivos a variável independente na aferição desse desenvolvimento.

Recorrentemente, as alterações do programa desportivo dos Jogos Olímpicos vão colocando desafios nessa área. Por exemplo, em Tóquio 2020, apareceram de novo o Beisebol e o Softbol, e Portugal não esteve representado; estrearam-se o Karaté, a Escalada, o Skateboarding e o Surf – nas duas primeiras não tivemos representação, mas nas duas últimas foram alcançadas classificações expressivas que levaram à obtenção de diplomas olímpicos.

O caminho do desenvolvimento far-se-á, primeiro, na universalização da prática desportiva e, depois, através de uma cultura desportiva que possa ser mais “poli” do que “mono”.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Setembro (nº.129) da Human Resources, nas bancas. Pode também comprar online a versão em papel ou a versão digital.

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