Como gerir o impacto emocional causado pelo desemprego?

Perante os elevados índices de desemprego, conquistar uma posição no mercado de trabalho é um desafio ainda mais difícil. Além da tarefa árdua que é elaborar um bom currículo, concorrer às vagas com frequência e preparar-se para a seleção, o mercado fica mais exigente quando mais pessoas procuram emprego e menos empresas contratam.

 

Neste cenário, as pessoas desempregadas enfrentam uma série de dificuldades que prejudicam a procura de trabalho, principalmente quando o desemprego causa depressão. O psicanalista Bruno Fedri explica no site catho.com, os impactos do desemprego na saúde mental.

 

Quais os impactos emocionais causados pelo desemprego?

O trabalho é uma das formas de exercer cidadania, então, os efeitos negativos do desemprego podem ser diversos. Muitos psicólogos acreditam que a ocupação está associada à saúde do trabalhador. Emprego significa também socialização, segurança, reconhecimento social e pode reforçar no trabalhador a sensação de controle sobre sua vida. Sendo assim, a ausência do trabalho somada às restrições financeiras e sociais impostas por essa situação pode impactar directamente as emoções. O desemprego pode provocar sentimentos de rejeição, de isolamento e, por vezes, até levar a pessoas a sentir-se silenciada e desajustada.

De que forma a depressão impacta a pessoa desempregada?

A depressão pode ser uma causa negativa do desemprego e é uma das maiores questões de saúde pública actualmente. Além de trazer complicações à vida financeira, o desemprego prejudica o estado físico e emocional das pessoas. A depressão atinge frontalmente questões relacionadas com a produtividade e a funcionalidade do sujeito e seu papel social. Uma vez instalada, a depressão restringe o contato com o mundo e por vezes leva-nos a crer que não há nada de positivo ou construtivo que possamos oferecer a quem nos rodeia.

Existem grupos mais susceptíveis à doença devido ao desemprego?

Ao observar o comportamento prejudicial causado pelo desemprego, nota-se que alguns grupos sociais podem apresentar mais quadros de depressão. Em virtude do preconceito e da marginalização social que certos recortes populacionais enfrentam ao longo da vida, a entrada e a permanência no mercado de trabalho é mais desafiadora, podendo oferecer maiores riscos de adoecimento.

Populações vulneráveis são invariavelmente mais susceptíveis porque carregam um histórico de exclusão e este perpassa também as suas relações com o trabalho: mulheres, idosos, LGBTI+ (em especial transgéneros), pessoas com deficiência, soropositivos, entre outros.

Quais os sintomas e como diagnosticar a depressão no desemprego?

Devido ao desemprego, uma série de sentimentos negativos podem invadir as emoções do profissional, mas entender o real estado de saúde mental e ficar atento aos sintomas é importante para diferenciar a tristeza e o desânimo momentâneo de algo mais sério como é a depressão. A depressão possui uma dinâmica que envolve recolhimento e progressiva ausência de interesse pelo mundo exterior. Ela diferencia-se da tristeza devido à sua permanência. Além disso, as motivações da depressão tendem a ser mais difíceis de serem percebidas do que em relação à tristeza.

Diante do quadro depressivo, a pessoa desempregada pode ter como consequência uma paralisação perante a vida profissional. Podemos pensar que o que nos move a um emprego é também a noção de que temos algo para oferecer de produtivo e funcional. Se esta noção estiver submetida à crença de que não temos nada de construtivo para oferecer, esta pode levar o sujeito a desistir da sua procura e o sentimento de não pertença pode instalar-se, sendo um sinal importante de que é precisa ajuda.

Como reverter um quadro de depressão e ter um novo começo?

A situação de desemprego pode apresentar-se como uma possibilidade para repensar os próprios projectos e apostar em alternativas temporárias de ocupação, enquanto o trabalho que se deseja não for conquistado. Novas potencialidades podem ser desenvolvidas neste período e os recursos sociais destas pessoas, especialmente os seus familiares, podem auxiliar, acolhendo quem está à procura de uma oportunidade e reconhecendo os eus esforços. Desemprego não é sinónimo de fracasso.

 

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