As ações climáticas e o desafio da liderança

Por Luís Roberto, Managing Partner da Comunicatorium e Professor convidado do ISCSP-ULisboa

Longe vão os  tempos em que as empresas tinham como único objetivo,  gerar lucros e pagar os dividendos aos seus acionistas.

Ao longo das duas últimas décadas, a responsabilidade social corporativa passou  a fazer parte da cultura organizativa da maioria das empresas, traduzindo-se no desenvolvimento de programas de grande significado para a comunidade, e a serem vividos internamente como elemento  motivador e mobilizador dos seus colaboradores, em redor do seu propósito.

A agenda global para a sustentabilidade, acordada em 2015 pelos 193 Estados Membros das Nações Unidas,  veio impulsionar a vida nas empresas, tendo-se assistido à integração voluntária das preocupações  ambientais, sociais e económicas, nos planos do negócio e nas relações com os seus stakeholders.

Muitos líderes acreditam  que a sustentabilidade estará totalmente interligada não só com o core business da empresa, mas também com toda a cadeia de valor, conduzida sobre uma estratégia empresarial, e por metas quantitativas possíveis de serem medidas e atingidas.

Os atores financeiros olham os critérios de sustentabilidade ESG – Environmental, Social and Governance, como indicadores vitais  para a solidez da reputação das empresas, e para o sucesso do negócio a longo prazo.

Em paralelo, no último ano, a Comissão Europeia publicou um pacote de medidas que visa garantir que as empresas partilham informações confiáveis sobre a sua sustentabilidade.

Como as mudanças climáticas afetam os negócios, qual o impacto das suas atividades sobre as pessoas e o meio ambiente,  e quais as atividades  económicas que melhor contribuem para cumprir os objetivos ambientais, são alguns dos dados requeridos.

Globalmente, o mundo empresarial começa a assumir um papel determinante na grande caminhada rumo à sustentabilidade, ao investir na melhoria da sociedade, incluindo no avanço das oportunidades de negócio e na promoção de práticas comerciais justas.

Segundo o Business and Sustainable Development Commission, sediado em Bruxelas, estima-se que com a implementação dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, possam ser criadas novas oportunidades de negócio, capazes de  gerar 12 biliões de dólares, com os setores da Saúde,  Mobilidade e Eficiência Energética a ocuparem os lugares do pódium.

Como parte de todo este vasto processo (de transformação), as empresas  estão a adotar novas estruturas organizativas, adequadas à sua dimensão, e a assegurar o recrutamento de novos colaboradores com competências para liderar a área de sustentabilidade.

A criação e gestão dos planos estratégicos de sustentabilidade, nomeadamente na área ambiental, economia circular e biodiversidade, a definição e monitorização de métricas, relatórios de sustentabilidade, e o apoio à comunicação nos temas relacionados com a sustentabilidade, são as responsabilidades mais comuns atribuídas ao novo gestor de sustentabilidade.

A resposta à mudança climática é global e precisa de soluções alinhadas e harmonizadas, pelo que a colaboração entre setores de atividade, através da partilha do conhecimento e das experiências vividas, são um desafio à liderança das empresas.

Normalmente, associamos a sustentabilidade às ações climáticas, mas com efeito, a sustentabilidade significa muito mais.

Significa contribuir também para a erradicação da pobreza e da fome, redução das desigualdades, qualidade do ensino, trabalho digno e crescimento económico, inovação e infraestruturas, cidades e consumos sustentáveis.

Usar o desenvolvimento sustentável como motor de crescimento, vai ser a forma das empresas se diferenciarem,  de consolidarem o seu posicionamento no mercado, e espera-se que os seus líderes assumam um papel mais ativista, no interesse do seu acionista, dos seus colaboradores, clientes e comunidade.

A transformação das empresas e dos seus modelos de negócio,  não são mais um conceito moderno, mas uma obrigação económica face ao mundo atual, e que a liderança, vai ter de conduzir.

A pandemia ensinou-nos que, a menos que cooperemos, não poderemos avançar em direção aos objetivos traçados, e neste caso em particular, a transição climática, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, e o aumento da produção de energia a partir de fontes renováveis, onde o esforço e a coesão das empresas e das industrias, são absolutamente vitais.

O futuro sustentável, é um grande desafio para as empresas e seus líderes, e a sustentabilidade não é mais uma questão de gestão individual, mas sim, de todo o ecossistema.

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