Diplomas / Certificações? O valor da educação e da formação no mercado de trabalho actual

Por António Pêgo, director do Cesae Digital

A dicotomia entre diplomas académicos e certificações ou qualificações técnicas tem-se vindo a tornar um tema central no debate sobre o futuro do trabalho. Se, durante décadas a fio, o diploma universitário foi visto como o principal passaporte para uma carreira promissora, as exigências actuais do mercado de trabalho vêm demonstrar que as competências práticas, maioritariamente adquiridas através da formação contínua, estão a ganhar um peso crescente. Esta mudança não é apenas uma tendência – é um reflexo das exigências concretas da economia digital e corresponde à importância crescente da chamada aprendizagem ao longo da vida

Portugal apresenta um desafio estrutural nesta matéria: de acordo com estudo da Randstad Research de 2024, cerca de 40% da força de trabalho portuguesa tem apenas o ensino secundário ou menos, o dobro da média europeia. Ao mesmo tempo, a percentagem de trabalhadores com formação superior ronda os 34,2%, o que coloca o país ainda aquém do perfil de qualificações desejado para competir numa economia cada vez mais assente no conhecimento e na tecnologia.

Este cenário evidencia duas realidades paralelas: por um lado, um défice de qualificações e, por outro, uma necessidade urgente de competências práticas e actualizadas, em especial nas áreas digitais e tecnológicas. A formação profissional e as certificações técnicas, neste contexto, surgem como instrumentos estratégicos para colmatar essa lacuna.

De facto, Portugal tem vindo a destacar-se positivamente na implementação de formação prática. De acordo com dados da Compete 2030, 74,1% dos estudantes do ensino profissional realizam aprendizagens em contexto de trabalho, superando a média da União Europeia (64,5%). Uma vez que a empregabilidade ainda apresenta dificuldades nalgumas áreas, é preciso persistir no alinhamento da oferta formativa com as necessidades reais das empresas

É aqui que as certificações e, nomeadamente, a formação profissional ganham terreno. Tecnologias emergentes e áreas como por exemplo a inteligência artificial ou a cibersegurança, exigem actualizações constantes e os ciclos académicos nem sempre acompanham a velocidade desta evolução. Ao contrário, as certificações técnicas permitem requalificações rápidas, com enfoque directo nas ferramentas e metodologias em uso no mercado.

Num país onde, e segundo In.CoDe.2030, apenas 55% da população entre os 16 e os 74 anos possui competências digitais básicas, o investimento em soluções formativas flexíveis, práticas e actualizadas é essencial. As empresas precisam de talento pronto a responder aos desafios da transformação digital, e os profissionais exigem percursos formativos que lhes garantam empregabilidade real e adequação aos seus contextos de trabalho. Por isso a agenda da Requalificação tem ganho uma importância crescente, por ser um instrumento essencial para reaproveitar as qualificações existentes, reorientando-as para áreas profissionais de maior procura.

Não se trata de uma visão de substituição, mas de complemento. Diplomas e certificações podem e devem ser aliados, uma vez que enquanto a formação académica oferece profundidade conceptual e pensamento crítico, essenciais para a construção de conhecimento a longo prazo, as formações por sua vez, aportam foco, adaptabilidade e capacidade de resposta imediata aos desafios do mundo laboral.

No final do dia, o que realmente conta é saber fazer. E esse saber faz-se com formação, sim, mas também com visão, flexibilidade e coragem para inovar nos modelos de aplicação do conhecimento.

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