Do cinema para a Gestão de Pessoas: O poder dos gestos em “Dias Perfeitos”

Em “Perfect Days”, filme de Wim Wenders, com Koji Yakusho e Tokio Emoto no elenco, há um ensinamento do mundo empresarial que a personagem principal aplica com rigor: a gestão do tempo.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

O realizador Wim Wenders já nos revelara Cuba com a magia das suas músicas, no filme “Buena Vista Social Club”, uma obra onde demonstrava toda a sua capacidade empreendedora em lançar com êxito pessoas talentosas há muito esquecidas e proibidas de actuar. Agora, neste filme actual, somos levados até ao Japão.

“Dias perfeitos” retrata o dia-a-dia de um homem com uma profissão invulgar: limpar as casas de banho públicas de Tóquio. É um trabalho pouco valorizado, mas que ele realiza com empenho. Ao longo do filme, vamos conhecendo melhor a sua vida. Tem uma casa humilde, onde vive sozinho. Segue os mesmos hábitos e rotinas, não por “mania”, mas porque isso o ajuda a manter um equilíbrio emocional que lhe permite estar de bem consigo e com a vida. Gosta de valorizar as coisas pequenas, os detalhes e, em especial, os gestos de bondade. Por exemplo, ajudar uma criança perdida, emprestar dinheiro a um colega, ou até a responder com humor a uma mensagem de um desconhecido.

O interessante é que, apesar de não fazer isso para ser correspondido, de facto vai sendo. Não só não é ignorado, como as pessoas vão notando que ele tem “algo” que merece atenção. Assim, quando vai ao seu bar habitual, é sempre logo servido e, por vezes, até lhe dão um pouco mais do que ele pedira – com efeito, uma boa acção atrai e inspira outras boas acções.

A certa altura, a sua sobrinha vai viver com ele. Para trás, deixa uma vida luxuosa, na qual não se sente “confortável”. Ela tem tudo, mas falta-lhe um sentido para a vida. Pede ao tio que a deixe também limpar as casas de banho e, através do cumprimento dessa tarefa, começa a sentir-se e a saber-se útil… estimada. Além disso, o tio ajuda-a a admirar as coisas simples da vida, desde um pôr-do-sol à beleza das árvores, das sombras, dos jogos de luz dos raios solares por entre a folhagem. À noite, essas sombras tornam-se presentes nos seus sonhos. O real e o subconsciente relacionam- se. Numa noite, a sua irmã vem buscar a filha, conduzida pelo motorista num carro de luxo. O contraste entre os dois estilos de vida é patente, mas o dela não é melhor.

Ele vive bem o presente. Cada dia é como uma nova ocasião e uma oportunidade de dar o seu melhor. Tem a noção clara de que a vida poderia ter tido um outro rumo, mas abraça como um desafio cada amanhecer. Tudo parece igual, porém cada momento é saboreado como único.

Há um ensinamento do mundo empresarial que ele aplica com rigor: a gestão do tempo. Recusa ser “workaholic”. Gosta de se cultivar com boas leituras para alimentar a sua vida interior. Selecciona o que lê e dedica um tempo fixo aos livros. Tal como cuida das plantas em pequenos vasos, para que mais tarde cresçam como árvores frondosas, cuida também de si, da sua mente e motivação. Ouve canções no carro com letras que o inspirem e “puxem para cima”.

No fundo, não se preocupa apenas com o seu bem-estar, nem é um solitário. Sabe bem que a sua vida tem impacto na vida dos outros, e isso é o que dá sentido ao que faz. Não se foca em si, mas no que o rodeia, no que está ao seu alcance, dando sempre o melhor do que sabe e do que é capaz.

 

Este artigo foi publicado na edição de Abril (nº. 160) da Human Resources, nas bancas.

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