DECO PROteste e Google ensinam crianças e jovens a não abrir a porta (digital) a estranhos

Decorreu na semana passada a primeira das conferências integradas no projeto “Net Viva e Segura”, que junta DECOProteste e Google. Este ano, o evento que juntou stakeholders foi dedicado ao tema do momento: a inteligência artificial.  

 

Promovendo a participação activa e crítica dos jovens na construção de uma Internet mais segura, através do debate de questões como o bem-estar digital, a segurança, a pegada digital saudável, as interacções online, a influência no crescimento das crianças e jovens e o papel dos adultos na intermediação entre os mais novos e os ecrãs, assim como o seu impacto nas oportunidades e desafios no mundo digital, o projecto “Net Viva e Segura” já realizou mais de 50 conferências e workshops desde 2017, contando com a participação de mais de 10.000 alunos e o envolvimento da comunidade escolar e educativa.

A conferência (AcademIA) deste ano, dirigida a stakeholders, focou-se nos novos desafios no digital e na sua influência na Educação.

João Ribeiro, Country manager da DECO PROteste, abriu o evento e destacou a importância de uma reflexão em conjunto: «É fundamental sabermos agir de forma crítica e construtiva. Levar o debate às escolas, ouvir os jovens, para que não sejam meros utilizadores, potenciando o gosto por aprender e pelo conhecimento.»

«Na Google, tudo o que criamos para crianças, adolescentes e famílias é concebido para proteger, respeitar e capacitar. Isto significa pré-definir fortes protecções de segurança e privacidade, respeitar as famílias ao oferecer-lhes escolha e flexibilidade, e capacitar as crianças com experiências adequadas à idade e encantadoras, para que possam explorar, crescer e brincar online em segurança. A literacia mediática é a pedra angular dessa capacitação, e este programa, que é parte da nossa parceria de sete anos com a DECO PROteste, vai ao encontro dessa missão», destacou Bernardo Correia, Country manager da Google Portugal, ao encerrar o evento.

A abertura ficou a cargo de Margarida Balseiro Lopes, ministra da Juventude e Modernização, que destacou o problema do cyberbullying entre as crianças e os jovens. «Um inquérito europeu a 31 mil crianças entre os 11 e os 18 anos revelou que duas mil já tinham sido vítimas de cyberbullying. São números impactantes e que revelam que é preciso capacitar pais, professores e assistentes operacionais e, ainda, criar linha nacional de apoio», defendeu, lembrando a importância de projectos de literacia e que «nada disto se faz só com Estado».

No debate sobre “Espaço digital como lugar de Futuro – Os novos desafios no digital com a Inteligência Artificial – A influência do digital na Educação”, o painel contou com Adolfo Mesquita Nunes, advogado, especialista em Direito Público e Regulatório, Bernardo Caldas, especialista em Dados e Inteligência Artificial, co-fundador da associação Data Science for Social Good Portugal, Hélder Bastos, inspector da Polícia Judiciária, e Magda Cocco, advogada especialista em Comunicações, Protecção de Dados & Tecnologia e Digital Frontiers.

Recordando que actualmente «se consegue criar modelos de inteligência artificial no quintal», através de open source, Bernardo Caldas defendeu o papel da tecnologia a resolver problemas da tecnologia como, por exemplo, o cyberbullying. «O cyberbullying é detectável e Inteligência Artificial (IA) pode ajudar a detectá-lo.»

O responsável considerou ainda ser fundamental trabalhar o espírito crítico das crianças e dos jovens: «Com espírito crítico consegue-se pensar que a primeira página de um motor de busca não é o mundo todo.» Bernardo Caldas defendeu, ainda, que não se deve ficar totalmente dependente da tecnologia para aprender: «mesmo que a máquina seja capaz, é útil não ter dependência total da máquina».

Para Hélder Bastos, inspector da Polícia Judiciária, o controlo parental é cada vez mais necessário, assim como a literacia exigida pelo AI Act (artigo 4º) que, em sua opinião, devia ser obrigatória. Lembrando que toda a exposição traz riscos e que a informação postada nas redes sociais tem outras consequências, o inspector defendeu que, tal como se educa as crianças e jovens a não abrir a porta a estranhos, deve-se também educar a «não abrir a porta digital a estranhos».

Bastos destacou ainda a importância – e insuficiência – da regulação e da utilização da tecnologia para resolver problemas gerados pela própria: «apesar de toda a regulação, Portugal foi o primeiro país do mundo a desenvolver um sistema de inteligência artificial para o crime, por um jovem que foi detido há um mês. Há um lado negro que se vai desenvolver e temos de nos preparar para isso e talvez pensar em modelos de IA para combater a IA.» Respondendo à pergunta do moderador sobre o que fariam se tivessem poder, em relação à Inteligência Artificial, Hélder Bastos não teve dúvidas: «Se pudesse, parava o país durante uma semana. Durante esse tempo, toda a gente teria acesso a literacia digital. É fundamental nos tempos que correm.»

Adolfo Mesquita Nunes defendeu a importância da literacia mas também a mediação humana. «Quando há filmes e deepfake envolvendo crianças e pornografia, em que não se sabe o que é, ou não, real, a literacia não é suficiente.» No caso da inteligência artificial, o jurista destacou a importância da ética e defendeu não ser suficiente a «autorregulação», sendo por isso fundamental, em sua opinião, a supervisão humana. A questão ética foi, também, referida: «mesmo as pessoas bem intencionadas vão deparar-se com dificuldades éticas e técnicas».

Margarida Cocco assinalou a falta de developpers na área da Inteligência Artificial e defendeu a importância da literacia de pais e professores. «As crianças devem ser educadas para saber o que devem ou não dizer na Internet e a ter um espírito crítico e criativo». Por outro lado, há que «aproveitar a tecnologia, que pode criar problemas, mas também cria soluções».

O evento contou ainda com a apresentação do Estudo “O Papel Fundamental dos Dados – Conclusões do Consumer Digital Empowerment Index”, por Rita Ferraz, da DECO PROteste e encerrou com Bernardo Correia, Country manager da Google.

Para mais informações sobre o projeto: – https://netvivasegura.pt/

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