Diz-me o que te motiva, perceberei quem és

Será que podemos realmente motivar alguém ou a motivação é algo que parte de cada um? Um tema tão relevante deve ser deixado nas mãos de terceiros? Ou esta será, acima de tudo, uma responsabilidade individual?

 

Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

 

Muito se fala no tema da motivação e de como um líder deve saber “motivar as suas pessoas”. Pessoalmente, creio que é demasiado arriscado deixar um assunto tão importante nas mãos de outras pessoas e não nas minhas.

O que me motiva? Esta é a pergunta que nos devemos colocar e procurar responder, enquanto estratégia de desenvolvimento pessoal e profissional. Quais são os meus motivos para a acção? Para captar o meu interesse e atenção, canalizar recursos e agir. Naturalmente, há sempre um contexto que nos rodeia e que nos influencia e aí, claramente, a liderança pode e deve ter um papel activo na criação das melhores circunstâncias / ambiente para que as pessoas possam prosperar e, concomitantemente, as equipas e as organizações também. O melhor que a liderança pode fazer é saber fazer perguntas e ouvir. Não assumindo, a priori, quais serão as respostas. Saber ouvir é, no meu entender, uma das mais importantes competências de liderança e uma das menos trabalhadas. Não presumo, observo-o nas minhas andanças organizacionais.

A motivação é, antes de mais, uma conversa pessoal, um diálogo interno que nos pode catapultar para atingirmos melhores resultados, com menos tensão. Exige autoconhecimento e deve aliar-se à auto-eficácia (a confiança que temos nas nossas capacidades de fazer e de concluir algo). É um processo de contínua aprendizagem e de adaptação perante adversidades. É evolutivo.

Jurgen Appelo, caracterizado pela sua irreverência e agilidade mental, apresenta uma abordagem criativa a este tema, no âmbito da sua “filosofia” de Management 3.0 (promovendo um estilo de liderança colaborativo, através da gestão dos sistemas e não das pessoas). Identificou 10 factores de motivação intrínseca, cruzando diferentes teorias da motivação (revisitou os clássicos e pulverizou com os mais recentes autores), e chamou-lhe “Moving Motivators” precisamente porque há vários factores em jogo e, face à nossa experiência de vida, idade, circunstâncias, estes factores podem ir mudando. Porque a vida é mudança.

Vejamos em detalhe os 10 factores identificados que podem explicar o que, intrinsecamente, nos motiva. Não é um ranking, nem há respostas certas ou erradas, é apenas um espelho das opções que podem ser reflectidas por cada indivíduo, a dado momento: 1) curiosidade – pessoas que gostam de uma diversidade de temas, de investigar e de aprender; 2) honra – pessoas para quem importa reflectir os seus valores pessoais naquilo que fazem; 3) aceitação – pessoas que necessitam que o seu trabalho seja aprovado pelos outros; 4) mestria – pessoas que procuram um trabalho que desafie constantemente as suas competências e conhecimento; 5) poder – pessoas que privilegiam a sua capacidade de influência; 6) liberdade – pessoas que apreciam trabalhar com independência, autonomia e responsabilidade; 7) relacional – pessoas que valorizam acima de tudo o contacto social e o “bom ambiente”; 8) ordem – pessoas que sentem a necessidade de ter um ambiente estável, com regras e procedimentos definidos; 9) objectivo (propósito) – pessoas cujo trabalho deve reflectir a sua forma de estar na vida (já lhe chamámos “calling”, numa edição anterior); 10) status – pessoas que procuram reconhecimento pela sua posição profissional.

Qual é o seu top 10? “Diz-me o que te motiva, não te direi quem és, mas perceberei quem és.” Este pode ser um excelente ponto de partida para uma conversa a dois, numa cultura organizacional marcada pela comunicação e pelo feedback constante.

Já se perguntou o que o/a motiva, actualmente? Ou está à espera de que alguém o/a venha motivar? Eu não assumo, pergunto.

 

Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro (nº. 145)  da Human Resources, nas bancas.

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