Carla Sequeira, secretária-geral da CIP. «O Projeto Promova é um incentivo claro à transformação cultural em prol da igualdade de género»

A CIP – Confederação Empresarial de Portugal apresenta a segunda edição do Programa Promova, criado para desenvolver talentos femininos com potencial de liderança, tendo como objetivo fomentar a sua promoção a funções de gestão de topo das empresas.

 

Por Sandra M. Pinto

 

A iniciativa inovadora em Portugal, inclui, em parceria com a Nova School of Business and Economics, um programa de formação de Executivos e suporte ao desenvolvimento das participantes através de sessões de networking, coaching e mentoring cruzado, entre muitas outras atividades, como explica em entrevista à Human Resources Carla Sequeira, secretária-geral da CIP.

 

Quando e como surgiu o Projeto Promova?
O Promova surge da necessidade de encontrarmos novas abordagens para promover de forma mais eficaz a cultura da igualdade de género nas empresas. A CIP defende-o há muito tempo e, inspirada na experiência do Proyeto Promociona, um projeto da nossa Congénere CEOE – a Confederação de Empregadores Espanhola – decidimos avançar.
A CIP desenvolveu uma parceria com a CEOE e, com o apoio do Mecanismo Financeiro Plurianual do Espaço Economico Europeu, conhecido como EEAGrants, concretizámos a primeira edição, que foi apresentada no final de 2019 e que ainda decorre.

A que necessidades veio ele dar resposta?
O Promova constitui um incentivo claro à transformação cultural em prol da igualdade de género, mas responde também a uma necessidade que temos que é a aprendermos a aproveitar melhor o capital humano que temos disponível. As empresas não podem desperdiçar talentos, necessitam, nas diversas funções organizacionais, das pessoas mais bem preparadas e com melhores competências, sejam homens ou mulheres. Por maioria de razão, esta questão é ainda mais relevante nas equipas de liderança, direção e administração das empresas. As empresas que têm equipas de gestão com maior equilíbrio de género são mais inovadoras e obtêm melhores resultados de negócio, com crescimento e rentabilidades mais elevadas.
Com este programa, a CIP visa contribuir para acelerar estes processos de transformação cultural nas empresas, donde resultam evidentes vantagens competitivas vitais ao crescimento da economia e das empresas.

A caminho da segunda edição, qual a filosofia e principais pilares do projeto?
Temos como objetivo, como disse, a promoção da igualdade de género nas empresas, porque entendemos que se trata de uma clara questão de justiça social e porque existem, também, óbvias vantagens económicas para a comunidade.
Procuramos fazê-lo, através do Promova, contribuindo para a identificação e o desenvolvimento de talentos femininos com potencial de liderança e fomentando a promoção de mais mulheres a funções de gestão de topo das empresas. Para as empresas, é fundamental não desperdiçar talentos e contar com pessoas mais bem preparadas e com melhores competências, sejam homens ou mulheres.

Quais os factores que distinguem o Projeto Promova?
O Projeto Promova é um programa de desenvolvimento e empoderamento para executivas que procura reunir no mesmo plano curricular diferentes valências. Por isso, desenvolvemos, em parceria com a Nova SBE, um programa de um ano, que incluir módulos de formação executiva de alta qualidade, sessões de coaching em que é feito um plano de desenvolvimento individual, sessões de mentoria cruzada e um vasto leque de eventos de networking entre as participantes e com líderes de topo.

Em que consiste a mentoria cruzada?
As empresas, ao inscreverem as suas participantes no projeto, devem também apresentar um mentor, um líder de topo da organização, que fará a mentoria de uma participante de outra organização participante.
O grupo de mentores terá, depois, um workshop sobre mentoria e a organização do projeto fará o matching de forma cruzada, tendo por base o perfil e plano de desenvolvimento de cada participante e o perfil e experiência de cada mentor.

Projeto desenvolvido com o apoio dos EEA Grants e desenvolvido em parceria com a Nova SBE tem a duração de 1 ano. Qual o balanço da primeira edição?
O balanço é muito positivo. Até agora, atingimos todos os objetivos a que nos propusemos. As candidaturas iniciais ascenderam a quase 50, das quais foram selecionadas 32 participantes, de um leque diversificado de empresas.
A pandemia de covid-19 obrigou-nos a atrasar o início do projeto e, também, a adaptarmos o modelo que tínhamos preparado às limitações desta situação de exceção, mas a verdade é que foi possível concretizar o programa, que está, nesta altura, a meio, com um feedback muito positivo por parte das participantes.
Tanto a avaliação dos módulos formativos já realizados como o feedback sobre as sessões de coaching e sobre os eventos de networking fazem-nos ter confiança de que serão as próprias participantes as principais promotoras desta segunda edição.

A pandemia afectou de alguma forma a sua realização? 
Como disse, fomos obrigados a atrasar o início do programa, que estava previsto começar em março, quando o país acabou por entrar em estado de emergência. Começámos três meses depois, já adaptados às condicionantes criadas pela situação de exceção, com mais sessões realizadas em ambiente virtual. Foi possível, por exemplo, desenvolver atividades de networking online em que as participantes tiveram a oportunidade de partilhar experiências de gestão em tempos de covid-19, o que teve resultados muito interessantes na aproximação das participantes e na sua motivação para o programa.

Quantas candidaturas receberam? De quantas empresas?
As 32 participantes foram selecionadas de entre 50 candidatas de 27 empresas.

A quem se dirige?
O Promova dirige-se a empresas que tenham na sua equipa talentos femininos com ambição e potencial para crescer para funções de gestão de topo (C-level), que já estejam a exercer funções de coordenação ou de gestão, com um mínimo de 10 anos de experiência, e que sejam apoiadas pelas respetivas empresas nesse projeto de desenvolvimento e crescimento profissional.
As candidatas serão sujeitas a um processo de seleção, com base no seu curriculum e numa entrevista, em que têm a oportunidade de expressar a sua motivação.

De que forma se desenrola o projecto?
O projeto tem a duração de um ano, começando com um processo de avaliação 360º em competências de liderança. A formação executiva em sala decorre em quatro módulos de três dias e é intercalada com sessões de coaching individual e eventos de networking. No final do programa formativo, desenvolvem-se as sessões de mentoring e o programa termina com uma nova avaliação 360º, que permitirá a cada uma das participantes percecionar a sua evolução.
O programa é assim composto por diversos momentos e metodologias que permitem não só o upskill das competências das participantes, mas também o desenvolvimento e a dinamização de uma comunidade, de uma rede de mulheres executivas.

Que resultados conseguiram na primeira edição?
A primeira edição está, ainda, a decorrer, mas, como disse, o feedback que temos tido é muito. Cumprimos os objetivos a que nos propusemos, o que é ainda mais relevante dado ter sido concretizado num período especialmente conturbado, com todas as condicionantes criadas pela pandemia.

O que se pode esperar desta segunda edição?
O mesmo sucesso e um número cada vez maior de empresas e participantes. Sabemos que existe procura, por todas as candidaturas que tivemos e pelos contactos que temos tido, e vamos procurar responder a essa necessidade.
Também houve toda uma aprendizagem que foi feita nesta primeira edição, que nos levou a reforçar o programa formativo, a introduzir mais uma sessão de coaching e mais valências, como o mindfulness, que acrescentam ao plano curricular que já testámos.

De acordo com a sua experiência de que forma tem evoluído este tema?
Permito-me dizer que, neste domínio, Portugal tem tido uma evolução muito positiva e a realidade já permite algum otimismo. No entanto, temos de ter a consciência de que há ainda um longo caminho a percorrer que urge acelerar, porque quanto maior a nossa capacidade, enquanto comunidade, para aproveitar o capital humano que temos disponível, maior o nosso desenvolvimento.

Qual é hoje a importância da diversidade na gestão de topo das empresas?
Os estudos demonstram que as empresas que têm equipas de gestão com maior equilíbrio de género são mais inovadoras e obtêm melhores resultados de negócio, com crescimento e rentabilidades mais elevadas. É isso que procuramos.

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