Como pode a tecnologia potenciar a inclusão no local de trabalho?

Investir em tecnologias de forma a reduzir as barreiras de comunicação e a combater preconceitos inconscientes é um passo na direcção certa.

 

Por Fabio Rodriguez, country manager da OrCam Technologies em Portugal e Espanha

 

Ao longo dos anos, as organizações têm procurado tornar as suas empresas cada vez mais inclusivas, diversificando, pelas mais variadas razões, as proveniências e características dos seus trabalhadores. A verdade é que muitos estudos sugerem que a diversidade é algo não só importante para a moral dos colaboradores, como também para os rendimentos da empresa.

Segundo um estudo da Mercer de 2019, uma força de trabalho diversificada pode trazer experiências únicas e capacidades de colaboração, comunicação, inovação e pensamento criativo que, de outra maneira, não existiriam. A multiplicidade de formas de pensar pode proporcionar uma melhor compreensão (e requerimentos) da base de clientes, já que uma grande parte delas também é diversa. Ter uma organização diversa cultiva a inovação, algo que é crucial no mercado actual.

Ainda assim, importa ter em atenção que uma análise exclusivamente referente aos números de contratações poderá ignorar um facto fundamental acerca da dinâmica do local de trabalho: só porque uma organização contrata uma variedade de etnias, culturas, géneros e capacidades, não quer dizer que a sua taxa de retenção seja alta.

A título de exemplo, e focando o caso dos colaboradores com deficiências, o principal problema que enfrentam é a taxa de retenção. De acordo com o Instituto para Investigação de Políticas Públicas no Reino Unido, apenas uma minoria dos indivíduos (17%) nasce com alguma deficiência, enquanto que os restantes a adquirem durante a sua vida laboral. Perante este contexto, é importante que os empregadores tenham conhecimento de como podem agilizar os processos de retenção de talentos dentro das suas organizações.

Felizmente, à medida que aumenta a conscientização para o problema, também se tem verificado um aumento de inovações tecnológicas que pretendem ajudar a resolver as falhas de diversificação no mundo laboral. As tecnologias destinadas à diversidade e inclusão (D&I) podem ser categorizadas nas seguintes áreas: aquisição de talento, desenvolvimento na empresa e retenção.

Neste sentido e na área de aquisição de talento, já são várias as aplicações e softwares que podem auxiliar os profissionais de Recursos Humanos a contratar de maneira menos enviesada (anonimizando as características menos relevantes dos candidatos) e que facilitam o processo de contratação de pessoas com deficiências auditivas, visuais e motoras (pois os auxiliam a identificar objetos e a executar ações do quotidiano).

No desenvolvimento, também a realidade virtual pode começar a fazer parte do treino dos colaboradores. Num estudo da Universidade de Stanford, a experiência dos “sapatos virtuais” demostra como a realidade virtual pode ajudar a colocar qualquer colaborador na posição de outro, ou seja, através da criação de um avatar, estes experienciam uma variedade de cenários onde estão sujeitos a algum tipo de preconceito.

Relativamente à retenção, é essencial que a tecnologia auxilie os colaboradores a desenvolver as suas funções sem auxílio dos colegas, de forma a que estes ganhem confiança no seu trabalho e, ao mesmo tempo, sintam que são uma parte integral e fundamental da organização.

Por outro lado, através da integração de ferramentas tecnológicas poderá também ser possível verificar, frequentemente, se estes se sentem incluídos e integrados. Seja esta na forma de wearables, que ajudam pessoas com deficiência a ter uma vida laboral mais completa e produtiva ou através de plataformas que facilitem o processo de feedback e de report aos chefes de equipa, de modo a que os colaboradores se sintam ouvidos e percebam que, de facto, estão a ser implementadas mudanças de acordo com as suas reais necessidades. Mas, mais importante, que entendam que não estão a ser excluídos devido às suas diferenças.

Contudo, obviamente, que as dificuldades na inclusão e diversidade no local de trabalho não serão resolvidas de um dia para o outro, mas investir em tecnologias de forma a reduzir as barreiras de comunicação e a combater preconceitos inconscientes é um passo na direção certa. As empresas que utilizem as tecnologias neste sentido, serão as que atrairão talentos únicos, dispostos a contribuir para o sucesso das organizações e, consequentemente, conseguirão obter uma produtividade mais elevada.

 

 

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