Empresas europeias esperam aumento significativo nos atrasos de pagamento

As empresas esperam que os pagamentos em atraso «cresçam significativamente» nos próximos meses devido ao aumento da inflação e das taxas de juro, segundo o estudo European Payment Report (EPR), divulgado pela Intrum.

 

Realizada junto de mais de 11.000 empresas de 15 sectores da indústria e 29 países europeus, entre as quais 333 companhias portuguesas, a 24.ª edição do EPR revela ainda que cerca de oito em cada 10 empresas apontam o fortalecimento da sua liquidez e fluxo de capital como uma das principais prioridades durante o ano corrente.

«A Europa talvez esteja a atravessar um dos períodos mais agitados e repleto de desafios. Hoje, as empresas enfrentam uma disrupção e incerteza sem precedentes, o que aumenta a pressão sobre as empresas que ainda estão a tentar recuperar do impacto dos anos covid», afirma o presidente e presidente executivo (CEO) da Intrum, citado num comunicado.

Segundo Anders Engdahl, «num contexto de inflação, com o incremento das taxas de juro e regulamentação, as empresas esperam um aumento nos atrasos de pagamento, bem como maiores barreiras para o crescimento durante o resto de 2022».

«Garantir um fluxo de caixa sólido é uma das prioridades máximas para a maioria das empresas inquiridas», acrescenta.

Numa altura em que, por toda a Europa, o crescimento está a abrandar e a disrupção da cadeia de fornecimento e o aumento dos custos da energia conduzem a um ritmo de inflação que não se registava há décadas, seis em cada 10 empresas estão «preocupadas que o risco nos atrasos de pagamento este ano aumente, em grande parte devido à inflação, ao aumento da regulamentação e ao aumento das taxas de juro».

A maioria das empresas europeias (58%) admite não ter experiência de como gerir a inflação e mais de metade diz que isso as impede de fazer crescer o negócio (51%), de satisfazer as exigências salariais (55%) e de pagar aos fornecedores a tempo (58%).

Como resultado, seis em cada 10 empresas estão a ser mais cautelosas nos seus planos de empréstimos e gastos, pois esperam que as taxas de juro aumentem mais de uma vez durante os próximos 12 meses.

«As preocupações aumentam em toda a Europa à medida que a inflação está a acelerar e o crescimento está a estagnar. Se esta tendência não for quebrada, poderemos estar perante um período de estagflação – estagnação da produção económica combinada com uma inflação elevada», aponta o trabalho.

Pela positiva, verifica-se que «os mercados de trabalho em toda a Europa continuaram a fortalecer-se este ano, embora as baixas taxas de desemprego possam gerar uma maior pressão ascendente sobre os salários», nota a economista sénior da Intrum, Anna Zabrodzka-Averianov.

Face ao actual cenário, as empresas «esperam que o seu fluxo de caixa seja afectado significativamente», mas admitem não ter «a flexibilidade e os conhecimentos necessários para gerir o impacto».

Neste sentido, «a gestão da liquidez, o fluxo de caixa e o risco de crédito constituem as principais prioridades estratégicas, já que as empresas procuram assegurar uma posição financeira sólida», destaca a Intrum.

Assim, oito em cada 10 empresas europeias afirmam que «reforçar a liquidez e o fluxo de caixa é uma prioridade estratégica para este ano» e uma percentagem semelhante menciona como principais prioridades a melhoria da gestão da dívida, bem como a gestão do crédito de risco.

Paralelamente, metade das empresas inquiridas relatam que «estão mais débeis agora do que antes do início da pandemia» e seis em cada 10 dizem que a pandemia as motivou a tornarem-se melhores na gestão dos riscos relacionados com atrasos de pagamento.

Mais de metade (53%) dos inquiridos afirmam que gostariam de melhorar a sua gestão de pagamentos em atraso, mas consideram isto difícil devido à falta de qualificações e recursos internos.

De acordo com a Intrum, «ano após ano as empresas veem cada vez mais os atrasos de pagamento como um obstáculo importante para o crescimento», considerando que estes estão «a dificultar o crescimento das empresas nos países europeus, impedindo o desenvolvimento económico e social da economia em geral».

«Quatro em cada 10 empresas dizem que os pagamentos tardios estão a bloquear o crescimento da empresa», precisa o estudo, acrescentando que «duas em cada três empresas dizem que pagamentos mais rápidos por parte dos seus clientes as ajudaria a expandirem as suas operações de produtos e serviços, enquanto uma em cada duas dizem que as apoiaria a crescer através da contratação de mais empregados».

O inquérito aponta ainda que «as empresas têm, finalmente, esperança de que a pandemia esteja a chegar ao fim.»: «Cerca de duas em cada três (64%) acreditam que a COVID-19 deixará de ter impacto no seu país dentro de um ano, criando novas oportunidades de crescimento», refere.

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