Costuma duvidar das suas capacidades? O seu juiz interior não é seu amigo; o seu sábio é. Aprenda a ouvir o último

Já alguma vez duvidou de sua capacidade de fazer algo? Já imaginou “será que sou suficientemente bom?” Eu, por exemplo, senti alguma apreensão quando pensei em escrever um artigo para a revista Coaching World. Como eu, talvez você também tenha um juiz interior dissuasor das suas iniciativas e acções.

 

Por Carmen Acton, MBA, PCC – Professional Certified Coach da ICF pela International Coaching Federation

 

O meu juiz interior disse-me logo “nem penses, achas que és uma autora, mas olha que não és. Há pessoas muito mais inteligentes do que tu, deixa essas coisas para elas. E se houver leitores que pensam que o que escreves é um monte de banalidades, vais ficar mesmo envergonhada”.

Como é que se lida com estes juízes interiores para que possamos ouvir o sábio, o que se baseia na nossa sabedoria? Desenvolvendo os nossos músculos de autocontrolo.

O que é que diz a Ciência?
De acordo com a neurociência cognitiva, estarmos sintonizados com os nossos sinais emocionais – assim como com as nossas sensações, pensamentos e fisiologia – é importante para desenvolvermos as nossas capacidades de autoconsciência e autocontrolo.
Se não aprendemos a assumir o controlo e a construir caminhos neurais positivos mais fortes, a nossa mente pode tender em focar-se no lado negativo das coisas. Quando o nosso juiz interno se sente ameaçado podemos sentir a “garganta apertada” e entramos em modo de luta, e fugimos ou ficamos paralisados.

Muitas vezes, temos dentro de nós um juiz superdimensionado e um sábio subdimensionado que estão em permanente discussão sobre o que devemos fazer. Para modificarmos os nossos comportamentos, precisamos de desenvolver músculos mentais que consigam modelar os nossos pensamentos, suposições, emoções e reações. A boa notícia é que podemos mudar e construir caminhos neurais positivos mais fortes: os nossos músculos mentais de autocontrole. Claro que isso requer esforço e continuidade ao longo do tempo, tal como com tudo o que aspiramos a fazer bem. A recompensa é menos “gargantas apertadas” e uma recuperação mais rápida.

Para enfrentar o seu juiz interior, desenvolva os seus músculos mentais de autocontrole
1. Foque-se em perceber o estímulo que desencadeia pensamentos negativos. Um exemplo pode ser ver um e-mail de alguém irritado (estímulo) e pensar: “O que há de errado agora?”

2. Descubra as sensações, pensamentos ou sentimentos mais comuns que sente quando esse estímulo é accionado. As sensações corporais geralmente fornecem nossa primeira pista. Por exemplo: sua respiração fica superficial e sua frequência cardíaca aumenta; sente uma dor de cabeça ou o seu corpo fica tenso. Qual é a conversa do seu cérebro? O que diz seu juiz interno? Qual é a emoção que sente?

3. Interrompa a espiral negativa, pensando e tomando consciência da emoção que sente e dê-lhe um nome. É impaciência, raiva, medo, pavor ou tristeza? A nomeação envolve o córtex pré-frontal e ajuda a acalmar a “garganta/amígdala”, dando-lhe acesso ao seu juiz sábio e a níveis mais elevados de raciocínio.

4. Aprenda a dizer a si mesmo: “Vou manter a calma e verificar com o meu eu sábio” e faça isso mesmo. Pense nisso como se tivesse a carregar num metafórico “botão de pausa”.

5. Desenvolva uma prática sensorial consciente e consistente. Alguns exemplos incluem respirar profundamente várias vezes, lentamente, ou fazer um “abano” corporal. Faça esta prática de dois a cinco minutos, três vezes ao dia. Essa atenção concentrada e intencional ativa o seu córtex pré-frontal, dando à mente uma poderosa alavanca de autocontrolo que você pode depois accionar no momento em que for necessária.

Exercer o autocontrole de forma contínua permite que o seu sábio interior esteja mais acessível e fácil de activar quando observar que a sua atenção se está a desfocar ou quando detectar uma conversa interna negativa.

Sintonize-se com o seu sábio interior
O meu juiz interior tem-me “protegido” da sensação de estar a ser julgada ou não ser boa o suficiente. Teve uma influência tão forte no que eu faço que na verdade estava a impedir-me de fazer as coisas com facilidade. Se este for o seu caso também, tente o seguinte.

Quando o seu juiz interno dominar, ligue para o sábio perguntando:
1. Do que tenho medo e por quê?
2. Qual é o melhor cenário?
3. O que é possível aqui?
4. O que eu arrisco se não tentar? Vou arrepender-me se não tentar?
5. Quem está no controle: o pensamento ou o pensador? (adaptado de Susan David, PhD)

Envolva activamente a sua atenção e músculos de autocontrolo para superar pensamentos e emoções que o impedem ou tornam as coisas mais difíceis do que o necessário. Use os cinco mandamentos anteriores, e irá ouvir o seu sábio interior com mais frequência do que o barulho do seu juiz interior.

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