Diversificar para potenciar o sucesso

Quando falamos de necessidade de crescer, de competitividade e de escassez de recursos, temos de falar de diversidade e da necessidade de melhorar significativamente os seus níveis enquanto elemento central para o sucesso e os resultados nas empresas.

 

Por Ana Paula Reis, partner da Bynd Venture Capital 

 

Qual a verdadeira importância da diversidade nas empresas? Faz sentido falar deste assunto? E quando falamos especificamente de género? Ainda faz sentido, em 2020, falarmos sobre diversidade de género nas organizações? Sim! Quando falamos de necessidade de crescer, quando falamos de competitividade, quando falamos de escassez de recursos, temos de falar de diversidade e da necessidade de melhorar significativamente os seus níveis enquanto elemento central para o sucesso e os resultados nas empresas.

Comecemos com 8%: esta é a percentagem que pesa a diversidade de género na previsão da obtenção de melhores resultados nas empresas. Os dados foram retirados de um estudo de 2019, realizado pela FCLTGlobal, sobre os factores de previsão de sucesso das empresas e investidores, com base nas grandes empresas cotadas do MSCI ACWI. Nesta investigação, descobriu-se que a diversidade é um dos factores mais evidentes na antevisão do sucesso nas empresas que, neste caso, está expresso no indicador de Retorno Sobre o Capital Investido (ROIC – Return On Invested Capital).

Só sendo ultrapassada pelo grau de investimento em activos fixos (com um peso de 17% na capacidade de explicação desse sucesso) e pelo aumento do investimento em investigação e desenvolvimento (com um peso de 12%), a característica da diversidade de género nos conselhos de administração das empresas contribui para um sucesso distintivo (medido em ROIC) em idêntica proporção à da conquista de níveis superiores de crescimento de vendas. A dimensão dessa contribuição deveria ser motivo suficiente para a sua consideração, na hora de determinar a escolha da composição dos conselhos.

Também no mundo das startups a diversidade de género nas equipas fundadoras é um elemento indicador do potencial de sucesso. Um estudo lançado em 2019 pela Kauffman Fellows é claro: as startups com equipas fundadoras onde também existem mulheres, não só fecham rondas de investimento com maior facilidade, como também têm maior sucesso no seu trabalho de inovação. Mais especificamente, os dados mostram ainda que as equipas constituídas por co-fundadores de ambos os sexos acabam por recolher mais investimento em fases avançadas do negócio.

A maximização da criação de valor pelo elemento da diversidade só é possível se essa for uma consequência de processo natural de selecção dos elementos das equipas por critérios de adequação de perfis e competências, ou seja, se e quando as considerações de género ou outras de natureza discriminatória não tiverem relevância nessa mesma escolha.

Nesse momento, as equipas serão natural e necessariamente diversificadas, de acordo com o mercado em que se inserem, dada a repartição normal do talento, da qualidade e da competência. Até lá será preciso trabalhar nesse caminho, utilizando instrumentos normativos e regulatórios que ajudem na construção de um contexto favorável à diversidade e que acelerem esse processo natural.

Instrumentos como as quotas proporcionam o acesso e visibilidade a elementos que, de outro modo, não o teriam. Para que as vantagens sejam mais rapidamente entendidas e valorizadas, não chega um quadro normativo; é necessário um sistema de reforço e garantia do cumprimento das normas, seguido de um programa sistemático de interpretação dos resultados e de comunicação e divulgação alargada. Só assim se conseguirá passar de uma diversidade pela regulamentação a uma diversidade pela normalidade que, no longo prazo, tornará obsoletos e desadequados alguns dos instrumentos normativos e, entre eles, as quotas.

É essa diversidade pela normalidade que aponta uma investigação da Kauffman Fellows, quando evidencia que as startups com pelo menos uma cofundadora contratam 2,5 vezes mais mulheres; este número sobe para seis quando encontramos simultaneamente mulheres na equipa fundadora e na equipa executiva.

Apostar na diversidade nas empresas é muito mais que apostar numa boa imagem. Apostar na diversidade nas empresas é investir no seu potencial de sucesso e, por isso, apostar na diversidade das empresas é um acto de boa gestão, de boa governança.

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