Barómetro Human Resources: Alertas vermelhos na Gestão de Pessoas

A análise aos resultados do LVIII Barómetro Human Resources não traça um cenário muito optimista: da não preparação das empresas em Portugal para pôr em prática a nova directiva europeia para a transparência salarial (e com o tempo a acabar), ao preconceito de idade na contratação, passando pela constatação de que a liderança e gestão é a área (a seguir à digital) onde há maior urgência de (re)qualificação, são vários os alertas perceptíveis.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Na 58.ª edição do Barómetro Human Resources, os temas propostos para reflexão do painel de especialistas foram variados, dos de âmbito mais legislativo aos mais estratégicos, passando por outros incontornáveis na actualidade e com impacto na Gestão de Pessoas. Tendo como inspiração um dos painéis da XXIX Conferência Human Resources, cuja reportagem apresentamos nesta edição, recuperámos o tema da regulação, da contratualização e da fiscalidade sobre o trabalho; quisemos saber como estão as empresas portuguesas em matéria de preparação para a adopção da directiva europeia para a transparência salarial; qual a forma como está a ser encarada pelas organizações a contratação de profissionais +55 anos e, por outro lado, como os especialistas esperam que evolua o número de colaboradores nas respectivas empresas. Também em destaque volta a estar a qualificação e a requalificação e ainda um tema igualmente abordado nesta edição de Abril (no Pequeno-Almoço Debate e na HR Talk), o impacto da inteligência artificial (IA) na Gestão de Pessoas.

Os especialistas do Barómetro Human Resources responderam e damos agora a conhecer os resultados.

 

Da regulação e fiscalidade à transparência salarial
Portugal é frequentemente referido como tendo das legislações laborais mais densas e detalhadas da Europa, sendo a pretensão garantir estabilidade e protecção ao trabalhador, mas surgindo várias críticas à sua falta de flexibilidade e de adequação à realidade. Por outro lado, com um novo paradigma do trabalho que já não é futuro, é presente, com cada vez mais profissionais a querer trabalhar por projecto e com maior flexibilidade, os tipos contratuais existentes permitem “encaixar” estes modelos? Também em relação à carga fiscal sobre o trabalho (tanto para trabalhadores como empregadores), Portugal surge como tendo dos impostos mais elevados, comparativamente à média europeia, argumentando-se que isso retira competitividade às empresas portuguesas na atracção e retenção de talento.

Assim, “Regulação, contratualização e fiscalidade sobre o trabalho: no âmbito laboral, em qual destas áreas é mais urgente haver alterações ou qual tem trazido maiores constrangimentos na Gestão de Pessoas?”, foi a pergunta que serviu de mote à “Conversa de Líderes” da Conferência Human Resources de Março. E foi também colocada ao painel do Barómetro, que surge divido na resposta, destacando-se no entanto a fiscalidade no trabalho e a regulação, ambas com 35%, como as áreas a precisar de revisão mais urgente. A contratualização parece ser o tema que “menos preocupa” os especialistas, tendo reunido 27% das respostas.

Ainda no âmbito legislativo, salientámos a transparência salarial. Publicada e em vigor desde Junho de 2023, a directiva sobre Transparência Salarial deve ser transposta por todos os estados-membros da União Europeia para a sua legislação, até 2026. Ou seja, as empresas serão obrigadas a partilhar informações pormenorizadas sobre a remuneração. Perante a pergunta “as empresas em Portugal estão preparadas para isso?”, não surgem dúvidas: a larga maioria (79%) dos inquiridos afirma que “não, só uma minoria”. Se considerarmos os 9% que acreditam que nenhuma empresa está preparada, ficamos com uns expressivos 88%. Para além dos 6% que não sabem ou não respondem, só 3% confiam que cerca de metade das empresas estarão preparadas para implementar a lei, os mesmos que dizem que todas estão preparadas.

Concretizando a pergunta na realidade das empresas dos especialistas do Barómetro, o cenário surge mais optimista, mas não muito. Apesar de 38% considerarem que a sua empresa está preparada para colocar em prática a directiva europeia para a transparência salarial, sendo preciso fazer apenas ajustes moderados, e de 12% garantirem que estão totalmente preparados, 50% admitem que não estão preparados: 29% constatam que ainda serão necessários ajustes consideráveis, 15% têm dúvidas sobre aquilo a que a nova directiva obriga, enquanto 6% têm dúvidas sobre como implementar aquilo a que a lei obriga.

 

Fique a conhecer todos os resultados do LVIII Barómetro Human Resources na edição de Fevereiro (nº.170) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).

E tem também o comentário dos especialistas (que vamos partilhar individualmente)

– Vera Rodrigues, head of People da MC Sonae

– Teresa Freitas, directora, Talent Team, na EY

– Joana Pita Negrão, People and Culture director da Dils

– Pedro Rocha e Silva, Managing director da LHH | DBM

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