Até quando vamos fazer de conta que…
Por Ricardo Florêncio
Estamos em plena época de silly season. E há alguns anos que não se assistia a uma silly season tão vincada. Assim, será o tempo apropriado para reflectirmos sobre o futuro, o que pretendemos mesmo e o que deveremos fazer. Mas até quando vamos fazer de conta de que está tudo a desenrolar-se como deve ser e que estamos a trilhar o caminho certo?
Muito resumidamente, temos duas formas de ver a situação. Ou tomar medidas concretas para resolver os problemas que, antecipadamente, já todos estão a prever que irão ocorrer – e estou a evitar a expressão reformas, atendendo a que o nosso País é, por alguma razão desconhecida, averso a reformas –, ou deixar andar, deixar correr o tempo, e assim ficamos na expectativa, ou na dependência, do que irá acontecer. E depois logo se vê. Penso que é óbvio o caminho a seguir, pois o tempo resolve diversas situações, mas este não é decididamente um desses casos.
Mais uma vez, reitero e repito, que tem de ser um trabalho feito em conjunto. Se for feito na lógica individual, alguns vão conseguir colmatar os seus problemas, mas para o País, para todos, nada vai resolver. E ao fim de algum tempo, até aqueles que conseguiram ir resolvendo os seus problemas, acabam por ser afectados pelos problemas dos demais. Estas medidas têm de ser tomadas em conjunto, entre os três eixos: o universo empresarial (empresas e profissionais), sociedade civil e as entidades governamentais, o Estado. Se não, são meras propostas que não saem do papel, ou, quando postas em prática, ao não terem o apoio dos três eixos, não irão certamente apresentar os resultados pretendidos. Assim, serão apenas oportunidades perdidas.
Haverá sempre quem será contra, mas certamente será possível encontrar caminhos e soluções que vão ao encontro da larga maioria dos intervenientes. Uma política fiscal mais atractiva, uma política de imigração adequada, um sistema de incentivos que traga resultados efectivos, uma legislação laboral mais em linha com os tempos em que vivemos, são apenas alguns exemplos do que temos de fazer. Termino, do mesmo modo que que finalizei a nota de Julho: oxalá todos tenham esta percepção e a urgência destas medidas.
Editorial publicado na revista Human Resources nº 152, de Agosto de 2023