COVID-19. O impacto nas organizações sociais portuguesas continua preocupante

Mais de metade (55%) das organizações sociais em Portugal mantém as suas receitas em queda devido à situação causada pela COVID-19, revela a segunda edição do estudo conduzido pelo Nova SBE Data Science Knowledge Center (DSKC), em parceria com o Nova SBE Leadership for Impact Knowledge Center.

 

Uma recuperação de mais de 20 pontos percentuais quando comparada com o primeiro questionário, realizado entre 30 de Março e 3 de Abril, durante o estado de emergência, onde se constatou uma queda de receitas em 77% destas organizações, mas um número que ainda mostra bem o forte impacto negativo que a pandemia tem vindo a causar nas actividades e operações diárias do sector social.

O estudo revela que deste universo de 55% das organizações que continua a observar uma diminuição das suas receitas, 37% explica esta quebra pela redução dos donativos, 28% pela redução dos seus produtos ou serviços apesar da retoma da actividade, 17% afirma ainda não ter retomado a actividade e 4% aponta ainda a perda de acesso a fundos públicos ou privados como a principal razão.

Em sentido inverso, apenas 10% das organizações afirma estar a observar um aumento de receitas, indicando que esta retoma deriva de receitas de produtos e serviços já existentes antes da pandemia de SARS-CoV-2 (65%), da recuperação de donativos (20%), receitas de novos produtos ou serviços (15%), de apoios financeiros (15%) e ainda de outras receitas (10%).

No total das 232 organizações sociais inquiridas nesta segunda vaga do estudo da Nova SBE – realizado de 24 de Junho a 20 de Julho –, distribuídas por todo o território nacional (Continente e Ilhas), a maioria tem o serviço social (centros sociais e lares) como principal actividade (52%), seguidas de outras actividades dedicadas à saúde (10%), educação (9%), protecção ambiental e bem-estar animal (6%), cultura, comunicação e atividades de recreio (4%), ou outras.

O estudo mostra ainda que no que concerne a custos, cerca de metade das organizações (47%) revela haver um aumento, um número em linha com as respostas do primeiro estudo (45%). A grande maioria das organizações (85%) aponta a aquisição de Equipamento de Protecção, Desinfecção e Segurança como a maior causa para esta subida de custos, 21% das organizações justifica também o aumento de custos com gastos associados a tecnologia adotada durante este período, e 20% destas explica o aumento associado à compra de produtos/serviços que anteriormente eram doados.

De acordo com esta segunda edição do Nova SBE Data Science Knowledge Center, após o desconfinamento e no decorrer do gradual regresso à actividade, continua a verificar-se uma redução expressiva do número de voluntários nestas organizações, tendo 38% destas manifestado a quebra, uma tímida recuperação de 5% quando comparada com o período de estado de emergência, onde se constatou uma redução de 43% no número de voluntários. Esta redução na força de trabalho é ainda agravada pelo recurso ao lay-off, mecanismo utilizado por cerca de um quarto (24%) das organizações sociais.

Regista-se, no entanto, uma evolução positiva do receio da necessidade de despedimento de colaboradores, 70% acredita agora não enfrentar risco de despedimentos dos seus colaboradores, número que compara com os 63% registados na primeira edição do estudo.

Relativamente aos principais desafios enfrentados por estas organizações, 14% indica ter sentido dificuldades no processo de candidatura aos apoios financeiros e 10% refere a existência de atrasos nos pagamentos.

Quando inquiridas sobre que mudanças trouxe a pandemia na forma de desenvolver a sua actividade, 67% refere à adopção de medidas de protecção e segurança, seguido pela maneira como se desenvolve o trabalho (nomeadamente em teletrabalho, trabalho por turnos ou maior digitalização) (48%) e também na alteração da gama de produtos e/ou serviços oferecidos (22%).

Questionadas sobre se acham que esta pandemia está a criar algum problema social, a grande maioria refere o possível aumento dos problemas de foro psicológico (88%), nomeadamente depressão e ansiedade, seguido de perto com o aumento do desemprego (75%) e da pobreza (73%).

«É extremamente importante monitorizar os impactos da pandemia no sector social, de forma a que os decisores públicos e privados tenham a informação necessária ao desenvolvimento de medidas de apoio adequadas. Se, por um lado, este estudo nos mostra que alguns dos desafios destas organizações parecem estar de momento controlados, como é o caso dos despedimentos e do receio da necessidade dos mesmos (97% das organizações não teve necessidade de despedir), por outro lado, o volume de organizações com diminuição de receitas e aumento de custos é bastante expressivo. É ainda de salientar a aceleração da transformação digital destas organizações, impulsionada pelo contexto actual, que é considerada por 56% das organizações questionadas como um veículo para aumentar o seu impacto social», salienta Lénia Mestrinho, directora Executiva do Nova SBE Data Science Knowledge Center.

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