COVID-19. Os efeitos do Estado de Emergência no jornalismo

Estas são as principais conclusões do estudo sobre os “Efeitos do Estado de Emergência no Jornalismo no Contexto da Pandemia Covid-19”, que inquiriu 890 jornalistas em Portugal, entre os dias 22 de Maio e 8 de Junho de 2020.

 

Durante o período da declaração do Estado de Emergência (DEE), a pandemia da COVID-19 dominou a agenda jornalística, ocupando de forma esmagadora o trabalho de 68% dos profissionais que desenvolviam a actividade. Destes jornalistas, 39,3% disseram que o tema da COVID-19 representou três quartos do seu trabalho e 29% afirmaram que só trataram questões relacionadas com este assunto.

Apenas 4,4% dos jornalistas inquiridos referem não ter tratado temas relacionados com a COVID-19. Uma boa parte destes trabalhos foi realizada em contexto de teletrabalho, uma vez que, com a DEE, as redacções praticamente se transferiram para o domicílio dos jornalistas.

O número dos profissionais que não faz reportagem aumentou. Uma percentagem significativa de jornalistas enfrentou, durante o Estado de Emergência, as consequências do lay-off e viu os seus rendimentos ou os do seu agregado familiar diminuírem.

As expectativas sobre a profissão baixaram significativamente. Quintuplicou o número de profissionais para quem seria, depois da DEE, muito provável ou provável perder o trabalho de jornalista a curto prazo: se 5,4% dos 799 respondentes admitiam a perda de emprego antes da DEE como provável ou muito provável, essa percentagem passou a ser de 27% depois  da DEE.

A crise sanitária aumentou as preocupações com princípios deontológicos, como o rigor da informação. Os jornalistas inquiridos têm uma reflexão crítica acerca do trabalho realizado durante a DEE. Sobre se o contexto resultante da DEE colocou questões deontológicas particulares no exercício do jornalismo, 56,7% dos respondentes afirmaram que sim. Esta percepção é mais alta entre os jovens, que têm até 30 anos (65,9%), os estagiários (65,2%) e os que tinham até dois anos de profissão (65%) e só encontra paralelo, em termos de percentagens, entre os inquiridos que auferiam mais de 2.500 euros mensais (63,9%).

A tendência de precarização e a crise dos média agudizaram-se. O inquérito procurou saber qual a posição dos
jornalistas sobre as possibilidades de o Estado apoiar no financiamento dos média. De uma forma geral, as posições eram tendencialmente favoráveis, mas a opinião dos jornalistas é mais consensual quando essa possibilidade se colocou como uma forma de fazer frente à crise das empresas de comunicação social, resultante da COVID-19 e da DEE.

Entre os detentores de contrato a prazo, a percentagem é de 88,1%, seguindo-se os profissionais do jornalismo regional/local (84%), os titulares de Cartão de Identificação de Equiparado a Jornalista e de Cartão de Colaborador nas Comunidades Portuguesas (86,7%) e os membros da direcção dos média (86,5%). Os jovens jornalistas (até 30 anos de idade – 82,6%; que têm até dois anos de profissão – 82,5%; ou entre três e cinco anos de trabalho – 82,6%) mostram-se também particularmente sensíveis a esta questão.

Desenvolvida por investigadores do Centro de Administração de Políticas Públicas e do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Universidade de Coimbra, esta pesquisa foi realizada numa parceria com a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), o Sindicato dos Jornalistas (SJ) e a Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom).

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