
Deloitte identifica seis tendências tecnológicas que vão moldar a inovação e a transformação digital nas organizações nos próximos dois anos
A Inteligência Artificial (IA) está a ser incorporada em todos os domínios das empresas, contundo permanece a necessidade de desenvolver arquitecturas modernas, capazes de suportar as funcionalidades desta tecnologia. Esta é uma das conclusão do Tech Trends 2025 da Deloitte, que identifica seis grandes tendências tecnológicas que irão moldar a inovação e a transformação digital nas organizações nos próximos dois anos.
O estudo, que vai já na 16ª edição, reforça que, apesar desta tecnologia assumir já um importante papel na dinâmica das organizações, muitas enfrentam o desafio estratégico de alinhar o desenvolvimento das competências dos profissionais, a arquitectura tecnológica e, sobretudo, dados, para desbloquear todo o potencial da IA. A tendência dominante é uma abordagem híbrida que equilibra o investimento entre as tecnologias fundamentais e as emergentes como caminho essencial para gerar crescimento e maximizar o impacto da tecnologia.
De acordo com as conclusões, no futuro, mais do que utilizar a IA da forma como o fazemos actualmente, esta tecnologia vai estar presente de forma transversal e integrada, garantindo um funcionamento mais ágil e intuitiva.
O relatório Tech Trends 2025 identifica seis áreas-chave de evolução:
Interacção: A computação espacial está a ganhar terreno, permitindo interações mais intuitivas com máquinas através de gestos, voz e ambientes tridimensionais. Impulsionada pela IA, esta tecnologia evolui de ferramenta de formação para motor de valor empresarial, ao possibilitar análises em tempo real e decisões automatizadas.
Actualmente, muitas empresas enfrentam dificuldades em reunir fontes de dados díspares numa plataforma de visualização eficaz ou em apresentar esses dados de forma útil no seu dia-a-dia. No entanto, à medida que a IA é integrada em mais aplicações e camadas de interação, esses obstáculos são ultrapassados, permitindo que diferentes serviços funcionem em conjunto.
Estão já a emergir sistemas de agentes de AI com consciência contextual, capazes de executar tarefas proativamente com base nas preferências do utilizador, com potencial para apoiar funções como gestão da cadeia de abastecimento, programação, análise financeira, entre outras.
Informação: Os modelos de IA mais pequenos e especializados estão a ganhar destaque, oferecendo soluções mais eficientes em termos de segurança, consumo energético e personalização. Esta fragmentação do modelo tradicional permite a criação de múltiplos agentes virtuais colaborativos e adaptados a tarefas específicas. Com a evolução para um ecossistema cada vez mais marcado por agentes autónomos, a IA poderá deixar de se centrar no aumento da capacidade humana para passar a focar-se exclusivamente na execução.
A comunicação entre sistemas de IA, mais directa e eficiente do que a linguagem humana, poderá melhorar significativamente os resultados operacionais, eliminando uma etapa na cadeia de transmissão da informação e dispensando a necessidade de os utilizadores se tornarem especialistas. Em vez disso, será a IA a adaptar-se ao estilo de comunicação de cada pessoa, tornando-se mais acessível, proactiva e personalizada.
Computação: A IA está a transitar do software para o hardware com o desenvolvimento de novos chips integrados em PCs e dispositivos periféricos, incluindo equipamentos médicos e robótica. Esta tendência reforça a autonomia, a eficiência energética e a resiliência da Internet das Coisas (IoT). O envelhecimento da população e a escassez de mão-de-obra estão a impulsionar um aumento significativo do investimento em robótica e automação.
A Deloitte prevê que surjam, eventualmente, robôs humanoides com aplicações vastas em ambientes industriais e além, promovendo uma revolução no trabalho físico semelhante à transformação que a IA tem provocado no trabalho intelectual. Este novo cenário obrigará as empresas a repensar a colaboração entre humanos e máquinas para alcançar níveis de desempenho superiores aos que cada um conseguiria isoladamente.
Função tecnológica: A própria função das TI nas organizações está a transformar-se com o apoio da IA em tarefas como o desenvolvimento de software, a escrita de código e os testes automatizados. Esta evolução está a democratizar o desenvolvimento e pode originar um novo paradigma organizacional, no qual as TI deixam de ser apenas suporte operacional para se tornarem fornecedoras de valor directo — num modelo “outcome-as-a-service”.
Embora o avanço da IA possa parecer, à primeira vista, uma ameaça ao papel tradicional das TI, está, na verdade, a elevá-lo. Esta combinação de factores fará com que a tecnologia se torne omnipresente em todos os domínios da organização, obrigando os líderes tecnológicos a desenvolver novas competências, desde o conhecimento profundo dos processos e da jornada do utilizador até à gestão de programas e produtos, desenvolvimento de negócio, compliance e gestão de ecossistemas tecnológicos cada vez mais complexos.
Cibersegurança: A aproximação da computação quântica representa uma ameaça real às actuais práticas de encriptação, com potencial para comprometer dados sensíveis de forma sem precedentes. Tal como aconteceu com o bug do milénio (Y2K), é necessário actuar com antecedência para garantir que as infraestruturas estejam preparadas para um cenário pósquântico. Neste contexto, as organizações que adoptam práticas rigorosas de higiene e segurança cibernética estarão em vantagem, não só na protecção contra ameaças futuras, mas também no reforço das suas defesas actuais. Estas organizações tendem a ser mais cautelosas na recolha e partilha de dados, a implementar mecanismos de governação mais robustos e a promover uma avaliação contínua da confiança entre os seus componentes digitais. Para além da segurança técnica, estas práticas fomentam uma cultura de responsabilidade e resiliência nas operações diárias.
Modernização do core: Integrar IA nas arquiteturas nucleares das empresas implica reestruturar sistemas e processos com vista a proporcionar uma experiência mais fluida, inteligente e orientada por dados. No entanto, para muitas organizações, a modernização do core tem sido um esforço prolongado ao longo dos anos, e existe o risco de encarar a IA apenas como mais uma etapa desse percurso. Hoje, não se trata de alinhar a empresa com o core, mas sim de alinhar o core com as actividades da empresa, especialmente quando a IA é utilizada para criar novos processos de negócio sustentados por dados essenciais.
A manutenção e evolução dos sistemas centrais modernizados por IA configuram um exercício fundamentalmente diferente, em que agentes inteligentes poderão, em breve, assumir funções críticas de forma autónoma. Compreender e interagir com clientes, colaborar com outros bots para processar devoluções ou acionar envios, e operar transversalmente a vários sistemas serão novas possibilidades, com estes agentes a tornarem-se peças-chave no novo modelo operativo digital.