Elsa Carvalho, CGD: Novas soluções para novos problemas

«No regresso, em Setembro, revigorados pelas férias e pelo Verão, que possam surgir novas soluções e abordagens para novos problemas. E que as soluções, abordagens e acções sejam as verdadeiramente relevantes.»

 

Por Elsa Carvalho, directora Central de Recursos Humanos da Caixa Geral de Depósitos

 

Os números da pandemia são mais do que conhecidos. Provocou, à data, pelo menos, 4,250 milhões de mortos em todo o mundo, entre mais de 200 milhões de casos de infecção, segundo o balanço mais recente da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Em Portugal, desde o início da pandemia [números até Agosto], morreram mais de 17 300 pessoas e foram registados 974 mil casos de infecção. Mas existem muitos mais números para além destes.

No final de Julho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) referia um “impacto prolongado” da pandemia na saúde mental mundial. Desde os confinamentos à ansiedade da contaminação, e terminando nas dificuldades financeiras. A este respeito, o director regional para a Europa da OMS, Hans Kluge, disse: «A pandemia abalou o mundo, fez perder quatro milhões de vidas, destruiu rendimentos, separou famílias e comunidades, fez falir empresas»; «a saúde mental e o bem-estar devem ser entendidos como direitos humanos fundamentais», sublinhou, apelando aos países para repensarem o acesso aos cuidados neste sector.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) reforça que os sinais de uma deterioração geral da saúde mental têm-se multiplicado a nível internacional desde o início da pandemia, particularmente entre a população mais jovem, ao ponto de, em alguns países, os casos de ansiedade e depressão terem mesmo duplicado. A OCDE realça ainda que os problemas afectaram o emprego, a vida social, a educação, a prática de exercício e os serviços de Saúde. E que o impacto das doenças mentais no PIB europeu ronda os 4%, incluindo os custos directos dos tratamentos.

A divulgação pela Sociedade Portuguesa de Saúde Mental e Psiquiatria refere a este propósito que 12% das doenças em todo o mundo são do foro mental, valor que sobe para os 23% nos países desenvolvidos; as perturbações por depressão são a terceira causa (primeira nos países desenvolvidos), estando previsto que passem a ser a primeira causa a nível mundial em 2030.

Em Portugal, mais de um quinto dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica, e cerca de 4% da população adulta apresenta uma perturbação mental grave. De salientar que Portugal é o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa, sendo apenas ultrapassado pela Irlanda do Norte.

A nível físico, dois em cada três portugueses têm peso a mais e o problema parece ter-se agravado durante a pandemia: mais de um quarto da população admite ter engordado e o aumento de peso poderá ter atingido, em média, cinco quilos.

Todos nós sentimos igualmente o impacto social da pandemia. Desde o acentuar e intensificar das desigualdades sociais já perceptíveis nas actuais sociedades, até ao impacto que teve do ponto de vista pessoal pelas restrições impostas ao contacto social. A este respeito não posso deixar de fazer referência à terceira idade e à “solidão em tempos COVID”, onde idosos ficaram retidos em lares e nas suas casas, privados do contacto com os familiares. O impacto nas crianças ainda será matéria de estudo certamente. E é neste contexto que chegamos a Agosto.

Na música, a pausa é um elemento musical e não apenas um silêncio. É uma certa “parte” na música em que nenhuma nota deve ser tocada. A ilustração das pausas é apresentada na partitura da mesma forma que as notas.

Agosto, sendo um mês de férias para muitos, permite-nos que consigamos viver este momento de pausa com a naturalidade com que a pausa é também elemento musical. Que a pausa possa servir de reflexão sobre a saúde, e especificamente sobre a saúde mental.

No regresso, em Setembro, revigorados pelas férias e pelo Verão, que possam surgir novas soluções e abordagens para novos problemas. E que as soluções, abordagens e acções sejam as verdadeiramente relevantes.

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº.128) da Human Resources, nas bancas.

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