Entrevista a Zuzana Fabianová, Wondercom: Crescer com propósito e através das pessoas

Zuzana Fabianová, natural da Eslováquia, chegou a Portugal em busca não apenas de um futuro, mas de criar algo que permitisse fazer a diferença, que lhe desse propósito. E esse algo foi a Wondercom. Cresceu o negócio e cresceu uma líder que aprendeu que «liderar não é saber tudo, é ouvir, confiar e fazer crescer os outros».

POR Ana Leonor Martins | FOTOS Nuno Carrancho

 

Tudo começou na Expo 98 e, no ano seguinte, Zuzana Fabianová estava a criar a Wondercom. Tinha poucos recursos, mas «uma enorme vontade de fazer acontecer». Hoje, pode orgulhar-se de liderar uma empresa com um volume de negócios no valor total de cerca de 41,6 milhões de euros e 600 colaboradores internos. Mas, mais do que alcançar números, quer «deixar um legado de confiança e de pessoas orgulhosas por fazerem parte desta história». Tem sido um caminho – não planeado à partida – «de trabalho, aprendizagem e gratidão», sempre guiado «pela convicção, pela curiosidade e pela crença de que a tecnologia só faz sentido
quando melhora a vida das pessoas». E nessas pessoas estão incluídas as suas, porque são elas «a alma da Wondercom».

Veio para Portugal em 1997 à procura de um futuro melhor do que tinha na sua terra Natal, a Eslováquia. Porquê Portugal?

Vim para cá à procura de um futuro, sim. Não sabia exactamente qual seria, mas sabia que queria construir algo meu, algo que me desse propósito. Não trazia certezas, apenas a vontade e o desejo de criar uma vida com significado.

Portugal tornou-se o lugar onde encontrei oportunidades, desafios e pessoas que me fizeram crescer. Hoje percebo que o que procurava não era apenas um futuro, era um caminho que me permitisse fazer a diferença. Foi precisamente isso que encontrei aqui.

Mas tinha alguma ligação ao País?

Portugal surgiu quase por acaso – conheci um português que me trouxe até cá –, mas chamou-me a atenção pela forma acolhedora como que me recebeu. Gostei da cultura, da maneira de viver, e senti que poderia recomeçar aqui. Não escondo que os primeiros tempos foram desafiantes, mas foram também muito enriquecedores.

Com o tempo, fui encontrando o meu caminho, e hoje posso dizer que Portugal se tornou a minha casa, pois é o país onde cresci, tanto a nível pessoal como profissional.

O que foi mais difícil, na adaptação?

A barreira da língua e aquela sensação de estar a recomeçar do zero, sem rede de apoio. Foram tempos de muita incerteza e solidão, mas também de grande crescimento pessoal. Aprendi a ser resiliente, paciente e a acreditar que o esforço e a dedicação acabam sempre por dar frutos. Com o tempo, percebi que esses desafios foram o que mais me fortaleceu.

E o que mais a marcou, pela positiva, nos primeiros tempos?

Sem dúvida, o acolhimento das pessoas. Fiquei surpreendida com a gentileza, a empatia e a abertura com que fui recebida. Portugal deu-me espaço para começar de novo, para aprender e crescer. Foi essa proximidade humana que me fez ter a certeza, muito cedo, de que estava no lugar certo para construir não apenas a minha carreira, mas a minha ligação profunda ao país Portugal e à cultura. Em muitos aspectos, já a sinto como minha.

Mas existirão muitas diferenças… Como compara as duas realidades? Em que é que os dois países são mais diferentes?

A Eslováquia e Portugal são países diferentes, mas ambos fazem parte de quem sou. A Eslováquia deu-me as raízes – a disciplina, o rigor, a persistência – valores muito presentes na minha forma de trabalhar e de liderar. Portugal deu-me as asas – a capacidade de me adaptar, de ouvir, de valorizar as pessoas e de viver o trabalho com emoção e proximidade.

Na Eslováquia, as pessoas tendem a ser mais reservadas, com um foco muito forte na eficiência e na organização. Em Portugal, encontrei um ambiente mais caloroso e relacional, onde as decisões passam tanto pela razão como pelo coração. Essa diferença ensinou-me que o verdadeiro equilíbrio está em unir a racionalidade e a flexibilidade.

Hoje sinto que trago o melhor dos dois mundos. A exigência e a determinação que vêm das minhas origens, e
a paixão e a criatividade que encontrei em Portugal. É essa combinação que, acredito, me define como líder, e que também se reflecte na forma como a Wondercom trabalha: com ambição, mas sempre com alma.

Como é que chega a CEO da Wondercom?

Tudo começou na Expo 98, onde trabalhei como hospedeira no stand da Eslováquia. Foi a minha primeira experiência em Portugal, um momento simples, mas marcante, que me ensinou o valor das oportunidades e da coragem de começar.

Pouco tempo depois, surgiu a possibilidade de dar vida à Wondercom, um projecto nascido da determinação e da vontade de fazer diferente, e que só foi possível graças às empresas que, desde o início, acreditaram em nós. A Siemens foi a primeira a abrir-nos as portas, uma parceria que nos deu credibilidade, confiança e o impulso necessário para crescer. E hoje, quase 27 anos depois, continuamos a crescer com o mesmo espírito de dedicação, inovação e proximidade que sempre nos guiou.

O nosso caminho tem sido feito de trabalho, aprendizagem e gratidão.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Outubro (nº. 178) da Human Resources.

Disponível nas bancas e online, na versão em papel e na versão digital.

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