Como está o sector do Recrutamento a responder à crise actual? Partner da FIND responde

A actual pandemia trouxe desafios a todos os sectores, e o do Recrutamento não é excepção. Há princípios base que é preciso manter, mas também é preciso uma adaptação às novas necessidades. E algumas mudanças vieram para ficar.

 

Com 15 anos de experiência no recrutamento e consultoria no universo do Direito, a FIND trabalha diariamente «com sentido criativo e espírito de melhoria contínua na prestação de serviços». Fazendo uso do seu «conhecimento específico e aprofundado», investe no contacto com os candidatos, realidade que lhe permite a necessária agilidade de resposta para continuar a fazer face às necessidades dos clientes. Em entrevista à Human Resources, Filipa Mendes Pinto, fundadora e partner da FIND destaca também como está o sector do Recrutamento a responder à crise actual.

 

A FIND é a única empresa portuguesa de recrutamento e consultoria com especialização e exclusividade para o mundo do Direito. Sendo uma actividade tão específica, qual o impacto imediato que sentiram no recrutamento deste sector, como consequência da actual pandemia?
Como impacto imediato tivemos a suspensão de alguns processos, mas simultaneamente, a continuidade e a conclusão com o desejado sucesso de outros.

 

O novo coronavírus também está a criar oportunidades de emprego, nomeadamente nos sectores de bens essenciais. No sector onde actuam, como se reflecte esta realidade, sendo que as sociedades de advogados têm estado também particularmente, dadas as novidades de legislação que quase diariamente sai relacionada com as medidas para fazer face à crise?
O mundo do Direito sente, por norma, as situações de crise num tempo ligeiramente mais tardio que os demais sectores. Em 2008, o grande impacto demorou cerca de dois anos, agora o maior impacto sentir-se-á em meses, dada a transversalidade desta pandemia, em termos sectoriais, e dada também a sua dimensão mundial. Neste âmbito, antecipo que as oportunidades surjam, não tanto no imediato, mas mais a partir do quarto trimestre, e que as mesmas tendam a gerar mais situações de integração e/ou fusão de equipas e até de sociedades de advogados e de algum reforço dos departamentos jurídicos.

 

Em termos de recrutamento, quais os aspectos essenciais que devem ser levados em conta, neste contexto de excepção?
Sempre colocámos uma atenção muito especial na percepção da necessidade do cliente e no aconselhamento do recrutamento, quando e se o mesmo fizesse efectivamente sentido, de acordo com as linhas de negócio decididas pelo cliente.

Nesta fase, aconselharia, mais do que nunca, total transparência no processo, de forma a serem explicitadas as expectativas e capacidades de um lado e do outro, elevaria a exigência da avaliação de determinadas competências, como sejam as relativas à capacidade de adaptação, flexibilidade e sentido de compromisso, e não penalizava o tempo concedido a cada processo, pois o recrutamento e a filosofia que o norteia devem continuar a ser uma bandeira diferenciadora de cada organização.

 

Digitalização é, hoje mais do que nunca, a palavra de ordem, nomeadamente no recrutamento, dadas as restrições às deslocações. Acha que vai mudar irreversivelmente a forma de recrutar?
Esta crise e o confinamento a que obrigou vieram potenciar as capacidades de relacionamento por via digital, conferindo uma naturalidade ao contacto por essa via, até para as gerações mais “seniores”. E veio para ficar.

O recrutamento é um sector que deve ver neste momento uma clara oportunidade para refrescar a sua forma de trabalhar, mostrando-se mais ágil na adaptação e na resposta às necessidades dos seus clientes.

 

Percebem se há, por parte das empresas, a preocupação de se tornarem mais digitais?
Claramente. Mesmo no mundo do Direito – mais conservador por natureza – há a percepção da necessidade de dar lugar, em certos temas, às tecnologias enquanto ferramentas importantes na melhoria da eficiência e produtividade.

 

No pós-pandemia, de que forma podem as empresas fazer uma melhor triagem das pessoas perante o volume da oferta, que vai certamente crescer?
O foco deverá continuar a ser o de saber muito bem qual a necessidade sentida, para melhor identificar o perfil que se pretende recrutar e, desta forma, mais facilmente seleccionar quem se ajusta ao perfil.

 

E como é que isso se vai processar?
Aqui assumirá especial importância a fluidez da comunicação dentro da empresa, evitando-se uma atitude muito típica portuguesa que é a de assumir que o outro – o que vai ficar responsável por conduzir o processo de recrutamento – sabe qual é a necessidade. Por outro lado, a empresa deve revisitar os critérios de avaliação de forma a estar segura que os métodos e procedimentos que aplica – seja em contexto de entrevista, seja em contexto de complementos de avaliação, podendo estes ser de vária ordem – continuam ajustados ao propósito da empresa e ao caminho que esta fase, nova para todos, irá ditar.

 

De que forma está a FIND preparada para responder à procura no pós-COVID-19?
A forma como temos sempre pautado a nossa actuação, por um lado, e o investimento que colocamos nos contactos com os nossos candidatos, por outro, permitem-nos ter a necessária agilidade de resposta para continuarmos a fazer face às necessidades dos nossos clientes.

 

Que novos desafios enfrentam as empresas da área ao nível da gestão e valorização dos seus recursos humanos?
Esta vivência a que todos fomos forçados nos últimos dois meses trouxe o benefício de desmistificar a importância da presença física, no local de trabalho, à qual as sociedades de advogados eram especialmente sensíveis, sem que tal afecte, necessariamente, a capacidade de produção e entrega. Neste sentido, será muito provável que não apenas o teletrabalho mas também a gestão mais flexível dos tempos alocados à vida profissional ganhem um espaço de reconhecimento que até agora se tinha mostrado difícil.

 

De que forma a vossa empresa actua junto dos seus clientes?
A FIND comemora em 2020 os 15 anos de actividade e, se há um denominador comum na opinião dos nossos clientes, arriscaria dizer que é a proximidade da relação e a confidencialidade na gestão da informação e condução dos processos. E isto para nós é, sem dúvida, muito esclarecedor da forma como actuamos.

 

Quais é que são os principais pilares da vossa actuação?
Diria conhecimento do mercado e das suas necessidades, proximidade e lealdade na relação com os clientes, rigor e sigilo na condução dos processos.

 

Qual a missão e a filosofia de trabalho da FIND?
Trabalhar todos os dias com sentido criativo e espírito de melhoria contínua na prestação de serviços cada vez mais estratégicos e cirúrgicos, fazendo uso do nosso conhecimento específico e aprofundado e da nossa experiência de 15 anos neste ramo.

 

Quais as mudanças significativas que podem surgir perante as novas formas de trabalho implementadas, como é o caso do teletrabalho?
Uma das principais será o reconhecimento da qualidade do trabalho prestado em local diferente do habitual, bem como do aumento da produtividade pela necessidade de maior foco durante a realização das tarefas e, ainda, a capacidade de valorizar o curto prazo em detrimento da ansiedade com o longo prazo.

 

A agilidade representa aqui um factor muito importante?
Sem dúvida. Flexibilidade e agilidade serão palavras de ordem estruturantes dos próximos tempos.

 

Quando for possível retomar a normalidade, como acha que o panorama do recrutamento se vai comportar e que ensinamentos retiram desta situação?
Todas as situações de crise são geradoras de oportunidades e, neste âmbito, o sector do recrutamento vai continuar a desenvolver um papel fundamental na identificação e avaliação do talento, o qual será, como o foi e é, determinante para o sucesso das empresas. No entanto, estes momentos são igualmente esclarecedores para aqueles que norteiam a sua conduta por valores menos robustos e por uma atitude menos consistente e rigorosa, em busca de um sucesso mais rápido. São momentos que mostram a enorme importância da auto avaliação, pessoal e institucional.

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Recrutamento e Selecção”, publicado na edição de Maio (n.º 113) da Human Resources.

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