Diminuir o gap entre procura e oferta de competências tecnológicas

Num contexto de «enorme escassez de talento» no sector tecnológico, e em que «a competição pelo talento sénior é muito significativa e – quase sempre – vencida pelos grandes grupos tecnológicos com maior capacidade financeira», a aposta em talento júnior e pools de talento menos convencionais pode ser a solução. Por outro lado, há muitos profissionais com perfis sem empregabilidade. E os bootcamps da Le Wagon ajudam a juntar o útil ao agradável. Os números não mentem.

 

Por Sandra M. Pinto

 

A Le Wagon foi criada em 2013 com o objectivo de dotar profissionais criativos de conhecimentos técnicos. O seu primeiro curso de programação web surgiu com o intuito de permitir que, em apenas três meses, os alunos se tornassem capazes de criar um produto, desde o seu desenho até à colocação em produção. Na sua génese, aquilo que diferencia estes cursos «é a forma como se alia a aquisição de competências técnicas e comportamentais a uma mentalidade empreendedora, orientada para o produto e cliente», afirma Nuno Loureiro, director-geral para a Europa do Sul da Le Wagon. A empresa dinamiza bootcamps intensivos de web development e data science, oferecendo cursos práticos nessas matérias, durante nove – tempo integral – ou 24 semanas – pós-laboral –, para qualquer pessoa que pretenda entrar ou crescer no mercado tecnológico.

Nas palavras do seu líder em Portugal, a Le Wagon existe para mudar a vida dos seus alunos através do acesso a conhecimento na área da tecnologia. «Seja para empreendedores que queiram materializar as suas ideias de negócio, para profissionais de outras indústrias que procuram uma reconversão de carreira ou numa lógica de incremento da competitividade de um profissional na sua empresa actual, os nossos cursos permitem, num curto período de tempo, adquirir os conhecimentos necessários para o efeito », garante.

Contudo, este compromisso com os alunos não termina no fim do curso. Para além do acesso a uma comunidade global de alumni e aos serviços de carreira da Le Wagon, existe uma plataforma de ensino própria, desenvolvida in-house e constantemente actualizada, onde qualquer aluno tem acesso vitalício aos novos recursos, podendo revisitá-los a qualquer momento.

Presente em 45 cidades um pouco por todo o mundo, a organização já formou cerca de 14 mil alunos. «Trabalhamos diariamente com as nossas equipas globais, nomeadamente com a área responsável pela curadoria e melhoria contínua do nosso currículo, pelo que os conteúdos que utilizamos em Portugal foram já iterados centenas de vezes, com taxas de satisfação quase perfeitas», sublinha Nuno Loureiro.

Em Portugal, a Le Wagon opera desde 2016 e, em linha com o crescimento do sector tecnológico do País, quer através das startups, scale-ups e grandes empresas nacionais, como de novos hubs tecnológicos internacionais, tem alargado a sua oferta e crescido de ano para ano, tendo já formado cerca de 800 alunos. Tem presença física em Lisboa, contando com uma equipa de sete pessoas, suportada por dezenas de formadores que leccionam nas suas áreas de especialidade, onde são profissionalmente activos.

 

Ensino 80% prático
Um bootcamp é uma tipologia de ensino intensivo durante um curto período de tempo, maioritariamente focada na aquisição das competências técnicas e comportamentais que serão utilizadas no dia-a-dia do mundo de trabalho real. «Nesse sentido, pode dizer-se que os bootcamps têm um método de ensino 80% prático, por oposição aos players tradicionais de pendor vincadamente teórico.»

No caso da Le Wagon, «os bootcamps são desenhados para um resultado muito específico e em linha com as necessidades do mercado de trabalho actual, procurando nomeadamente que os alunos aprendam a criar uma aplicação web ou um data product, do princípio ao fim e num contexto de equipa», explica o responsável, que acredita que esta diferença tem feito com que as empresas olhem para os bootcamps com um interesse manifestamente crescente. «Muitas empresas estão a perceber que a competição pelo talento sénior é muito significativa e – quase sempre – vencida pelos grandes grupos tecnológicos com maior capacidade financeira. Nesse sentido, têm vindo a ajustar a sua estratégia em dois pontos fundamentais: primeiro, tentando privilegiar a antecipação no recrutamento de talento júnior que possa crescer dentro da empresa, segundo procurando pools de talento menos convencionais.»

Apesar desta evolução, Nuno Loureiro constata que ainda existe um desconhecimento significativo do público relativamente a este tipo de formação e carreiras em tecnologia em geral. Por isso, têm trabalhado cada vez mais com parceiros estratégicos, como a Nova SBE, a Câmara Municipal de Lisboa e a Comissão Europeia, «a fim de oferecer programas de literacia tecnológica às comunidades locais e apresentar estas soluções alternativas de educação em tecnologia».

A Le Wagon tem actualmente perto de 30 parceiros oficiais. Tendo em vista a criação de soluções mutuamente benéficas para os seus alunos e as empresas com quem trabalha, convida os parceiros a participar numa Career Week trimestral, onde podem apresentar as suas empresas e conhecer os recém-graduados, partilhando as suas oportunidades de trabalho com as comunidades locais e internacionais. Ao escolher os parceiros, procura, acima de tudo, garantir que existe um alinhamento cultural entre a empresa e formandos com o candidato a parceiro. E o director-geral faz notar que, neste momento, não existe qualquer custo associado a estas parcerias, pelo que procuram, sobretudo, «empresas que tenham real abertura para contratar graduados de bootcamps e que garantam um canal de comunicação aberto e transparente».

Os parceiros procuram acima de tudo «uma sólida base de lógica de programação, boas capacidades de comunicação e trabalho em equipa e, sobretudo, uma enorme vontade de aprender. Sendo formações que exigem um investimento financeiro e de tempo por parte dos alunos, a grande maioria deles está altamente dedicada e motivada para começar a trabalhar com esta lista de excelentes empresas», afirma.

 

Quase 100% de empregabilidade
Seguindo o princípio de não discriminação, a Le Wagon tem uma diversidade significativa de um ponto de vista demográfico e profissional. Os alunos têm em média 28 anos, a maioria entre 22 e 35 anos, e experiência profissional prévia nos mais variados sectores, usualmente com formação nas áreas de economia, gestão, engenharias não informáticas ou áreas criativas, como design ou arquitectura. Existe uma «cada vez maior diversidade de perfis, embora se ma tenha uma maioria de alunos vindo de áreas de gestão e engenharia para quem a reconversão pode ser mais directa. E existem vários alunos dos nossos cursos colocados por empresas numa óptica de upskilling ou reskilling para efeitos de mobilidade interna», conta.

Ainda assim, «nos últimos anos tem- -se assistido a uma procura crescente por parte de alunos que trabalhavam em sectores afectados pela pandemia, como o turismo, hotelaria e arte, mas também na área da saúde, que tem visto médicos, enfermeiros e farmacêuticos a quererem abraçar desafios nesta área», revela Nuno Loureiro. «Apesar da volatilidade de turma para turma, podemos dizer que cerca de 50% dos nossos alunos são portugueses e, infelizmente, apenas cerca de um terço são mulheres, algo que temos procurado mudar com diversas iniciativas dedicadas à igualdade de género.»

Garantindo que «a qualidade comprovada dos cursos de 360 horas da Le Wagon permite dotar os alunos de uma base sólida para compreenderem os fundamentos subjacentes às funções de programador web ou analista/cientista de dados», o responsável destaca que, em termos de empregabilidade, «os resultados mais recentes são animadores» e reforçam a evidência da necessidade de talento que o mercado tem nesta área. «No primeiro semestre de 2021, 94% dos alunos de Lisboa activamente à procura de oportunidades de trabalho encontraram-nas em apenas três meses, sendo que a seis meses essa colocação sobe para 97%. Mas, em média, um aluno encontrou colocação 22 dias após o término do curso», partilha.

Podem estes cursos ser a resposta à escassez de profissionais? Nuno Loureiro acredita que apenas de forma parcial. «A escassez é já material e irá aumentar ao longo dos próximos anos, pelo que formatos de formação altamente assistida e/ou presencial como o nosso terão dificuldade em garantir, por si só, a cobertura da totalidade da procura. Não obstante, a eficácia e eficiência do nosso modelo de formação poderá contribuir de forma significativa para a mitigação desta escassez, sobretudo num momento em que o público em geral compreenda o que oferecem estas escolas de programação inovadoras, bem como quando as empresas decidirem investir neste formato.»

Para o director-geral, a reconversão de competências é a principal solução para a escassez de profissionais, sobretudo numa lógica de curto e médio prazo, e considerando o número limitado de alunos formados anualmente pelo ensino universitário nestas áreas. Mas não deixa de referir que, num mercado global e num contexto de crescente trabalho remoto, será possível também às empresas a operar em Portugal procurarem talento noutras geografias onde consigam ser mais competitivas.

 

Este artigo foi publicado na edição de Março (nº.135) da Human Resources, nas bancas.

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