Barómetro Human Resources: Líderes razoavelmente optimistas. Aparentemente…

Saúde mental nas organizações em estado razoável (mas com as pessoas mais intolerantes), produtividade como foco (mas a exigir-se mais dos profissionais e das lideranças intermédias), importância da imigração a crescer (mas nem todas as empresas estão preparadas) e novas gerações a valorizar mais o equilíbrio e o propósito (mas 30% das empresas ainda a adaptar-se). São estas as principais conclusões da 59.ª edição do Barómetro Human Resources.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Vão sendo um tema novo, foi com a pandemia da COVID-19 que a saúde mental ganhou “protagonismo” no dia-a-dia das empresas e não mais o perdeu. Na última edição do ano passado do Barómetro Human Resources, em que perspectivámos os principais desafios do ano novo, a saúde (mental, mas também física) dos colaboradores surgiu como o segundo maior desafio identificado, só atrás da atracção e retenção de talento e à frente a liderança de equipas e do upskilling e reskilling. Voltamos agora ao tema para perceber como tem evoluído, bem como o grau de criticidade que assume actualmente e quais as principais causas. Por outro lado, estamos todos mais intolerantes?

Também de alguma forma recorrente no nosso Barómetro é o tema da produtividade (ou falta dela) em Portugal. Vai ser – ou está a ser – esse o foco das empresas, ou será secundário perante o desenvolvimento das pessoas e a promoção do seu bem-estar? Mais uma vez, quais as causas da baixa produtividade “crónica”? E quem se pode “culpar” por essa realidade?

Ainda mais dois temas em destaque nesta 59.ª edição, centrados na imigração e na sua importância no mercado de trabalho português – e como estão as empresas a integrar, ou não, profissionais de diferentes etnias e origens culturais – e ainda a nova geração e a forma como encara o trabalho, e como estão as lideranças a adaptar-se e a gerir essas expectativas.

Os cerca de 300 especialistas – maioritariamente gestores de Pessoas (75%), mas também presidentes (10%) e directores de Marca, Comunicação e/ou Marketing (15%) – do Barómetro Human Resources responderam. Segue-se a análise dos resultados.

 

Menos saúde mental, mas moderadamente
Com 2025 já a mais de meio, a Human Resources quis voltar a “avaliar” o estado da saúde mental dos profissionais em Portugal. Quando questionados sobre “qual o grau e criticidade que a degradação da saúde mental está a assumir” nas respectivas empresas, mais de metade dos inquiridos (52%) considerou que é razoável e 39% garantiram mesmo que é pouco (33%) ou nada (6%) significativo. Por outro lado, nenhum dos especialistas afirmou que não existem problemas de saúde mental com os colaboradores da empresa.

Em 2021 –, mas ainda em tempo de pandemia – 59% do painel do Barómetro Human Resources admitiu que a saúde mental dos colaboradores se tinha degradado, em todas as funções. No ano passado, mais de 40% dos especialistas do Barómetro reconheceram que situações relacionadas com problemas de transtorno da saúde mental (depressão, burnout, ansiedade, fadiga mental, stress ocupacional) estavam a aumentar, mas moderadamente. Deduz-se assim que, ainda que haja uma notória preocupação crescente com este tema, não reconhecem que seja um “problema grave” nas suas realidades.

Sobre as principais causas para a degradação da saúde mental, podendo escolher até três opções, os especialistas identificaram como a principal causa o desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional (work-life balance/ integration), com 45%, seguida de perto, com apenas menos três pontos percentuais (p.p.) por problemas pessoais – ou seja, colocam “fora da empresa” a causa. No top 3 surge ainda, mas a distância considerável dos dois primeiros (com 27%), a insatisfação com a retribuição/ package salarial. O excesso de trabalho surge com 24%, percentagem igual à “má relação com os superiores hierárquicos e/ou pares”. Factores como o mau ambiente de trabalho ou excesso de responsabilidade foram os menos referidos (6%).

Também em relação ao nível de tolerância/ aumento das tensões nas respectivas empresas, os especialistas são “cautelosos” nas respostas e a ênfase vai novamente para a “moderação”. Assim, 49% confirmam que têm notado as pessoas mais intolerantes, mas “de forma moderada”. Já 24% admitem que se tem verificado “de forma significativa” e 6% afirmam mesmo que “de forma muito significativa”. Já 19% garantem que têm notado “de forma pouco significativa”. Mas fazendo uma análise global, e esquecendo o “grau”, significa que praticamente todos (94%) reconhecem que as pessoas estão mais intolerantes e as tensões na organização estão a aumentar.

 

Falta de cultura de trabalho
Cenário traçado em relação à saúde mental dos profissionais, colocamos a 6% 9% 52% 33% variável – sob a forma mais abrangente da promoção do bem-estar –, nas opções à pergunta sobre qual está a ser/ vai ser o foco das empresas, este ano e no próximo. O bem-estar surge em último, com apenas 6% das respostas. O aumento da produtividade, com 43%, é a prioridade que surge destacada, com mais 16 p.p. do que o desenvolvimento de competências (27%), que surge em segundo lugar, seguido da redução de custos (24%).

Os resultados não espantam, já que é ponto assente que Portugal surge genericamente sempre mal classificado nos rankings/indicadores europeus e mundiais de produtividade De acordo com dados da Comissão Europeia, em 2023, Portugal ocupava a 21.ª posição entre os 27 Estados-membros em relação à produtividade por pessoa empregada – 80,5% da média da União Europeia (UE). Sobre o que justifica essa realidade (podendo escolher até duas opções), 61% dos inquiridos “culpam” a falta de “cultura de trabalho”/ má gestão de tempo dos profissionais, colocando assim o ónus “fora” da empresa. Surgem depois os processos e métodos e as chefias/ liderança, mas a uma distância de 10 p.p. (51%) e 31 p.p. (30%), respectivamente. De notar ainda que nenhum especialista acredita que a justificação para a baixa produtividade está na falta de qualificações dos profissionais, e só 3% acreditam que é devida a falta de motivação. A cultura organizacional e o baixo investimento em ferramentas de produtividade são ambos referidos por 18%.

 

Fique a conhecer todos os resultados do LIX Barómetro Human Resources na edição de Junho (nº.174) da Human Resources.

Disponível nas bancas e online, na versão em papel e na versão digital.

 

E tem também o comentário dos especialistas (que vamos partilhar individualmente)

– Ana Rita Loução, directora de Pessoas & Organização da Generali Tranquilidade

– Mariana Canto e Castro, directora de Recursos Humanos da Randstad Portugal

– Carlos Sezões, Managing partner da Darefy – Leadership & Change Builders

– Pedro Ramos, CEO da Keeptalent Portugal

– Filipa Figueira, HR lead da MSD Portugal

Ler Mais