
Como a IA está a transformar a função dos juniores de TI no mercado de trabalho
Por Fábio Jesus, R&D Senior Engineer, agap2IT
Durante anos, a indústria digital foi vista como um paraíso profissional, capaz de oferecer oportunidades de trabalho em diversas atividades, tais como marketing, análise de dados, gestão de produto e, especialmente, no desenvolvimento de software. Por ser um universo em constante expansão, existiu sempre a necessidade de integrar novos profissionais em diversos cargos, sendo alguns mais antigos, como o programador e o analista, e outros que surgiram com novas necessidades, como os gestores de comunidades digitais e os especialistas de UX/UI.
Devido à drástica evolução das tecnologias de Inteligência Artificial (IA), entre outros fatores, esta janela de oportunidades está cada vez mais estreita. As tarefas outrora essenciais tornaram-se parcialmente, ou até completamente, automatizadas e, como consequência, o mercado reduziu significativamente a contratação de profissionais com menos experiência.
As ferramentas baseadas em IA, como o ChatGPT, o Copilot e, mais recentemente, o Codex, já são capazes de reproduzir, em parte, um fluxo de desenvolvimento que vai desde a conceptualização de ideias até aos testes e à geração de documentação, oferecendo contribuições significativas para o ciclo de vida de um projeto. Assim, o trabalho anteriormente realizado por uma equipa composta por profissionais em início de carreira pode hoje ser desempenhado por um elemento mais sénior com a assistência de IA. Isto levanta questões sérias sobre a garantia de empregabilidade para recém-licenciados e a sustentabilidade de funções cujas responsabilidades poderão, a longo prazo, ser substituídas por sistemas automatizados.
Apesar de ser difícil prever o quão evoluída esta tecnologia estará nos próximos anos, atualmente está longe de ser completamente autónoma. Depende fortemente da forma como o utilizador descreve as suas necessidades, podendo interpretar mal os pedidos e apresentar resultados imprecisos ou descontextualizados. Como tal, continua a ser necessário empregar alguém para garantir que os resultados correspondem às expectativas, assim como para propor soluções criativas e adaptáveis à realidade — tarefas que os profissionais juniores são capazes de realizar, mas que estão fora do alcance da inteligência artificial. No entanto, esta competência isolada não é suficiente para garantir a sobrevivência profissional num mercado mais competitivo.
Com menos oportunidades disponíveis, os profissionais em início de carreira devem assegurar que se destacam. Isto apenas será possível se, ao longo do seu percurso académico e profissional, construírem um portefólio robusto que demonstre a sua curiosidade intelectual, adaptabilidade face às mudanças, paciência, e sobretudo, a capacidade de aprender de forma contínua — qualidades que a inteligência artificial ainda não consegue replicar.
Mais importante ainda, estes profissionais devem encarar a IA como um assistente, e não como um concorrente. Por agora, esta não é o novo profissional. É a nova ferramenta. Um assistente incansável, um parceiro de reflexão, um “rubber duck” hiperativo. Mas precisa sempre de alguém que a oriente — e essa poderá ser a nova missão dos profissionais juniores de TI: participar menos em tarefas repetitivas e mais em desafios complexos, que promovem o seu crescimento técnico e intelectual, com a ajuda da IA.