Elsa Carvalho, Grupo Egor: Potenciar o “ressignificado” do trabalho

Se existem empresas e gestores que estão a saber aproveitar a aprendizagem trazida pela pandemia para evoluir para novas formas de organização da empresa, dos espaços físicos e do trabalho, outros há que, perante a aproximação de uma onda/tsunami, o tentam conter com as mãos.

 

Por Elsa Carvalho, Executive Board Member e head of Consulting Services do Grupo Egor

 

E aqueles que foram vistos a dançar foram julgados insanos por quem não podia escutar a música.” De tempos a tempos, volto a esta expressão atribuída a Friedrich Nietzsche (1844-1900) Elon Musk, eleito personalidade do ano pela revista Time em 2021, tem sido enormemente criticado pela sua posição quanto ao teletrabalho na Tesla. De salientar que esta posição do empresário norte-americano, referente aos colaboradores do escritório, parece estar relacionada com a equidade a nível fabril – onde os colaboradores não podem desenvolver a sua actividade à distância.

Elon Musk terá enviado, no passado dia 31 de Maio, um email interno aos trabalhadores da fabricante de carros eléctricos (que depois foi divulgado nas redes sociais) intitulado “O trabalho remoto já não é aceitável”, com um ultimato: «Quem quiser fazer trabalho à distância deve estar no escritório por um mínimo (e quero dizer *mínimo*) de 40 horas por semana ou sair da Tesla. Isto é menos do que pedimos aos trabalhadores da fábrica.»

Há muitos anos, uma pessoa com quem trabalhei disse-me: «Quando se trata de pessoas, grande parte das questões são questões de equidade. Em absoluto, parece estar tudo bem, a questão é numa base comparativa e relativa.»

Estamos a adaptarmo-nos. O trabalho numa vertente mais flexível, aproveitando a aprendizagem que a pandemia nos trouxe e as oportunidades do desenvolvimento tecnológico, parece trazer inúmeras vantagens para a gestão e para as pessoas. É certo que requer responsabilidade, responsabilização e novas formas de gestão.

Aparentemente, existem empresas e gestores que estão a saber aproveitar a aprendizagem para evoluir para novas formas de organização da empresa, dos espaços físicos e do trabalho. A comunicação é fundamental para ultrapassar algumas barreiras relacionadas com a equidade.

Tenho por vezes a imagem de que, perante a aproximação de uma onda/tsunami, existem outros gestores que o tentam conter com as mãos. Se a pandemia não nos deu a oportunidade de nos prepararmos, estes são tempos em que o podemos fazer.

Penso que estamos numa era de “ressignificado”. A investigação que tenho feito, a par com inúmeras conversas com profissionais, conduz-me à reflexão de que a pandemia trouxe a muitos uma consciência marcada pelo sentido de finitude e uma aprendizagem de novas formas de ser e estar. É talvez essa consciência que vem potenciar o “ressignificado” do trabalho (a par com os restantes factores já conhecidos e explorados, como o desenvolvimento tecnológico).

Assistimos cada vez mais (e não é um tema de novas gerações) a uma interrogação sobre o propósito do que fazemos e o impacto que o nosso trabalho tem na nossa vida, na sociedade e no mundo.

A forma como o fazemos mais do que nunca adquire relevância – veja-se a importância dada aos temas de ESG (environmental, social and governance). Esta consciência de finitude tornou-se muito presente. Não só a finitude nas nossas próprias vidas, como no planeta. Uma consciência individual e colectiva de que o ser humano não controla tudo.

Que este “ressignificado” nos relembre que existe um bem maior do que o capital: as pessoas. E que, nestes tempos, as soluções encontradas possam ter impacto neste bem maior.

 

Este artigo foi publicado na edição de Junho (n.º 138) da Human Resources, nas bancas.

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