Catarina Tendeiro, Ageas: «Ser feliz no trabalho importa. E muito.»

As empresas têm cada vez mais um papel fundamental – ainda que não sendo as únicas responsáveis – em nutrir várias formas de felicidade para que o bem-estar dos colaboradores seja potenciado.

 

Por Catarina Tendeiro, directora de Recursos Humanos do Grupo Ageas Portugal

 

Começo por questionar: o que é a felicidade? Não é uma pergunta de resposta linear e o que me faz feliz a mim pode ser diferente do que faz ao meu par, às minhas lideranças ou à minha equipa. Depende da nossa etapa de carreira, de vida, de gostos pessoais e do alinhamento entre empresa e colaborador.

É fundamental impulsionar uma cultura em que as pessoas encontrem um propósito individual abraçando o propósito global, e onde todos sejam resilientes perante a mudança, num ambiente que estimule uma visão mais intuitiva e criativa do lado positivo/oportunidade das situações. Tudo isto num espaço seguro para lidar com a vulnerabilidade de cada um.

Ainda que existam tantos factores diferenciadores, verificamos que as pessoas se sentem realizadas por desenvolverem as suas competências e talento, e valorizam muito o sentimento de pertença e de contributo para os objectivos da empresa e de criação de valor para a sociedade. Nesse sentido, a gestão da felicidade pode começar desde logo pela criação de uma cultura empresarial forte, com valorização das pessoas, promovendo valores como o trabalho de equipa, a colaboração e o envolvimento das equipas nas decisões chave.

São muitos os pensadores – filósofos, psicólogos, neurocientistas e, mais recentemente, economistas – que estudam este tema há mais de duas décadas, sendo já inequívoco que há grandes impactos na criatividade, eficácia, retenção de talento e rentabilidade das empresas que trabalham activamente a felicidade.

Acredito que as empresas que valorizam a felicidade tornam-se mais atractivas, competitivas e inovadoras. Defendo, por princípio, que devemos humanizar os negócios, criando um ambiente onde as pessoas sabem que podem ser elas próprias, se sentem bem, têm espaço para dar e acolher feedback e têm possibilidade de escolha no acesso ao que mais lhes traz bem-estar. Talvez para algumas pessoas felicidade signifique poder trabalhar a partir de casa todas as manhãs, para outras significa ter acesso gratuito a bebidas quentes e snacks e ainda para outras ter uma progressão rápida de carreira.

Como mencionei no início, as empresas não são as únicas responsáveis, e cada pessoa também tem um papel fundamental na sua felicidade. Procurar dar feedback, conhecer-se, querer desenvolver-se e sugerir melhorias, são acções que fazem a diferença no dia-a-dia. Se mantemos o foco no que não está tão bem aos nossos olhos, a tendência será para continuar a vislumbrar problemas e, mesmo que a empresa proporcione mais oportunidades diferenciadoras, a probabilidade de parecer insuficiente será grande.

E como gerir pessoas é estar lado a lado do negócio, analisar métricas e objectivos, também esta é uma medição importante a realizar e a trazer para as agendas das nossas lideranças, comunicando à empresa. É necessário introduzir estudos específicos que permitam aferir níveis de felicidade, e que inclusive possam trazer indicadores preditivos na retenção de talento e/ou na saúde física e emocional das nossas pessoas.

Em suma, trazer o tema da felicidade para a actualidade empresarial importa ou não? Para mim, é mais do que uma moda ou tendência e deve estar presente nas empresas sem medos ou tabus. Afinal, ser feliz não é o que mais desejamos na vida? A vertente profissional ocupa tanto do nosso tempo e energia que não faz sentido não haver momentos de felicidade, não se incentivar esta postura de vida. Deixemo-nos contagiar!

Este artigo foi publicado na edição de Dezembro (nº. 120) da Human Resources, nas bancas.

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