E se pudesse recorrer a um adiantamento salarial em caso de despesas inesperadas? Nuno Pereira, da Paynest, explica. Mas adverte que a literacia financeira é fundamental

Actualmente em fase de arranque em Portugal e na Grécia, a Paynest é uma plataforma online para empresas que permite que os seus colaboradores sejam pagos de forma flexível e recebam antecipadamente uma parcela do salário, enquanto promove a literacia financeira e combate o endividamento. A Human Resources conversou com Nuno Pereira, CEO e fundador da Paynest.

Por Tânia Reis

 

Num país que ocupa o último lugar do ranking em literacia financeira, segundo dados do BCE, 40% dos portugueses não conseguem fazer face a despesas imprevistas, o que conduz ao endividamento. Além do adiantamento salarial, a Paynest vem promover a literacia financeira com diversos conteúdos e coaches especializados. Para o seu fundador, pode constituir uma ferramenta de atracção e retenção de talento para as empresas.

 

Quais as linhas orientadoras da missão da Paynest?

O objectivo da Paynest é acabar com o endividamento das pessoas com microcréditos pessoais que geram juros e só pioram a sua situação financeira. Queremos ajudar os portugueses a alcançar uma estabilidade financeira. Por outro lado, apoiamos as empresas a proporcionar benefícios com impacto no bem-estar financeiro dos seus colaboradores, não só a curto, mas também a longo prazo, já que as preocupações financeiras estão no topo das prioridades apontadas por estes. Adicionalmente, o facto de se libertarem desta fonte de ansiedade permite que sejam mais produtivos e estejam mais felizes no seu local de trabalho, aumentando, assim, os níveis de retenção.

 

Esta plataforma está a ser lançada também na Grécia. Porquê a aposta nesse mercado?

A Paynest é fundada por mim e pelo empreendedor grego Michalis Gkontas, e estamos a lançar em simultâneo em Portugal e Grécia, porque têm contextos de mercado semelhantes, mas também porque acreditamos que esta solução poderá ter um impacto significativo nos seus trabalhadores.

Segundo o Banco Central Europeu, Portugal está em último lugar no ranking de literacia financeira na zona Euro. Mesmo eu só comecei a entender como gerir de forma eficiente as minhas finanças algum tempo depois de ter saído do ensino superior, o que reflecte a falta de educação financeira transversal em Portugal.

Adicionalmente, 40% dos portugueses não têm capacidade de resposta para fazer face a uma situação de emergência financeira – o que conduz ao endividamento, e metade não se sente confiante sobre a sua própria literacia financeira. Para piorar a situação, o aumento das taxas de juro Euribor está a gerar uma enorme pressão sobre a classe trabalhadora em Portugal, que sente uma maior dificuldade no pagamento dos seus créditos, sendo que 93% dos créditos à habitação têm taxas de juro variáveis.

 

Quais as áreas e sectores empresariais que mais vos procuram?

Os nossos serviços são adequados para qualquer indústria e adaptam-se à estrutura de todas as empresas. Este modelo de negócio, que já está a ser implementado noutros mercados, tem revelado um impacto muito positivo em indústrias com uma grande força de trabalho, incluindo produção, hotelaria, retalho, energia, serviços de saúde e hospitalares, outros serviços, mas também empresas tecnológicas que procuram maximizar os benefícios que oferecem à sua comunidade.

 

Que feedback têm por parte dos colaboradores dessas empresas?

A Paynest ainda está a arrancar a sua operação, mas outras empresas deste segmento presentes noutros mercados comprovam que 78% dos colaboradores que já usufruem desta solução afirmam gostar de conseguir pagar um custo extra inesperado, 86% sentem-se menos stressados e consideram que têm mais controlo sobre as suas finanças e 88% consegue antever a redução de dependência de créditos.

Para o colaborador, este sistema é benéfico porque pode gerir o seu trabalho de forma que possa maximizar os seus rendimentos e sentir um maior controlo sobre as suas finanças. Esta liberdade financeira reduz o stress associado às preocupações financeiras dos colaboradores.

 

Quais as vantagens de oferecer o benefício do salário adiantado? 

Actualmente, é o profissional que escolhe o empregador, e não o contrário, então cada empresa precisa de se diferenciar através de benefícios impactantes que vão além do salário – vemos essa competição com a semana de quatro dias, modelo de trabalho preferencialmente remoto, ou outros incentivos financeiros. Portanto, ter a opção de pagamento flexível pode ser um factor decisivo numa oferta de emprego.

Do ponto de vista do colaborador, a disponibilidade de adiantamentos faz a diferença, pois permite-lhe ter a confiança de que, numa situação de emergência, a sua empresa está preparada para o apoiar. Isso reduz as suas preocupações e faz com que se sinta melhor no seu local de trabalho. Por isso, é uma ferramenta de atracção e retenção de talento para as empresas.

Do ponto de vista das empresas, a oferta de serviços da Paynest será uma mais-valia para a empresa, que será vista como pioneira na oferta deste tipo de benefício e, portanto, mais atractiva aos olhos de quem procura emprego.

Além disso, esta solução poderá também melhorar os níveis de retenção, já que permite dar resposta aos 78% de colaboradores que demonstram estar dispostos a trocar de empresa em troca de mais benefícios monetários, e para a produtividade, pois há um alívio da preocupação com as questões financeiras, que cria barreiras na performance do profissional.

Para quem trabalha por turnos, também será previsível um aumento do número de turnos por colaborador, uma vez que este modelo salarial mais flexível lhes dá maior controlo sobre o que podem receber.

 

De que forma a Paynest pretende combater o endividamento dos trabalhadores?

A nossa missão é acabar com os microcréditos a que se recorre quando há imprevistos ou despesas de última hora que não podem esperar pelo fim do mês para serem cobertas. Tomemos o exemplo de um colaborador que receba 1000€ líquidos mensais e não tenha grandes poupanças. Se tiver problemas com o carro e necessitar de cobrir a despesa do seu arranjo, uma solução como a Paynest pode evitar o recurso ao crédito com juros acima de 20%.

 

E de que forma promove a literacia financeira?

A Paynest agrupa dois tipos de serviços: avanços salariais e educação financeira. Assim, além do adiantamento, o colaborador dispõe gratuitamente, através da app, de diversos conteúdos e coaches especializados que ajudam a entender como se pode evitar estas situações e poupar para o futuro. Os conteúdos de literacia financeira são personalizados consoante o conhecimento do utilizador e aquilo que procura aprender, sendo avaliada a sua evolução e aumentando o grau de expertise dos conteúdos a par disso.

Adicionalmente, dispõe de apoio personalizado, individualizado e confidencial de coaches financeiros, que podem responder às questões de cada colaborador, através de um chat. Estes coaches têm a personalidade certa e uma grande experiência neste campo das finanças e tem também a componente pedagógica que é esperada para ajudar todo o tipo de colaboradores com diferentes conhecimentos sobre finanças. Mantemos sempre uma postura de imparcialidade, uma vez que não recomendamos qualquer produto financeiro ou bancos.

 

Quais considera ser os maiores desafios/barreiras a ambos os temas em Portugal?

Normalizar o adiantamento salarial poderá ser desafiante, uma vez que, apesar de ser uma realidade já em algumas empresas, o processo ainda é realizado de forma pontual, com critérios pouco transparentes para o trabalhador, sendo bastante desconfortável para este.

Adicionalmente, a educação das finanças pessoais deve ir além dos incentivos externos. As próprias pessoas devem procurar desenvolver-se neste sentido. Estamos cientes que estamos a entrar num mercado onde a sua população possui uma baixa literacia financeira e fracos hábitos de leitura, sendo desafiante incentivar à leitura de artigos educativos.

Outro desafio é a capacidade financeira dos portugueses que pode dificultar a adesão a boas práticas de poupança e investimento. Contudo, é também o que torna tão necessária a promoção da literacia financeira.

O aumento da inflação e diminuição do poder de compra, devido aos salários que não acompanham o aumento dos preços dos cabazes, que aumentaram 15% em 11 meses, enfatizam a dificuldade que os portugueses já sentiam, e agora sentem ainda mais, em gerir as suas finanças. Neste sentido, disponibilizamos conteúdos gratuitamente na app com dicas de como poupar, reduzir os custos e controlar as despesas ao longo do mês.

 

Que soluções poderiam melhorar esta realidade?

Portugal precisa de mudar esta realidade através da literacia financeira e esta deve ser incutida na formação das pessoas desde cedo. A resiliência financeira é o que nos permite ter uma vida estável e evitar o endividamento. Um adulto não deveria começar a sua vida profissional sem ter alguma literacia financeira.

Este tipo de formações acabam por ser dispendiosas para as empresas e inoportunas para o colaborador, pois implicam um compromisso que envolve tempo e implica uma exposição mais pública acerca de problemas que culturalmente as pessoas não gostam de falar.

A Paynest é, por isso, uma solução acessível a todos e que se adapta ao estilo de vida de cada um. É uma solução fácil, rápida, anónima e sempre disponível à distância de um clique, que elimina as barreiras acima mencionadas para que um maior número de pessoas melhore a sua literacia. Esta educação permitirá aos trabalhadores activos anteciparem as suas reformas e garantirem que chegam a esse período com capacidade de manter uma boa qualidade de vida.

Adicionalmente, vemos que os hábitos de consumo evoluíram para uma cultura “on-demand”, queremos algo e o mais rápido possível, o que contrapõe com o recebimento do salário apenas no final do mês. Mas mais do que os hábitos de consumo, trata-se de ter a flexibilidade para reagir a uma emergência sem recorrer a empréstimos.

 

Que objectivos e metas definiram e esperam alcançar no médio-longo prazo?

De momento, estamos em fase de arranque em Portugal e na Grécia, e estamos confiantes de que teremos novidades muito em breve do impacto da Paynest na vida de centenas de colaboradores que conseguirão dar resposta a imprevistos e despesas urgentes, sem a necessidade de recorrer a microcréditos pessoais, enquanto aumentamos a sua literacia e resiliência financeira. Actualmente, contamos com 11 colaboradores em Portugal e Grécia e esperamos fazer crescer a equipa até às 30 pessoas até ao fim de 2023.

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