As pessoas no centro da mudança cultural ESG
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) no Dubai, ofereceu uma oportunidade fundamental para líderes organizacionais, e políticos, concordarem sobre o contributo do ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) para evitar a deterioração dos recursos naturais. Mas não só!
Por António Saraiva, Business Development manager na ISQ Academy
Convém, pois, acentuar que as estratégias ESG, centradas em padrões robustos, métricas claras e procedimentos rigorosos, têm como foco melhorar o processo de tomada de decisões organizacional, em particular ao nível de desbloquearem financiamento da dívida e de capital, ao mesmo tempo que geram retorno reputacional significativo. Por isso, o ESG apresenta-se hoje como um imperativo de negócio.
Sem dúvida que os pilares relacionados com a gestão organizacional são determinantes. Mas há um pilar prioritário. O relacionado com as pessoas. O relacionamento interpessoal interno, com fornecedores e clientes é determinante. São as pessoas que definirão como é que o local de trabalho, e até o próprio mercado, é sustentável. Não chega, pois, uma organização içar a bandeira ESG se tem colaboradores insatisfeitos, incluindo forte carga de toxicidade relacional interna.
Como não poderia deixar de ser a análise da cultura organizacional impõe-se. Há factores conexos relevantes, desde as preocupações com cuidados de saúde e de segurança das pessoas, na atenção aos direitos laborais e ao ambiente que se vive internamente. E não chega só mitigarem-se riscos operacionais, já que os reputacionais são factores de ponderação elevada na sustentabilidade organizacional.
Chamar as pessoas para a definição da estratégia ESG pode ser avisado. Conclui-se que é a forma mais prudente de se assumir de forma transversal a mudança. Ou as pessoas a percebem, em particular o que nelas impacta, ou o êxito de qualquer iniciativa cai. Há que olhar para as pessoas como um todo, para as suas competências, mas também para as dificuldades e questões de ordem pessoal. Tudo contribui para um compromisso organizacional e a imersão de cada um no sucesso.
Reconhece-se, hoje em dia, que as práticas ESG apresentam um forte vantagem competitiva. Em particular na atração e retenção de talento. Valores ambientais e sociais, aliados a uma percepção de um governo organizacional forte, até de liderança carismática, são cada vez mais critérios de escolha prioritários. Há sem sombra de dúvida uma atenção particular ao desempenho da sustentabilidade organizacional nos processos de escolha.
A tónica está, pois, cada vez mais na forma como se assume e se processará a mudança cultural à luz dos critérios ESG. Sem essa mudança cultural os princípios ambientais, sociais e de governança enfrentarão grande resistência, seja dos colaboradores, seja dos órgãos de gestão. Ou a administração de uma organização assume o patrocínio da mudança e o incorpora, ou os restantes níveis não estarão disponíveis para aderir. Uma cultura ESG tem três vectores fundamentais: autenticidade, transparência e inclusão. Pretende-se, acima de tudo, uma trabalho identitário, de comunicação contínua e aberta e envolvimento de todos. De outra forma, a estratégia ESG falhará, o que configurará um ónus organizacional de consequências imprevisíveis e nefastas.