Capital Humano. (Muito) para lá dos números

Por Paulo Teixeira, bastonário da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução

 

As pessoas não são números. Não podem ser. No entanto, quando pensamos em números, uma coisa é certa, não podemos deixar de olhar para as pessoas. Um olhar que mudou profundamente nos últimos anos, motivando alterações estruturais na lei e, também, nos modelos de gestão.

Atrair, alimentar e conservar talentos são prioridades e desafios que se renovam a cada instante. Sim, nos tempos que correm, o salário não é tudo e a real possibilidade de conciliação da vida profissional, pessoal e familiar passou a ser um requisito no momento da decisão face a uma proposta. Muitos têm sido os progressos nesse sentido. E, se dúvidas houvesse, bastaria visitarmos o Código do Trabalho e pensarmos nos avanços que se têm registado.

Pensemos na evolução verificada nos contratos de trabalho, por forma a dar resposta a uma diversidade cada vez maior de situações, sem comprometer a segurança dos envolvidos. Pensemos nas medidas tomadas em prol de mais igualdade e inclusão, bem como no campo do bem-estar e da saúde mental. Pensemos na crescente relevância da aposta em formação e na actualização de conhecimentos. Pensemos nos direitos reconhecidos aos trabalhadores com filhos e no reforço da flexibilidade, evidente nos estudos desenvolvidos em torno da semana de quatro dias ou no recurso, por exemplo, ao teletrabalho. É, aliás, fascinante como esta modalidade, há muito tempo existente, depois de uma pandemia que nos fechou em casa, não só saiu normalizada, como, em muitos casos, acabou por ser adoptada como a alternativa preferencial, obrigando a regulamentação capaz de proteger direitos e deveres de trabalhadores e empregadores.

E aqui tenho de deixar uma referência ao que é o permanente esforço dos profissionais que servem a Justiça e que, no seu dia-a-dia, procuram simplificar a relação dos cidadãos com o que é a Lei e o Direito. Refiro-me, obviamente, também aos associados da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução, que, a par do seu currículo académico, estágio e da vasta experiência, esgotam acções formativas na convicção de que, quando a mudança é uma outra “constante da vida”, só assim poderão corresponder devidamente aos seus clientes e honrar a profissão (e a missão) que escolheram.

A verdade é que, num país apontado e reconhecido como uma referência na formação de quadros altamente qualificados, ainda muito há a fazer (e a melhorar) para que não faltem motivos para por cá se querer ficar. É claro que temos de ter em mente o quão global é, hoje, o mercado de trabalho. Tão global que, em muitos casos, graças à tecnologia, podemos trabalhar para uma empresa sediada a milhares de quilómetros de distância.

Contudo, temos de olhar para este facto como uma oportunidade, que, obviamente, traz desafios. E temos, acima de tudo, de reaprender a gerir recursos humanos, de redefinir e partilhar boas práticas, conscientes das especificidades do nosso tecido empresarial e na certeza de que as pessoas não cabem em números. Tanto pelo que representam para as organizações, como pelo que ambicionam encontrar num emprego.

Por isso e enquanto bastonário de uma Ordem que representa profissionais ligados à Justiça, não poderia terminar este artigo sem deixar um conselho: seja enquanto trabalhador, seja enquanto empregador, não “facilite” quando em causa está um direito contemplado na Constituição portuguesa, o direito ao trabalho, o qual, naturalmente, acarreta deveres e, como vimos, infinitas possibilidades no campo da protecção e da valorização. Contacte um solicitador e tome decisões informadas. Porque, lá está, quando o capital é humano, os números não são tudo e há muito que já está na lei.

Ler Mais