Contratar psicólogos para as organizações? Sim (e não só para melhorar o bem-estar das pessoas)

Por ocasião do Dia do Psicólogo, celebrado ontem, o Bastonário, Francisco Miranda Rodrigues, reflecte sobre o papel abrangente (e por vezes desconhecido) dos psicólogos e a sua relevância para o mundo corporativo.

 

Por Francisco Miranda Rodrigues, Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses

 

Os psicólogos não são só clínicos e da saúde. Os psicólogos não são só educacionais. Os psicólogos são os profissionais que aplicam uma ciência que estuda o comportamento e os processos mentais. A sua abrangência é assim muito grande e as suas competências podem ser aplicadas ao longo de todo o ciclo de vida e por todos contextos sociais.

Antes da pandemia já existiam muitos psicólogos a prestarem os seus serviços às organizações. Nem sempre a apresentação enquanto psicólogo era vista como uma mais-valia e por vezes até era omitida para que os serviços fossem “bem aceites”. Aliás, umas das razões para o aparecimento, em meados do século XX, do coaching, é precisamente a dificuldade de aceitação do trabalho dos psicólogos apresentando-se como tal. Se dissessem ser coachs já não havia problema. Estigma? Sim. Ignorância? Também. Felizmente que o mundo é feito de mudança e que algumas das mudanças são positivas.

Apesar de tudo, é recente que o óbvio se torne evidente para as organizações e que o trabalho dos psicólogos, sem rebaptismos, seja normalizado e naturalizado. Contratar um psicólogo ou uma equipa de psicólogos para o desenvolvimento da organização, apoiar mudanças culturais, desenvolver e implementar novas estratégias com envolvimento das pessoas, transformar as lideranças e desenvolver as suas competências é contratar um profissional que cumpre requisitos de formação e experiência exigentes, que desenvolve a sua actividade de acordo com a evidência científica da psicologia, que está comprometido com um código deontológico, a partir do qual pode ser escrutinado e responsabilizado.

O psicólogo não é um curioso, nem alguém formado em alguns fim-de-semanas, nem alguém que simplesmente acha que tem jeito para as pessoas, nem alguém que se limita a aplicar umas técnicas… não. Pelo contrário, muitas vezes o psicólogo é, para além do que já descrevi acima, um profissional altamente especializado.

Hoje, os psicólogos são importantes para a cibersegurança, sistemas de gestão da qualidade, no marketing e nas vendas ou na gestão de risco, só para referir aquelas que poderão ser áreas menos conhecidas da sua intervenção. São menos conhecidas, menos utilizadas e por isso áreas onde os benefícios da sua intervenção são menos aproveitados.

O que é cada vez mais certo e reconhecido é que estes são os profissionais que podem apoiar as organizações a terem melhores resultados quanto ao bem-estar das pessoas que as fazem nelas trabalhando. São eles que podem realizar as avaliações de riscos psicossociais cada vez mais inevitáveis e necessárias para uma estratégia que tenha em conta o conhecimento científico que liga mais bem-estar a mais produtividade. Isso significa menos sofrimento individual, menos doença física e mental e menos necessidade de remediar, ora criando mais pressão no SNS – Serviço Nacional de Saúde, ora gastando recursos financeiros pessoais. Isso também significa organizações mais sustentáveis.

Todos os dias são cada vez mais dias de psicólogos* do trabalho e das organizações. Ou isso ou é um dia perdido para a sustentabilidade ou mesmo sobrevivência de algumas organizações e, certamente, um dia com perda de valor.

 

*Os licenciados, mestres ou doutorados em psicologia não são necessariamente psicólogos. A forma de saber se são é verificar se estão inscritos na Ordem dos Psicólogos Portugueses, cujo registo é obrigatório para o exercício da profissão em todos os sectores de actividade e áreas de intervenção desde 2009. As organizações não são excepção.

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