Elsa Carvalho, DRH da CGD: «Estamos hoje a escrever a história de amanhã»

Começo esta reflexão lembrando uma frase de Martin Luther King Jr. e que nos pode “guiar” nestes tempos atípicos: «Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.»

 

Por Elsa Carvalho, directora central de Recursos Humanos da Caixa Geral de Depósitos

 

O Barómetro da Human Resources de Fevereiro passado inquiriu um painel de especialistas sobre as tendências para 2020 e os resultados reforçaram a atracção e retenção de talento com o principal desafio a nível da Gestão de Pessoas (59%), seguido pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional (44%) e, em terceiro, a transformação digital (42%).

Iniciámos o ano com uma forte convicção de que 2020 seria um ano que apontava para um mercado dinâmico, com uma baixa taxa de desemprego (em 2019, foi de 6,5%), uma perspectiva optimista do mercado, da evolução da economia e reforço da confiança no consumo. E vários estudos apontavam para uma perspectiva de aposta na contratação.

Mas, em Março, a generalidade dos países europeus viu-se obrigada a implementar fortes restrições à actividade económica perante a escalada no número de casos de infecção pelo novo coronavírus. O flagelo espoletou um choque económico a nível mundial. Com o sector dos serviços praticamente paralisado, milhões de europeus foram atirados para o desemprego ou sujeitos a regimes de lay-off, total ou parcial.

A Comissão Europeia projecta agora uma taxa de desemprego em Portugal de 9,7% em 2020, um agravamento de 3,2 pontos percentuais face à registada em 2019. É, contudo, um cenário mais optimista do que o do Fundo Monetário Internacional (FMI), que anteviu uma taxa de desemprego para Portugal de 13,9% em 2020, no World Economic Outlook, divulgado em meados de Abril.

É esta a realidade actual. A economia está a reabrir, mas prevê-se uma retoma muito lenta.

O Turismo, que sofreu – em particular no período de isolamento social, mas ainda está a sofrer – um impacto negativo tremendo, e as actividades assentes essencialmente na exportação, têxtil e automóvel, estão a ser fortemente penalizadas pela interrupção dos abastecimentos, pelo encerramento de fábricas e pela contracção da procura.

Existem outros sectores, como os associados ao combate à pandemia – cuidados de Saúde, a Logística e o Retalho Alimentar, alguma Indústria Química e Farmacêutica e parte dos serviços de Telecomunicações e de Entretenimento remotos – que adaptaram as soluções e capacidade de resposta às solicitações da procura.

As empresas estão todas a adaptar-se. A rever o seu plano de negócios e de actividades sabendo que retomar a actividade económica é fundamental. Mesmo com alguns sectores a manterem e crescerem a sua actividade, estão, contudo, a ser cautelosos nas contratações.

Um estudo de uma consultora, disponibilizado recentemente, apontava para mais de 70% dos colaboradores das organizações e encontrarem-se a trabalhar remotamente, sendo que 61% das organizações não dispunham de uma política de trabalho remoto. A necessidade permitiu acelerar a jornada que algumas empresas já tinham iniciado, reinventando a forma de trabalhar capitalizando a tecnologia.

São tempos diferentes. São tempos de adaptação. E são tempos em que reforçamos, uma vez mais, a nossa crença de que o colaborador é o centro da mudança. Estamos hoje, com as nossas decisões, a escrever a história de amanhã.

 

Este artigo foi publicado na edição de Julho (nº. 115) da Human Resources.

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