Dar relevância às pessoas para eliminar vícios de conduta

Independentemente das crenças, ou não crenças, fixemo-nos no conceito atribuído à tradição cristã, desde o século IV, das respectivas premissas bíblicas de pecado capital, se bem que a literatura considere a sua origem na alquimia e rituais egípcios e babilónicos, muito antes do cristianismo. Falamos, pois, do que vulgarmente se pode designar de defeitos ou vícios de conduta. Neste caso, a manifestação de comportamento, indexado ao código moral e ético. É nesta lógica que se torna relevante a reflexão.

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

 

Não interessa sobremaneira detalharmos os sete pecados capitais. O importante é o conceito, o qual devemos analisá-lo à luz da Gestão de Pessoas. E não falamos unicamente em termos organizacionais, temos mesmo de o considerar no todo da sociedade. Estamos certamente conscientes e envolvidos em todo um processo de mudança, em que a transformação digital é uma das mais soberanas. E com a Inteligência Artificial, ainda mais. O intuito é chegar a todos. Mas será que conseguimos tal abrangência neste momento? A resposta é obviamente um não. Façamos só uma análise ao que nos está mais próximo.

Confrontamo-nos cada vez mais com um atendimento virtual, com pedidos e respostas digitais. Com serviços online na hora, em todas as vertentes da nossa vida. Cada vez mais as plataformas existentes, nos dão as respostas às questões que colocamos, e até são capazes de ultrapassar o nosso esforço de criação. Mas tudo é tão digital que, mesmo quando alguém nos responde do outro lado da linha, de uma forma geral tem atitudes agressivas se está numa posição de poder ou de venda, ou se engasga nas respostas quando solicitamos algum esclarecimento. Porquê? Porque deixámos de nos preocupar com preocupações relacionais, em particular o que podemos chamar de humanização.

Esquecemo-nos que a transformação digital tem, sem dúvida, a importância de nos facilitar a vida e não de complicar o nosso quadro de interacção social. Nem tão pouco tornar as pessoas vulneráveis, em particular as mais… vulneráveis, passe esta redundância assumida! Há toda uma população que carece de literacia digital, ou mesmo acesso a meios e ferramentas. Não escamoteamos o facto de existir disponibilidade para contactos presenciais em alguns serviços, mas mesmo esses apelam, muitas vezes, a um agendamento por… via digital! Não podemos deixar de levar em linha de conta a frustração que muitas pessoas sentem. Algumas têm alguém próximo que as auxilia, outras não tanto. Num caso e outro, o sentimento de dependência pode conduzir a sentimentos de inoperância que poderá impactar na respectiva saúde mental. Tomemos por exemplo a população mais idosa que, ao longo da vida, conquistou a sua autonomia e, hoje, vê-se confrontada com a dificuldade em responder de forma autónoma.

O pecado capital é sempre a falta de relevância ao elemento humano. Por mais imparável que seja a mudança, as Pessoas têm sempre de ser o cerne das decisões e das acções. Há sempre um código ético e moral a levar em linha de conta, com risco de se produzirem condutas socialmente irreparáveis.

 

Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor desde 2009.

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