Comunicar, inspirar e ter alguma paciência, foram alguns dos conselhos de liderança de Rui Miguel Nabeiro e Clara Raposo

Pessoas e empresas não podem ser vistos como uma dicotomia, a importância da comunicação, de ter paciência e por vezes moderar o ritmo da mudança, e também de ter, não só as pessoas certas, mas os líderes certos, capazes de inspirar, foram algumas das ideias-chave destacadas por Rui Miguel Nabeiro, CEO da Delta Cafés, e Clara Raposo, dean do ISEG Lisbon School of Economics & Management na “Conversa de Líderes», que se realizou ontem, na XXII Conferência Human Resources.

Por Margarida Lopes

 

Ricardo Florêncio, CEO do Multipublicações Media Group, que assegurou a moderação da “Conversa de Líderes”, deu início ao debate com questionando os convidados sobre quais são as suas prioridades, actualmente. E onde “ficam” as pessoas.

Clara Raposo fez desde logo notar que, «sendo gestora de uma faculdade, a matéria-prima são pessoas. É importante ter em conta os diferentes tipos de pessoas com que estamos a trabalhar, uma são os recursos humanos da empresa, que são variados porque temos os professores universitários, com características especiais para gerir, por outro lado temos colaboradores que trabalham em funções mais administrativas e que têm outro tipo de necessidades, e temos ainda os estudantes. Há um esforço especial de comunicar com as pessoas, é importante pensar como é que a faculdade pode informar e formar as pessoas.»

 

Depois de concordar que, «pessoas ao centro, de facto, pois se alguém alguma vez se achou que não era assim, estava distraído, e se teve sucesso, foi sorte», Rui Miguel Nabeiro sublinhou que «pessoas e empresas não podem ser separadas, não é uma dicotomia. Na Delta, há 3600 colaboradores que, se não estiverem felizes, preparados, focados e motivados, o resultado não vai ser bom. A cultura da Delta sempre foi de proximidade e, por isso, o distanciamento preocupou-me», admitiu. «O informalismo,e  o cara a cara,  resolve muitos problemas. Mas, durante este tempo, a Delta não desacelerou os programas de inovação, e criou novos, como o Delta Feel Good, que promoveu encontros  entre os colaboradores para fomentar a proximidade entre eles».

Agora, sem restrições, as empresas estão a fazer as pessoas voltar, mas o processo nem sempre está a ser fácil. No caso da Delta Cafés, e sendo que grande parte do negócio é operecional e, por isso, um grande grupo de colaboradores esteve sempre a trabalhar presencialmente, «foi-se comunicando gradualmente aos que ficaram em teletrabalho, as datas em que o regresso ia acontecer e demos abertura para diálogo em situações pontuais». Mas, deste a presente semana, que voltaram todos. E o responsável garante que não sentiu “clivagem” entre as pessoas e a empresa, até porque «foi tudo muito planeado».

 

O caso do ensino também tem especificidades que, de alguma forma, inibe o remoto. Como constatou a dean do ISEG, não é possível ter 4500 alunos a ter aulas presenciais e tudo o resto em casa. «É preciso trazer vida aos espaços e foi isto que acabei por ter de fazer. Foi montada uma escala para que as pessoas se fossem sentindo confortáveis com o regresso», contou, acrescentando: «Temos estado num processo de profunda transformação nos últimos anos. Estamos a crescer, temos cada vez mais alunos, e sentir a alegria no trabalho ajuda. Mas há momentos em que as pessoas têm mais dificuldade em acompanhar o ritmo, houve problemas de saúde mental e pessoas que começaram a ter problemas de ansiedade, e por isso é preciso ter calma, paciência e moderar o ritmo das mudanças», reconheceu.

Rui Miguel Nabeiro concordou partilhando que também na Delta Cafés está a ser «um processo de adoptação para todos. Foi necessário ter paciência.» Igualmente importante, é «ter, não só as pessoas certas, mas o líder certo, que tenha a visão correcta para o negócio, e que seja capaz de inspirar as suas pessoas. É também importante estar rodeado de gente que ajuda a criar uma estratégia para se chegar aquilo que é a visão. Estou rodeado de pessoas muito diferentes e tenho de saber como chegar a todas elas de forma diferente, orientá-las para atingir as metas. É fundamental saber ouvir. Curiosamente, a pandemia ajudou a haver um maior alinhamento, porque passei a fazer um briefing diário, logo de manhã, com a equipa. Isso garantiu um alinhamento na comunicação.»

Também para Clara Raposo este período tem sido uma experiência de liderança fantástica e única. «O ISEG foi a primeira instituição a fechar, dia 9 de Março de 2020. Informei que a escola ia fechar, mas que na semana seguinte tinha que retomar a actividade. Não sabia como, mas tinha de ser. No dia seguinte houve uma reunião com as segundas lideranças para delinear a estratégia. Foi um momento de grande união para a instituição», recordou. «É necessário não perder os grandes objectivos de vista, mas dar um bocadinho de margem às pessoas para se adaptarem e ser paciente, para atingir os objectivos sem descurar as pessoas», reiterou.

Perante o desafio de deixarem um conselho ou uma ideia principal aos líderes, Rui Miguel Nabeiro salientou a importância dos líderes terem uma visão concreta de para onde querem ir. «O líder não é só o CEO, o líder podemos ser todos nós, tendo o papel de sermos capazes de acrescentar valor à nossa organização. Os conselhos não podem ser só para quem tem mais responsabilidade, os conselhos são para todos. É também importante haver uma preocupação com as pessoas que estão connosco, ter capacidade de escutar e as pessoas sentirem que podem acrescentar.»

Clara Raposo salientou a importância de haver uma ligação entre os Recursos Humanos e os CEO. «Este é um período em que é importante os responsáveis de RH estarem “em cima” dos CEO e até fazerem algum coaching na forma como devem gerir a comunicação e a motivação das pessoas Uma boa forma de reagrupar as pessoas é trazê-las de volta e dar-lhes formação, investindo na sua capacitação, para terem mais ferramentas para responder aos novos desafios e sentirem-se parte de uma organização com propósito», concluiu.

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