Depois do “quiet quiting”, o “quiet hiring”. Sabe o que é? Especialista acredita que vai ser realidade em cada vez mais empresas

Com o novo ano, há um fenómeno que começa a fazer-se sentir nos Estados Unidos e para o qual empregadores e colaboradores devem preparar-se. Já ouviu falar em “quiet hiring”? 

 

“Quiet hiring”, ou contratação silenciosa, acontece quando uma organização “adquire” novas competências sem realmente contratar colaboradores, revela à Make.it Emily Rose McRae, que, desde 2019, lidera a equipa de investigação do futuro do trabalho da Gartner, com foco em práticas de Recursos Humanos.

Às vezes, pode significar contratar colaboradores temporários. Outras vezes, pode ser encorajar os actuais colaboradores a mudar temporariamente para novas funções dentro da organização, explica McRae.

«A realidade para 2023 é – quer entremos em recessão ou não – que está toda a gente nervosa», revela. «Em muitos casos, as empresas não estão necessariamente a congelar contratações ou a demitir, mas talvez desacelerem um pouco as novas admissões.»

Claro que as metas financeiras a cumprir mantêm-se. «A escassez de talento da qual tanto falámos em 2022 não desapareceu», conta a profissional, por isso a situação permanece delicada.

Por que paira esta “contratação silenciosa” no horizonte

Geralmente, as contratações encaixam numa de três categorias: preencher funções antigas, criar novas para ajudar a empresa a crescer ou atender a uma necessidade imediata.

A “contratação silenciosa” têm tudo a ver com a terceira categoria, mesmo que não envolva tecnicamente nenhuma nova contratação. A ideia é priorizar as funções de negócio mais importantes num determinado momento, o que pode significar misturar temporariamente as funções dos actuais colaboradores.

McRae refere-se a isso como “contratação silenciosa interna” e cita um exemplo recente da companhia aérea australiana Qantas, em que os executivos lidaram com a escassez de mão-de-obra no ano passado, em parte, assumindo a função de “baggage handlers” em turnos rotativos.

«Os executivos fazem isso porque é uma necessidade para manter a empresa a funcionar, mas também é uma rotatividade que faz sentido», observa McRae, já que permite uma compreensão mais profunda de como as operações funcionam.

Claro que há o outro lado da moeda. Se um colaborador for temporariamente transferido para outro departamento, pode interpretar como um sinal de que o seu trabalho normal não é particularmente revelante. Afinal de contas, ninguém está a ser contratado para preencher as suas antigas responsabilidades.

Os managers podem ajudar a resolver esse tema, esclarecendo claramente por que razão aquele projecto ou departamento é tão crucial para o sucesso da empresa. Isso ajudará o colaborador a sentir-se valorizado e menos propenso a ver essa mudança como sinal de que precisa de começar a procurar outro emprego.

Em alternativa, as empresas com poucos colaboradores “móveis” podem contratar elementos temporários para ajudar a manter as coisas a funcionar ao longo do ano. “Contratação silenciosa externa”, define McRae.

Como tirar partido do “quiet hiring”

Ninguém quer ser “atirado” para uma função totalmente nova, quando se sente realizado no seu trabalho, contudo também ninguém quer trabalhar para um negócio em declínio, e McRae garante que muitas empresas podem desaparecer este ano se não optarem por esta via.

Com isso em mente, um processo de contratação eficaz e “silencioso” depende de como é enquadrado perante os colaboradores. «Se está a pedir a um grupo de pessoas para dar esse passo, tem de ser capaz de responder à questão “o que significa isso para eles?”», justifica a profissional.

Ao sugerir um novo conjunto de tarefas, o manager conseguirá motivar o colaborador mais facilmente se puder realçar os benefícios que tal trará em termos de progressão de carreira. «Se disser apenas, “OK, precisamos de pessoas aqui”, claramente não será motivo suficiente para incentivar as pessoas a mudar», esclarece McRae.

Além disso, se a empresa anunciar a necessidade de os funcionários alternarem funções e o colaborador estiver interessado, poderá ser uma excelente oportunidade para debater os objectivos a longo prazo. Até pode dar origem a uma promoção, acrescenta McRae.

«É uma excelente oportunidade para os colaboradores dizerem aos seus managers, aos gestores de RH e à empresa como um todo: “Sim, estou disposto a fazer isso. Vamos falar sobre o que isso significa para a minha carreira”», conclui a especialista.

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