
Celfocus. Diversidade além do discurso: O desafio da transformação real nas empresas
Nas últimas décadas, muitas organizações têm adoptado discursos em torno da diversidade, equidade e inclusão (DEI), frequentemente incorporando estas palavras nos valores corporativos ou em programas internos.
Por: Eva Reis, People Development director da Celfocus
No entanto, a prática muitas vezes levanta dúvidas: até que ponto essas iniciativas são verdadeiramente integradas em todas as dimensões do ambiente empresarial, ou apenas estratégias de marketing para atender expectativas sociais e económicas?
Embora a diversidade seja frequentemente celebrada como chave para melhorar o desempenho organizacional e atrair talentos, o impacto prático nem sempre é evidente. Em teoria, equipas CELFOCUS diversas trazem perspectivas variadas, promovem maior criatividade e impulsionam a tomada de decisão. Contudo, na prática, muitas organizações falham em criar um ambiente onde essa diversidade possa realmente florescer. Grupos sub-representados frequentemente relatam sentir-se marginalizados ou ignorados em espaços que, superficialmente, alegam ser inclusivos. Isso leva a uma questão crítica: o simples acto de contratar talentos diversos é suficiente para promover inovação e melhorar o desempenho? Ou é necessário um esforço contínuo e estruturado para criar espaços onde todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas?
Outro ponto de análise está na capacidade das empresas de medir o impacto real das políticas de DEI. Muitas vezes, os resultados dessas iniciativas são divulgados em termos de metas de recrutamento ou participação em eventos, mas estas métricas são insuficientes para capturar os resultados mais profundos, como mudanças culturais ou impacto na satisfação e produtividade das pessoas. Como medir então a eficácia real? Indicadores qualitativos, como avaliações de clima, ou feedbacks das pessoas que integram a organização, devem ser avaliados a par de métricas quantitativas para fornecer uma visão holística e confiável.
No entanto, a sustentabilidade e seriedade dessas práticas são questionáveis. Um dos desafios mais complexos é garantir que iniciativas de DEI sejam uma prioridade estratégica contínua, e não apenas uma tendência passageira em resposta a pressões externas. Diversidade verdadeira vai muito além de acções isoladas ou performáticas – trata-se de transformar culturas corporativas enraizadas em hierarquias e preconceitos. Tal transformação exige compromisso inabalável das lideranças, alocação de recursos adequados e planeamento de longo prazo. Infelizmente, em muitos casos, essa promessa de transformação profunda acaba cedendo lugar a abordagens simplistas ou apáticas, especialmente quando os resultados são difíceis de materializar ou quando conflitos internos surgem.
As empresas podem evitar o risco de superficialidade investindo em estratégias estruturadas e sustentáveis. É essencial que a diversidade seja incorporada em todos os processos e decisões, desde o recrutamento às promoções, até mesmo na interacção com clientes. Além disso, os líderes devem assumir papel activo e visível como defensores dessas práticas, reforçando que não se trata apenas de um movimento temporário, mas de um pilar estratégico fundamental.
O papel dos stakeholders é também crucial na sustentação e evolução das políticas de DEI. A participação activa contínua das pessoas, sugerindo melhorias e levantando questões difíceis, é vital. Clientes e parceiros comerciais, por sua vez, têm o poder de exigir transparência e resultados tangíveis. Em última análise, a integração real da diversidade em todas as práticas empresariais só será possível quando houver alinhamento entre valores corporativos e acções concretas.
Portanto, a questão permanece aberta: até que ponto as organizações conseguem sair do discurso e passar para práticas genuínas que transformam ambientes corporativos? A resposta depende de uma combinação de compromisso, reflexão crítica e esforços contínuos. Diversidade pode ser a chave para atrair talentos e melhorar o desempenho, mas somente quando for tratada como um esforço profundo e estratégico, e não como um acessório de tendências passageiras. As empresas que entendem essa diferença estão mais preparadas para liderar, inovar e prosperar num mundo cada vez mais complexo e diversificado.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Diversidade, Equidade e Inclusão” que foi publicado na edição de Abril (nº. 172) da Human Resources.
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