Elsa Carvalho, Egor: «Não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer.»

A frase é do filósofo e pensador chinês Confúcio (551- 479 a.C.), tem mais de dois mil anos, mas traduz um imperativo dos nossos dias. Em épocas de ruptura como a que vivemos, uma compreensão do contexto permite-nos equacionar as questões mais relevantes para encontrarmos as respostas mais efectivas para as realidades com que nos confrontamos.

 

Por Elsa Carvalho, executive Board member e head of consulting services do Grupo Egor

 

Quando analisamos a realidade actual podemos constatar: (i) As actividades ligadas ao Turismo contavam, em 2020, com menos 76 300 colaboradores do que aqueles que tinham em 2019, e as indústrias transformadoras com menos 25 200. Estes sectores têm referido sérias dificuldades em recrutar mão-de-obra para fazer face às necessidades actuais (sendo certo que foram sectores que registaram uma forte contração em período de pandemia); (ii) Com o aumento da necessidade de perfis associados a tecnologia, a escassez de talento nesta área é uma realidade, conduzindo a um aumento dos salários e à competitividade por estes perfis (a nível nacional e internacional). Em alguns sectores, esta escassez produz já ruturas na capacidade das empresas para fazerem face às necessidades dos clientes e para darem uma resposta efectiva.

Na agenda actual dos gestores estão, para além dos temas relacionados com o reflexo da pandemia (e a aceleração que veio originar a nível do work, workplace e workforce), o aumento da inflação e subida dos salários.

Existem reflexões – que já não são novas –, como o imperativo de adequar o sistema de ensino às reais necessidades do mercado de trabalho, apostando igualmente na formação e na atractividade da mão-de-obra de sectores fundamentais à nossa economia, como o Turismo e a Indústria. É evidente a necessidade, principalmente dos sectores que sofreram forte contração em período de pandemia, de terem mão-de-obra disponível para se revitalizarem e enfrentarem uma procura crescente. Operar a uma escala global permite igualmente pensar o talento de forma mais universal, visto que, para parte dos sectores de actividade e funções específicas, o teletrabalho e os modelos de trabalho híbridos não são aplicáveis.

Também a atractividade das empresas em Portugal, nomeadamente a nível salarial e de projecto, constitui um tema relevante para a fixação de jovens com perfis com elevada procura e que escasseiam. Há muito que se refere que a competitividade das empresas portuguesas não poderá passar pelo pagamento de baixos salários – Portugal tem um salário mínimo actual de 705 euros e, em 2021, a remuneração mensal média fixou-se em cerca de 1100 euros –, sendo certo que só com uma forte aposta na tecnologia e inovação conseguimos ter empresas mais competitivas, ambiciosas e a operar em maior escala.

Precisamos, sem dúvida, de capital e talento. E as empresas precisam, cada vez mais, de saber gerir, a par com o capital, o talento, sendo que este não é só o que existe no mercado mas o que existe já dentro das empresas e está, muitas vezes, subaproveitado.

Termino com mais uma citação, de Peter Drucker (1909-2005): «O trabalho mais difícil não é encontrar a resposta correcta, mas fazer a pergunta certa.» Assim, desafio cada gestor a tentar, em primeiro lugar, fazer as perguntas certas para o seu negócio e para a sua actividade. Isto porque, com as perguntas certas, os cenários e as respostas encontradas são mais relevantes.

 

Este artigo foi publicado na edição de Maio (n.º 137) da Human Resources, nas bancas.

Caso prefira ler online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

Ler Mais