Entrevista a Luís Urmal Carrasqueira, director-geral da SAP Portugal: «Uma empresa tem de ser mais do que um “dispensador” de salário»

As expectativas e a exigência dos profissionais mudaram bastante nos últimos anos,estão em constante mutação e exigem uma gestão mais sensível e com espírito crítico. Luís Urmal Carrasqueira é quem o afirma, com a certeza de que «uma empresa tem de ser vista como mais do que um mero “dispensador” de salário».

 

Por Ana Leonor Martins

 

A SAP está a celebrar o 50.º aniversário a nível global e encontra-se há cerca de três décadas em Portugal, país onde tem feitos investimentos significativos e com uma equipa constituída por cerca de 560 profissionais. Luís Urmal Carrasqueira, que está à frente dos destinos da empresa no nosso país desde Julho de 2017, destaca que «o mundo laboral apresenta alterações organizacionais como há muito não se verificava », mas confia que as suas pessoas querem desenvolver o melhor que têm para dar na SAP, empresa onde desejam crescer profissionalmente e atingir os seus objectivos de vida. «Integrar profissionalmente a SAP é como entrar num mundo sem barreiras intransponíveis, e não há melhor exemplo disso que o percurso do nosso actual CEO, Christian Klein, que entrou na SAP para cumprir um estágio», conta.

 

Em termos de contexto, o que identifica como principais evoluções, principalmente desde que começou o seu percurso na SAP, em 1996. Os desafios são hoje muito diferentes?
Antes de mais, os ciclos de inovação tecnológica são hoje muito mais curtos. O que, como consequência, faz com que os ciclos de transformação dos negócios e dos mercados sejam igualmente mais frequentes, de maior intensidade e exigência. Para lá dos fenómenos de macroeconomia que têm acontecido, os desafios de hoje prendem-se essencialmente com a continuidade da antecipação das necessidades “massivas” do mercado, com a adaptação aos modelos de negócio individuais de cada cliente e respectiva criação de valor.

 

Não fez o percurso “de seguida na SAP”, mas é director-geral há já cinco anos. Neste período, quais têm sido os principais desafios e qual o impacto que a pandemia teve neles? Pode dizer-se que há um pré e um pós-COVID-19?
Há, sem dúvida, um pré e um pós-COVID- 19. Ou não tivesse sido a pandemia um acontecimento único e prolongado, um momento-chave para as pessoas, empresas e economia. E numa altura em que os mercados previam entrar num ciclo de crescimento, surge o conflito que baralhou o cenário geopolítico, com inevitáveis consequências negativas para a economia, das quais a inflação é o impacto mais imediato e, para já, mais sentido por todos.

No entanto, também consideramos que este é o tempo da eclosão de oportunidades. Desde logo, o aumento da procura de bens que, com a instabilidade das cadeias de abastecimento, têm de encontrar alternativas mais próximas. Portugal, face à sua dimensão e maturidade, que nunca serão uma ameaça, será, sim, uma boa alternativa dentro deste novo contexto.

 

Prova de que mesmo nos cenários mais difíceis surgem oportunidades, é que, e em plena pandemia, a SAP abriu em Portugal um departamento de Tecnologia e Inovação. Em 2005, tinha aberto um Centro de Desenvolvimento Global para o Sector Público e, em 2012, um centro de serviços de consultoria para os clientes SAP na EMEA. O que justifica este investimento contínuo no nosso país?
Demonstra a confiança da SAP SE no conhecimento e qualidade dos recursos nacionais, um investimento alemão em território nacional, muito bem maturado.

Ocupamos uma posição de relevo em Portugal, fruto da nossa capacidade de entrega das mais variadas soluções e inovadores processos de negócio, com resultados amplamente reconhecidos e replicados a nível mundial.

As características endógenas de Portugal são mais um garante da nossa atractividade. Mais que nos encontrarmos na ponta oeste da Europa, temos de nos ver como a porta de entrada do Atlântico, capazes de receber e distribuir os mais variados movimentos oriundos da América e África, também por força da nossa proximidade aos principais players europeus.

Por fim, mas não menos importante, a tranquilidade social do País e a oferta de modernas infra-estruturas de vias rodoviárias e serviços de telecomunicações também são aspectos cruciais no momento de decidir onde implementar centros deste cariz.

 

Tive oportunidade de o entrevistar em 2019, e na altura partilhou que a sua prioridade quando assumiu funções tinha sido as pessoas, conhecer a equipa e transmitir os valores da empresa. Pode dizer-se que essa é uma missão cumprida? Ou esse, em específico, é um trabalho dos líderes que nunca acaba?
É um trabalho que nunca deve acabar. Os valores e a missão de qualquer empresa fazem parte do ADN das empresas, são aspectos decisivos para a sua identidade. E é imperativo que as suas pessoas se sintam devidamente imbuídos desse espírito. Mais ainda no ambiente geopolítico em que vivemos, cuja transformação trará elevados impactos económicos e sociais, e onde o mundo laboral apresenta alterações organizacionais como há muito não se verificava.

No caso concreto da SAP Portugal, e por darmos aos Recursos Humanos uma posição decisiva para o sucesso da organização, sinto entre as nossas cerca de 560 pessoas um elevado espírito de equipa e sentimento de pertença e motivação.

 

Acha que hoje, numa realidade de trabalho híbrido – e no vosso caso, com uma grande componente de remoto – é um “trabalho” mais difícil, conhecer as pessoas, transmitir valores, manter a cultura organizacional…?
Importa salientar que antes de se estabelecer o teletrabalho como um conceito generalizado um pouco por todo o mundo e de forma transversal aos sectores de actividade terciária, já a SAP o permitia aos seus colaboradores.

Posto isto, é inevitavelmente mais difícil em especial para quem entrou na empresa em pleno período de pandemia e confinamentos. Mas verificamos em simultâneo uma maior predisposição dessas pessoas para se adaptarem de forma mais imediata à organização e às suas idiossincrasias, algo que acaba por compensar as dificuldades inerentes a uma era onde a flexibilidade laboral e o teletrabalho fomentaram novos conceitos de interacção dos profissionais com os seus colegas e chefias; e onde a percepção de felicidade está mais associada a uma maior atenção à vida privada de cada um.

Tivemos de encontrar soluções que respondessem ao risco de perda da cultura da empresa, ao afastamento dos colegas e à menor predisposição para o trabalho em equipa. E conseguimos fazê-lo, através do desenvolvimento de momentos, canais e espaços próprios que, face uma menor vivência com o dia-a-dia empresa, criassem contactos e vivências mais intensas e impactantes.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Outubro (nº.142) da Human Resources, nas bancas.

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