Em 2020 foram destruídos cerca de 100 mil postos de trabalho, 35 mil deles eram desempenhados por mulheres

Em 2020 foram destruídos perto de 100 mil postos de trabalho em Portugal, correspondendo a um recuo anual de 2%. Entre as mulheres, o número de postos de trabalho perdidos foi de cerca de 35 mil. Esta queda interrompe o crescimento que se vinha verificando há seis anos. A conclusão é de um estudo elaborado pelo Gabinete de Estudos Sociais da CGTP, com base em dados do INE.

O estudo indica que os trabalhadores com vínculos precários foram os primeiros a ser despedidos, sendo esta a principal razão para a perda de emprego e para o aumento do desemprego, numa proporção mais elevada que em anos anteriores.

Em 2020, perderam o posto trabalho mais de 136 mil trabalhadores com vínculos precários, 67 mil dos quais mulheres (49% do total), grande parte sem acesso a qualquer prestação de desemprego.

Ainda assim, o trabalho precário aumentou no segundo semestre do ano, embora não retomando o nível anterior à pandemia – devido ao crescimento do falso trabalho independente e de outras formas ainda mais precárias que o contrato a termo (+38%, sendo de 23% o crescimento entre as mulheres trabalhadoras).

O estudo mostra também que no quarto trimestre de 2020 a precariedade medida através dos dados do INE (que subavaliam o seu número real) atingia 710,4 mil trabalhadores, sendo mais de metade mulheres (384 mil).

A precariedade afecta 17,6% do total dos assalariados, sendo sempre superior entre as mulheres trabalhadoras (18,3% face a 16,7% entre os homens) e isto acontece em todas as faixas etárias.

Entre as jovens dos 15 aos 34 anos os vínculos não permanentes ultrapassam os 36%, sendo de 65% entre as menores de 25 anos e perto de 30% no grupo dos 25 aos 34 anos.

O estudo revela que além da instabilidade laboral, com repercussões também na sua vida pessoal e familiar, os vínculos precários têm como consequência salários 20% a 30% mais baixos que os trabalhadores com vínculos permanentes, sendo usados pelo patronato para descer custos salariais e despedir em qualquer altura.

De acordo com o estudo, o ano passado, o desemprego real atingiu quase 600 mil trabalhadores, tendo aumentado em mais de 68 mil face a 2019, principalmente entre os homens, já que as consequências da pandemia no emprego e da falta ou insuficiência de medidas de resposta por parte do Governo se têm feito mais sentir sobre eles.

No entanto, o número de mulheres trabalhadoras desempregadas chegou quase aos 318 mil, correspondendo a mais de metade do total do desemprego real (53%) e tendo crescido 25,5 milhares em relação a 2019 (+9%).

No seu estudo, a CGTP explicou que o desemprego real inclui o desemprego oficial, acrescido dos inactivos disponíveis mas que não procuraram emprego (categoria onde são incluídos milhares de trabalhadores desempregados, devido aos critérios restritivos de classificação usados, e que cresceu fortemente devido aos confinamentos e suspensão da actividade económica) e dos inactivos indisponíveis.

«Juntando os trabalhadores a tempo parcial que estão subempregados porque trabalham menos horas do que desejam, eram cerca de 752 milhares os trabalhadores desempregados ou subocupados em 2020, correspondendo a uma taxa de subutilização do trabalho de 13,9%, o dobro da taxa de desemprego oficial e também mais alta que em 2019», refere o documento.

Os jovens e as mulheres são os que têm as percentagens mais elevadas, com taxas de subutilização do trabalho de 39,2% e 15,4%, respectivamente.

O mesmo estudo mostra que a maioria das trabalhadoras desempregadas não tem acesso a prestações de desemprego. Pouco mais de um terço o consegue, sendo os valores auferidos, em média, muito baixos, de apenas 503 euros em 2020, significativamente abaixo do limiar da pobreza (540 euros em 2019).

Em 2020, 20,2% das mulheres em Portugal estavam em situação de pobreza ou exclusão social, um valor superior ao dos homens (19,4%), mas em diminuição face a 2015 quando atingiu os 28,1%.

O risco de pobreza era particularmente elevado entre as trabalhadoras desempregadas, atingindo 37,6% em 2019 mesmo após as transferências sociais.

Ao contrário do que acontece com outros indicadores relativos à pobreza, os homens desempregados eram mais atingidos pela pobreza do que as mulheres (44,5%), também aqui se verificando um aumento face a anos anteriores.

As mulheres reformadas tinham um risco de pobreza de 17,2%, indicador que atingiu o valor mais elevado desde 2015, e as trabalhadoras de 8,5%, demonstrando que há trabalhadoras que empobrecem a trabalhar devido aos salários muito baixos que auferem.

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